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Daphne Bozaski na série As Five

Victor Pollak/TV Globo

JOGO ABERTO

De fama a pandemia, Daphne Bozaski aprende que a vida não tem manual

Em entrevista exclusiva, a atriz de As Five fala sobre a dificuldade de deixar o filho pequeno para gravar, expectativa para o Emmy e mais

Luciano Guaraldo

Daphne Bozaski tinha 11 anos quando começou a fazer teatro em Curitiba, mas ficou famosa “do dia para a noite” aos 24, ao ser escalada para viver a Benê de Malhação: Viva a Diferença (2017). Mãe de Caetano, que completa quatro anos em dezembro, a atriz bolou toda uma estratégia para não deixar o filho desamparado durante as gravações da novela Nos Tempos do Imperador (2021). A pandemia chegou de surpresa e a forçou a mudar tudo. Agora, aos 30, ela aprendeu a lição: “Não adianta tentar planejar todos os seus passos, porque a vida não tem manual”.

“Fiz o teste para a novela quando o Caetano tinha um mês, era para ter rolado antes mesmo de As Five. Mas era uma produção muito grande, de época, então a Globo passou a série na frente. Eu estava na expectativa de me verem com uma personagem diferente da Benê. Tinha contratado babá para ficar com o meu filho em São Paulo, e eu ia ficar indo e voltando do Rio de Janeiro. No dia em que eu ia iniciar a preparação, começou a quarentena e tudo parou. Foi aquela frustração, depois de tanta expectativa”, lembra a atriz em conversa exclusiva com a Tangerina.

Inicialmente prevista para 30 de março de 2020, Nos Tempos do Imperador só estreou em 9 de agosto do ano seguinte –mais de 16 meses depois. E, mesmo com tanta espera, as gravações ainda ocorreram no auge da pandemia. “Não tinha vacina na época, era tudo muito difícil. Como era uma novela de época, dispensei a maquiagem e só fazia o cabelo, mas precisava de ajuda para colocar o figurino. Não podia dividir camarim, os encontros eram muito limitados. A gente ensaiava de máscara, face shield, foi muito complicado. Nada se compara à nossa liberdade de viver, de existir, de trocar. O ser humano precisa disso.”

Tanto esforço foi recompensado com a indicação da trama ao Emmy Internacional de melhor telenovela –a premiação acontece em 21 de novembro. Daphne é pé-quente: Viva a Diferença venceu o Emmy Kids de melhor série em 2018. “Essa indicação é muito importante, porque é uma novela que, apesar de ser uma obra de ficção, aborda alguns pontos reais da história do Brasil. Poder levar isso para o resto do mundo, ainda mais com um elenco de tanto peso, Selton Mello, Mariana Ximenes, Leticia Sabatella, Alexandre Nero, tudo isso conta muito”, aponta Daphne.

Em meio a gravações intensas e a um isolamento enlouquecedor, Daphne ainda precisou entender como era o processo de ser mãe durante uma pandemia. “Eu me pergunto até hoje como eu e o Gustavo [Araújo, seu marido] conseguimos. Aliás, ter um filho é uma coisa louca sempre, independentemente da Covid. Logo que chegamos da maternidade, eu entrei na minha casa esperando um manual pronto, mas não tinha nenhum. Estamos aprendendo conforme fazemos, e cada trabalho é um novo aprendizado.”

“Cada fase fica mais difícil, esse negócio de que vai melhorando com o tempo, se existe mesmo, eu nunca vi (risos). Nós tentamos sempre pensar no que é melhor pro Caetano, mas eu falo que às vezes precisamos pensar no que é melhor para os pais também. Não dá para evitar todos os conflitos, o importante é mostrar que estamos sempre com ele. Quando a mamãe não está, o papai fica com ele; quando o Gustavo não pode, eu estou lá.”

A atriz ainda entrega que, apesar de Gustavo ser um pai mais do que presente em todas as etapas, ela às vezes é tomada pela culpa da ausência. “É óbvio que eu me cobro demais, enquanto mãe e mulher, me culpo por não estar presente. Eu sei que o Caetano está bem, e que se eu não for trabalhar, não vou ficar feliz em casa. Mas existe essa culpa, essa coisa de querer recompensar, que é algo que eu trato sempre na terapia. O filho precisa entender que os pais às vezes vão estar ausentes, mas eu trago um valor da presença e do dinheiro também. Explico que eu preciso me ausentar para poder comprar as coisas de que ele gosta. Assim ele entende que nós não estamos abandonando ele, que faz parte da vida”, justifica Daphne.

Com três anos e dez meses, o menino começa a entender que as ausências da mãe são para que ela possa exercer seu ofício de artista. Ele, inclusive, é fã do programa Que Monstro te Mordeu? (2014-2015), que Daphne protagonizou para a TV Cultura. “Antes ele não fazia a conexão de que era eu, mas agora ele aponta a TV e fala: ‘Olha a mamãe Lali'”, conta ela, orgulhosa. “Eu nunca expliquei que ser atriz é isso, mas ele já sabe que é a mamãe na TV.”

Para o futuro, a atriz tem duas temporadas prontas da série As Five, que mostra as aventuras das personagens principais de Malhação: Viva a Diferença já na vida adulta. “De resto, por enquanto, nada fechado. Fiz testes para algumas coisas na TV, mas por causa da pandemia muitos projetos já estavam com escalação fechada, foram adiados e só agora estão acontecendo”, adianta ela.

“E quero voltar ao teatro também. Ninguém vive sem a cultura, as pessoas querem música, filmes, novelas, séries, mas precisamos do teatro também. Nos últimos anos, tudo parou, por causa da pandemia e da falta de incentivo. Tomara que a gente volte a sorrir e a sonhar depois deste domingo [30]”, torce.

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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