Galeão espanhol San José, uma embarcação lendária que afundou em 1708 na costa da Colômbia
Pesquisa recente utilizou veículos subaquáticos operados remotamente.
Um novo estudo, publicado nesta semana pela revista britânica Antiquity, da Universidade de Cambridge, apresenta detalhes sobre as moedas de ouro encontradas ao redor do que é conhecido como o “naufrágio mais valioso do mundo”. Trata-se do galeão espanhol San José, uma embarcação lendária que afundou em 1708 na costa da Colômbia, perto da cidade de Cartagena. Descoberto pelo governo colombiano em 2015, o San José é apelidado de “Santo Graal dos naufrágios”, pois carregava um tesouro estimado em até US$ 17 bilhões (R$ 94 bilhões).
Acredita-se que o navio transportava aproximadamente 200 toneladas de ouro, prata e pedras preciosas brutas, incluindo arcas cheias de esmeraldas, quando foi atacado por navios de guerra britânicos em 8 de junho de 1708.
O naufrágio ocorreu durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Embora relatos espanhóis sugiram que o galeão explodiu devido à detonação de sua própria pólvora, documentos britânicos indicam o contrário. De qualquer forma, o San José afundou, levando consigo a maioria dos cerca de 600 tripulantes a bordo.
A pesquisa recente, realizada por cientistas da marinha colombiana e outras autoridades, utilizou veículos subaquáticos operados remotamente (ROVs) em expedições realizadas em 2021 e 2022. As imagens de alta definição capturaram dezenas de moedas de ouro irregulares, conhecidas como “cobs” em inglês ou “macuquinas” em espanhol, espalhadas pelo local do naufrágio, que jaz a cerca de 600 metros de profundidade. O número exato de moedas é incerto devido à natureza dinâmica do sítio.
Essas moedas, que serviram como principal moeda nas Américas durante mais de dois séculos, foram analisadas através de fotogrametria para criar reconstruções tridimensionais. As imagens dos ROVs revelaram desenhos intricados: de um lado, uma variação da Cruz de Jerusalém (uma cruz grande cercada por quatro cruzes menores) e um escudo decorado com castelos e leões. No verso, aparecem as “Colunas Coroadas de Hércules acima das ondas do mar”. O design das ondas é uma característica única da Casa da Moeda de Lima, no Peru.
Algumas moedas também exibem marcas distintivas, como a letra “L” (indicando Lima, o local da casa da moeda), o número “8” (para a denominação em escudos, o maior valor da época), e a marca “H” de Francisco de Hurtado, o chefe ensaiador em 1707. A sigla “P. V. A.”, que significa “Plus Ultra” ou “Mais Além” em latim, simbolizando a expansão da monarquia espanhola no Atlântico, também foi revelada. A data de cunhagem, 1707, também é visível. As moedas têm um diâmetro médio de 32,5 milímetros (cerca de 1,3 polegadas) e pesam aproximadamente 27 gramas (cerca de 1 onça).
Moedas de ouro analisadas por cientistas (Foto: Reprodução/Antiquity)
A análise dessas características, aliada ao cruzamento com registros coloniais, confirma que as moedas e os destroços próximos são, de fato, do galeão San José, que afundou em 1708. As moedas estabelecem que o naufrágio ocorreu após 1707, o que, junto com outras evidências como porcelana chinesa e inscrições em canhões datadas de 1665, sugere que a embarcação afundou no início do século XVIII. O San José, que comandava a lendária Frota de Tierra Firme, detinha o monopólio exclusivo do transporte de tesouros reais da América do Sul para a Península Ibérica. Essas moedas provavelmente faziam parte do tesouro real despachado do Peru para a Espanha.
Apesar da emoção da descoberta e da identificação, o tesouro do San José é objeto de intensas disputas legais sobre quem tem o direito de recuperá-lo. O governo colombiano, que declarou o local do naufrágio uma “área arqueológica protegida” em maio de 2024, planeja resgatar artefatos para um museu dedicado.
No entanto, a Espanha reivindica o naufrágio e todo o seu tesouro, baseada em uma convenção internacional da Lei do Mar que afirma que naufrágios de embarcações navais pertencem à nação original. A Colômbia não ratificou essa convenção, e críticos argumentam que a provisão se destina a proteger tecnologias modernas de navios de guerra, não naufrágios centenários de tesouros. Além disso, a empresa de salvamento norte-americana Sea Search Armada (SSA) alega ter descoberto o naufrágio na década de 1980 e exige cerca de US$ 10 bilhões (R$ 55 bilhões) do tesouro, uma reivindicação que o governo colombiano contesta.
Por enquanto, a fase inicial do projeto, que é financiado por diversos ministérios e instituições colombianas, foca em levantamentos não invasivos. Não há planos imediatos para a recuperação ou escavação de objetos até que todo o sítio esteja completamente caracterizado.
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Vinícius Andrade
Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local.
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