Rafaela Cassiano/TV Globo
Intérprete de Joy na novela do Globoplay, Yara Charry fala sobre representatividade e o segredo de sua personagem em entrevista exclusiva
Depois de ser criticado por exibir uma Bahia sem negros em Segundo Sol (2018), o autor João Emanuel Carneiro corrigiu seu deslize em Todas as Flores. Na novela do Globoplay, destacam-se personagens como Judite (Mariana Nunes), Mauritânia (Thalita Carauta) e Chininha (Micheli Machado). Mas chama a atenção também o núcleo rico de Joy Martínez (Yara Charry), que tem pai branco e mãe negra. “Pretos podem e devem fazer todo tipo de papel: o rico, o bonzinho, o pobre e o vilão”, lista a atriz.
“Sinto muita honra de representar esse papel, porque não tive nada parecido na minha infância. Os poucos personagens pretos eram de núcleos mais pobres. O João Emanuel ter criado a Joy em uma família rica, com pais misturados, é uma imagem muito importante para o público, para as meninas que veem se identificarem. Eu não cresci com isso e ficava me perguntando. Esse papel abre possibilidades não só para outros atores, mas para todo o público”, valoriza Yara em conversa exclusiva com a Tangerina. “Eu tenho uma prima de seis anos que me viu na TV e falou: ‘A Yara está no núcleo rico da novela, as roupas dela são lindas e os penteados também’.”
A estrela de 25 anos sabe bem o peso da representatividade na mídia. “Eu vi Pantera Negra 2 e achei lindo ter tantos personagens negros naquele núcleo maravilhoso de Wakanda. Vem aí A Pequena Sereia também, e por que ela não pode ser uma preta com tranças? Ela pode ser qualquer coisa! Quando eu soube da Ariel, fiquei muito animada, ansiosa para assistir, pedi até para fazer a dublagem (risos). Isso está avançando aos pouquinhos no audiovisual, mas ainda tem muito a melhorar.”
Yara com Cassio Gabus Mendes, que vive seu pai em Todas as Flores
Estevam Avellar/TV Globo
Além de Todas as Flores colocar Joy em uma família com pai branco e mãe negra, a personagem ainda esconde um segredo. Segundo a colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, ela inicialmente teria transtorno de personalidade brderline, mas agora se revelará soropositiva. A atriz desconversa ao ser questionada sobre o tema. “Não posso falar sobre essa parte da vida da Joy, só perguntando para o João Emanuel. O que eu posso dizer é que essa história do borderline nunca existiu”, afirma.
Yara concorda, no entanto, que discutir questões de saúde em uma novela da Globo é algo que não pode ser menosprezado. “Nós estamos vivendo um momento tão difícil, com casos de Covid-19 voltando, pessoas que recusam a vacina. É um tema delicado”, aponta a atriz. “E a novela entra na casa das pessoas, então poder debater um assunto desses é muito importante.”
A personagem de Todas as Flores ainda levanta uma discussão sobre relacionamentos tóxicos –já que o namoro com Olavo (André Loddi) passa longe de ser saudável. “É até difícil fazer algumas cenas, fico me perguntando como a Joy não dá um tapa na cara dele. Mas é uma situação que a personagem precisa lidar, entender o que está acontecendo. Relações tóxicas existem no mundo inteiro, e as pessoas não percebem quando estão em uma. Ela sabe que, no fundo, aquilo não é legal, mas não consegue tomar uma atitude”, explica a atriz, que tem recebido mensagens de fãs tentando abrir seus olhos. “Eu preciso lembrar que a Joy é uma personagem, que não sou eu naquela relação (risos).”
Filha de mãe brasileira com pai francês, Yara nasceu em Paris e viveu na França até ser aprovada para atuar em Velho Chico (2016). Ela veio ao Brasil para fazer a novela com o intuito de ficar pouco tempo. “Tinha dois meses e meio de férias, seriam três meses de gravação. O plano era fazer Velho Chico e voltar. Mas descobri um mundo novo e a alegria de atuar. Quando acabou a novela, pensei: ‘Quero fazer isso até morrer, e agora?’. Liguei para os meus pais e avisei que não ia mais voltar. Foi de repente, mas já tinha tudo planejado na minha cabeça. Era uma paixão que não poderia abandonar”, lembra.
Seis anos depois, a atriz já fala com um sotaque carioca carregado. E, se considera brasileira a ponto de declarar torcida pela seleção na Copa do Mundo. Mas sem renegar a França –que estreou na terça (22) com vitória de 4 a 1 sobre a Austrália. “Posso torcer pelos dois?”, brinca, aos risos. “Eu sou muito feliz morando no Rio de Janeiro, está no meu sangue. Mas França x Brasil é muito difícil para mim, não consigo escolher. Torço para as duas irem para a final, aí quem ganhar eu fico feliz.”
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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