Reprodução/TV Globo
O remake de Pantanal na Globo e o seriado mexicano Chaves dão finais distinto para tramas bastante distintas
Estudiosos como Harold Bloom (1930-2019) colocam William Shakespeare (1564-1616) no centro do cânone ocidental e, basicamente, não haveria nada a ser produzido pelos próximos séculos que não voltasse os olhos para a obra do bardo inglês. Até mesmo as novelas. Se Isadora (Larissa Manoela) fez a Ofélia de Hamlet ao se jogar para a morte em um lago de Além da Ilusão, Jove (Jesuita Barbosa) reconta a história de Rei Lear em Pantanal –só que um tanto mais para Chespirito.
O apelido de Roberto Bolaños (1929-2014) curiosamente é uma corruptela do sobrenome do dramaturgo. Um chiste com o fato dele ser um “pequeno Shakespeare” por ter criado seriados como Chapolin (1973-1979) e Chaves (1973-1980). O último, inclusive, divide algumas coincidências com o folhetim de Bruno Luperi.
A novela das nove da Globo registrou um recorde de audiência com a cena em que Levi (Leandro Lima) é devorado por piranhas depois de sequestrar Muda (Bella Campos). E ele não é o único a descansar em paz, ou como diria o Quico (Carlos Villagrán), “descansar em pança”.
Afinal, o pai do garoto também foi engolido por um tubarão e deixou dona Florinda (Florinda Meza) sozinha no mundo com um filho no colo e uma pensão militar. A história é revelada no episódio Recordações, exibido pela primeira vez na televisão mexicana em 1978.
Guta (Julia Dalavia) também tem uma rival de peso no seriado, já que Chiquinha (Maria Antonieta de las Nieves) igualmente é conhecida por suas “palestrinhas”. Ela não aceita o machismo dos amigos e até fala sobre a “liberação da mulher feminina” em O Dia Internacional da Mulher, de 1975.
Trindade (Gabriel Sater) alega ter feito um pacto com o Satanás em Pantanal, mas dona Clotilde (Angelines Fernández) até já teve um cachorro com o nome do sete-peles. Ou um gato branco, em um dos delírios em que Chaves (Roberto Bolaños) imagina ter entrado no covil da Bruxa do 71.
Ari (Claudio Galvan) evita a fadiga ao permanecer sentado para repassar as mensagens que chegam do mundo exterior à fazenda Pantanal. Jaiminho (Raúl Chato Padilla) só não senta em sua bicicleta porque não aprendeu a pilotá-la durante a infância em Tangamandápio.
O próprio Jove divide muito mais do que o protagonismo com Chaves. Eles crescem com uma dúvida muito grande sobre o pai e acabam ambos em situação de barril –literalmente ou metaforicamente, se metendo no meio do pantanal sul-mato-grossense em busca de uma herança.
Daniel Farad
Repórter. Além do Notícias da TV, também se juntou ao Tangerina para combater a mesmice e o escorbuto. Escreve do Rio de Janeiro, onde se sente eternamente em uma novela do Manoel Carlos. Aqui, porém, a gente fala mexerica. Fale com o Daniel: vilela@tangerina.news
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