MÚSICA

Journey em show nos Estados Unidos

Divulgação/Erik Kabik

Don't Stop Believin'

‘Vinil, CD e cassete soam melhor que streaming’, diz líder do Journey

Guitarrista Neal Schon fala sobre o primeiro disco em 11 anos, a força de Don't Stop Believin' e por que é contra fazer músicas políticas

Luccas Oliveira
Luccas Oliveira

Do outro lado da tela, atrás do guitarrista Neal Schon, fundador e líder do Journey, alguns elementos chamam a atenção. À esquerda, uma placa do Spotify celebra 1 bilhão de reprodução do hit histórico Don’t Stop Believin’. À direita, discos de platina e uma capa de LP.

No entanto, se dependesse de Schon, a música ainda seria consumida majoritariamente em estado físico. “É bom saber que o vinil está voltando com tudo, até mesmo fitas cassete e CDs. Todos os três soam muito melhor que qualquer streaming ou download digital”, opinou em entrevista exclusiva à Tangerina.

“O rock and roll precisa de grandes guitarras, grandes baterias. Quando você comprime para um pequeno arquivo digital, você nunca vai ter a sensação de como aquela gravação realmente soa. A não ser em casos como o rap ou o R&B, quando você tem mais bateria eletrônica, teclado e voz. É o único caso em que a música digital será mais ou menos decente”, seguiu o líder do Journey.

Prestes a completar 50 anos de estrada em 2023, o grupo acaba de lançar Freedom, o 15º álbum de estúdio de sua discografia. Sim, o álbum já está disponível nas plataformas de streaming, mas também nos formatos vinil, CD e cassete em lojas especializadas.

Journey passou por brigas judiciais

Freedom é o primeiro disco do Journey desde Eclipse, que saiu em 2011. Quando perguntado sobre o motivo do longo intervalo entre álbuns, Schon foi sincerão. “Alguns integrantes não estavam interessados em fazer novas músicas na época. Por conta de como anda a indústria musical e todas as questões com gravadoras, pode ser muito caro gravar um bom disco”, apontou.

Além disso, o guitarrista também lembrou que, nos últimos anos, ele e o tecladista Jonathan Cain se envolveram numa briga judicial com o baterista Steve Smith e o baixista Ross Valery. Ambos eram integrantes da formação clássica do Journey, e tinham voltado à banda entre idas e vindas, até serem demitidos por Schon em 2020 por quebra de confiança.

O imbróglio, que envolvia o uso do nome e da marca da banda, só foi solucionado mais de um ano depois, em abril de 2021, após um acordo amigável. Foi a partir disso que o Journey conseguiu lançar o primeiro single de Freedom, The Way We Used to Be. “Foi um pouco desafiador chegar a esse ponto, porque, caso contrário, sinto que não teria sido capaz de fazer isso sozinho sem ir ao tribunal. Nós ainda estaríamos na Justiça até agora e o álbum não sairia”, afirmou ele.

Neal Schon, guitarrista do Journey

Neal Schon à frente da placa comemorativa do Spotify e de discos de vinil

Reprodução

As 15 faixa de Freedom, opina Schon, “não são muito diferentes das nossas outras canções. Elas falam sobre esperança, relações amorosas, coisas positivas”.

O Journey, diz ele, não curte falar sobre temas sérios, como política e religião: “Não gostamos de ser políticos. A música é para o mundo, sabe, não queremos segregar. Quando você entra nesses assuntos, acaba perdendo muitos fãs e acho que a música é o único idioma universal que realmente está aqui para todos. O que importa é a música, é se sentir bem e tentar fazer as pessoas se sentirem assim, afastando-as de questões que elas precisam lidar no dia a dia”.

Banda bateu pé por seu maior hit

É o que eles fizeram, há mais de 40 anos, com Don’t Stop Believin’. Um dos maiores clássicos do rock mundial, esta é considerada a música com mais downloads da história. No papo, Schon revela que previu, de certa forma, o sucesso da canção lançada em 1981, no álbum Escape:

“Quando estávamos quase na versão final, eu falei para a banda que aquela música seria maior do que qualquer coisa que já tínhamos feito. Ela tem esse arranjo completamente diferente de qualquer outra música de rádio que eu já tinha ouvido. E sempre foi um sucesso, especialmente ao vivo. Ela não chegou tão alto nas paradas quanto outras faixas do mesmo disco, mas nenhuma segue tão forte tantos anos depois”.

Imagem do clipe de Don't Stop Believin', hit do Journey

Assista ao clipe de Don't Stop Believin'

Música é considerada a mais baixada da história

No entanto, Journey teve uma ajuda burocrática, vamos dizer assim, para que Don’t Stop Believin’. Neal Schon agradece ao ex-empresário do grupo, Herbie Herbert (1948-2021), experiente nome da indústria que também trabalhou com Santana, Roxette e outros.

“Ele botou em nosso contrato com [as gravadoras] Sony e CBS que eles nunca escutariam nossas músicas até elas estarem prontas. Então, não havia qualquer controle da gravadora no estúdio. Quando entregamos o disco, eles pediram cortes e modificações, mas batemos os pés e lançamos como queríamos”, conta Schon.

Atualmente, o Journey tem entre os integrantes o vocalista Arnel Pineda, filipino que foi descoberto através de vídeos nos quais fazia versões de músicas da banda. Desde 2007, ele ocupa a vaga que pertencia a Steve Perry na formação clássica. Foi com Pineda que o Journey se apresentou pela primeira e única vez no Brasil, em 2011, com show único em São Paulo.

Informar Erro
Falar com a equipe
QUEM FEZ
Luccas Oliveira

Luccas Oliveira

Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.

Ver mais conteúdos de Luccas Oliveira

0 comentário

Tangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.

Acesse sua conta para comentar

Ainda não tem uma conta?