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A iraniana especialista em beleza Mahsima Nadim

Reprodução/Instagram

MAHSIMA NADIM

Proibida de mostrar cabelo, iraniana exalta beleza feminina no Brasil

Maquiadora e dançarina é estrela do programa Passaporte Feminino, do Lifetime; à Tangerina, ela relembra dias difíceis em sua terra natal

Luciano Guaraldo

Nascida depois da Revolução Iraniana de 1979, Mahsima Nadim cresceu já sob a opressão do regime islâmico. Com o país governado pelos aiatolás Khomeini e Khamenei, as mulheres se tornaram alvo a ponto de a estudante Mahsa Amini (1999-2022) ter sido morta apenas porque uma mecha de seu cabelo estava à mostra. Para fugir dessa perseguição, Mahsima se mudou para o Brasil –onde, ironicamente, começou a trabalhar como maquiadora e a ressaltar a beleza de outras mulheres que, no Irã, precisariam se esconder com o hijab.

“Na verdade, as mulheres do Irã gostam de beleza, de maquiagem, para a iraniana é muito importante estar arrumada. Tem salões de beleza gigantes, mas os homens não podem ir. É até escrito: ‘Proibida a entrada de homens’. A maquiagem faz parte da nossa cultura, né? Está enraizada na cultura persa, sempre existiu e ninguém vai tirar esse poder que as mulheres de lá têm. O regime coloca muita opressão, já nos roubou muitos direitos, mas não vai conseguir tirar isso também”, aponta Mahsima em conversa com a Tangerina.

“Na cultura persa, uma das mais antigas e ricas do mundo, as mulheres iranianas eram muito respeitadas pelo povo, tinham muito valor, já tivemos até rainha. Agora, infelizmente, temos esse regime islâmico que há 44 anos está acabando com os direitos femininos, está matando as mulheres, todos os dias nós acordamos com notícias horríveis sobre o que eles estão fazendo. Esse regime tem medo das mulheres, da nossa força, por isso coloca tantos limites.”

A iraniana é uma das entrevistadas de Carol Massière no Passaporte Feminino desta segunda-feira (20). No programa do canal Lifetime, dez mulheres de cinco países diferentes (Angola, China, Irã, Bolívia e Portugal) falam sobre as suas culturas e abrem o jogo sobre como foi deixar suas respectivas terras para tentar uma vida nova no Brasil. Para Mahsima, a mudança teve a sensação de liberdade.

“Eu e minha irmã sempre quisemos sair do Irã e ir para a Austrália. Muitas mulheres iranianas vão embora do país por causa das leis e das regras muito rígidas do islamismo. Só que minha irmã casou com um iraniano que já conhecia o Brasil, tinha vindo em 2009. Então, quando decidimos sair de lá, ele sugeriu de virmos para cá. Eu comecei a pesquisar e a estudar o Brasil, porque não tinha muita informação. Viemos em 2012, e eu sei que é um país que ainda tem muito a melhorar, mas é um lugar em que eu posso respirar“, desabafa a maquiadora.

A mudança não foi fácil: formada em administração de empresas no Irã, Mahsima teve que recomeçar do zero porque não conseguiu a revalidação de seu diploma no Brasil. “Foi muito difícil, é outra língua, outra cultura, eu não conhecia ninguém aqui. Tudo o que eu estudei, meu bacharelado [não valia mais]. Parece que você precisa nascer de novo. Foi complicado, mas eu pensei: ‘Tenho que resolver minha vida aqui mesmo’. No Brasil eu consigo falar sobre os meus sonhos, tenho os meus direitos e posso lutar por uma vida melhor. A liberdade é uma coisa que vale mais do que tudo“, valoriza.

Mahsima não exagera ao valorizar sua liberdade, algo que passava longe de sua vida no país onde nasceu. “No Irã, ser mulher é como uma escravidão, os aiatolás acham que são donos das mulheres. Os direitos femininos não existem há 44 anos. Quem faz manifestação já está na cadeia, quem se levanta é estuprada, mulheres que têm sabedoria e não querem mais esses limites são mortas todos os dias. Estamos falando de direitos básicos, de poder escolher a roupa que você vai vestir”, aponta a iraniana.

Assim, não deixa de ser um grito de libertação o fato de Mahsima trabalhar com maquiagem e fazer apresentações de danças típicas da cultura persa no Brasil. “É um alívio poder mexer com essa beleza, com esse poder que as mulheres têm, porque no meu país é tudo proibido. Aliás, é crime, você pode ser morta se quiser mostrar o seu cabelo. Uma coisa básica como mostrar seu corpo torna você uma criminosa! E eu estou aqui fazendo isso, com total liberdade. Todos os dias eu posso criar, fazer coisas diferentes. O Brasil é uma nova chance para mim”, finaliza.

Passaporte Feminino vai ao ar às segundas-feiras, às 21h, no canal pago Lifetime.

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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