(Foto: Divulgação/Walt Disney Pictures)
O filme fica preso entre dois mundos: o desejo de ser original e a obrigação de satisfazer o saudosismo do público
Quinze anos depois de O Legado (2010), a Disney decidiu revisitar o mundo digital com Tron: Ares. A ideia era trazer uma nova geração para dentro da franquia, com uma trama inédita e um protagonista totalmente diferente — interpretado por Jared Leto. No entanto, a tentativa de se afastar da nostalgia acabou custando caro: o filme perde justamente aquilo que tornava a saga tão fascinante.
Em vez de mergulhar no lado filosófico e visualmente deslumbrante que marcou os dois primeiros longas, Tron: Ares tenta se reinventar a qualquer custo. A trama apresenta um programa de computador que busca existir permanentemente no mundo real, mas tropeça ao se dividir entre ser uma história nova e agradar os fãs antigos. No fim, não faz nenhuma das duas coisas direito.
Embora o filme tenha conexões claras com os anteriores, essas ligações soam forçadas e desnecessárias. O retorno de Jeff Bridges em uma rápida participação especial é o melhor exemplo disso — um aceno gratuito que não acrescenta muito à história. Kevin Flynn, o ícone da franquia, é citado a todo momento, mas poderia facilmente ter ficado de fora sem prejudicar a trama.
O maior problema é que Tron: Ares não confia no próprio potencial. O roteiro, assinado por Jesse Wigutow e David DiGilio, parece temer abandonar o legado e explorar novos caminhos. O resultado é um filme preso entre dois mundos: o desejo de ser original e a obrigação de satisfazer o saudosismo do público.
No entanto, Tron: Ares alcançou uma nota maior do que Legado. O novo filme com Jared Leto soma 55% no Rotten Tomatoes, enquanto a produção de 2010 estacionou com 51% no site especializado.
Visualmente, o longa dirigido por Joachim Rønning é competente, mas sem a ousadia que consagrou Tron: O Legado. A trilha sonora, outro elemento marcante da franquia, também não empolga como as batidas de Daft Punk em 2010.
Mesmo com uma boa atuação de Jared Leto e a presença magnética de Greta Lee como Eve Kim, o novo capítulo não alcança o impacto dos anteriores. A tentativa de equilibrar fan service e novidade torna o filme indeciso e sem personalidade.
No fim, Tron: Ares parece mais um reboot tímido do que uma sequência digna. Ao tentar fugir da nostalgia, o filme acaba apagando a própria identidade — e deixa claro que, às vezes, é melhor aceitar o passado do que tentar reescrevê-lo.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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