Reprodução/Multishow
Cantora se tornou a primeira artista negra brasileira a protagonizar um show no palco Mundo; apesar de morna, apresentação teve momentos de emoção
Na cidade onde nasceu há 32 anos, Iza voltou a fazer história no Rock in Rio. Depois de duas performances memoráveis no palco Sunset em 2017 (com Alcione) e 2019, a cantora se tornou a primeira mulher preta brasileira a protagonizar um show no palco Mundo, o principal do festival.
Cercada apenas por bailarinos e músicos também pretos, ela entregou um show pop de excelência, com trocas de figurinos luxuosos, cenário grandioso e boa vontade do público. Porém, os intervalos entre hits e a inclusão de novas músicas esfriaram o show em alguns momentos —diferentemente das apresentações frenéticas de Matuê, Luísa Sonza e Jota Quest mais cedo.
Iza teve problemas com o som no início do show. Nos primeiros acordes de Pesadão, ela estava próxima ao público com seus dançarinos em meio à chuva e quase perdeu o momento em que deveria começar a cantar. Depois de marchar até o templo montado no palco com seu corpo de baile e sair da chuva, o jogo virou a seu favor.
Iza faz show no Rock in Rio
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A cantora levou seu Gueto para o palco Mundo e botou o público para dançar. No telão, grandes ícones da música preta eram apresentados como figuras da realeza. Entre eles, Martinho da Vila, Elza Soares (1930-2022) e Alcione.
Acordes de berimbau marcaram a introdução de Ginga. Sem Rincon Sapiência no palco para cantar seus versos, Iza abusou da coreografia com seus bailarinos enquanto os versos do rapper eram tocados na base pré-gravada. Ela ainda homenageou Gilberto Gil ao colocar parte de Andar com Fé no meio da canção.
Antes de Talismã, Iza perguntou quem estava em seu show no Rock in Rio 2019. Na ocasião, ela fez uma performance apoteótica no Sunset, que lhe rendeu o “upgrade” para o palco Mundo. O cancelamento do trio Migos permitiu que a carioca ganhasse um horário ainda mais favorável.
Sem Filtro, a recém-lançada Droga e Mó Paz formaram o bloco de novidades de uma cantora pop que mais tem trabalhado com publicidade do que com música nos últimos anos. Até por isso, o público pouco engajou, apesar dos esforços de Iza que cantou (muito) e dançou na chuva. “Mó paz é como eu estou hoje, cheio de talismãs aqui na plateia”, disse ela, atrapalhada pela microfonia.
Iza faz show no Rock in Rio
Reprodução/Multishow
Iza ainda aproveitou seus intervalos para homenagear também musicalmente artistas pretos, como Beyoncé, Elza Soares e Jorge Ben Jor, cujos sucessos foram cantados pelo coral enquanto ela trocava de roupa.
Um vídeo com mulheres pretas como Zezé Motta, Sheron Menezzes, Djamila Ribeiro, Taís Araujo e Majur antecedeu a versão em voz e piano de No Woman No Cry, de Bob Marley (1945-1981). No texto, elas exaltaram as antepassadas que as trouxeram até aqui. “Toda mulher negra merece seu próprio templo”, disseram elas.
Iza canta com sua mãe, Isabel Cristina, no piano, durante show no Rock in Rio
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Quem tocou piano para Iza na música foi ninguém menos que a mãe da cantora, Isabel Cristina. Aos prantos durante o número, ela deixou o palco depois de botar uma coroa na filha. Muitos no público choraram junto e seguiram emocionados em Dona de Mim. O reggae Brisa encerrou o show em clima de alto–astral.
Na sequência, o Rock in Rio terá Emicida, Demi Lovato, Gilberto Gil e Justin Bieber.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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