MÚSICA

Retrato da cantora MC Tha

Divulgação

Meu Santo É Forte

MC Tha regrava músicas de Alcione em novo EP: ‘É uma ancestral minha’

Projeto Meu Santo é Forte reúne cinco composições cantadas por Marrom sobre religiões afro-brasileiras; 'A umbanda fortaleceu até a minha autoestima', conta

Lucas Almeida
Lucas Almeida

MC Tha lançou nesta semana o EP Meu Santo É Forte, no qual regrava cinco composições cantadas por Alcione sobre religiões afro-brasileiras. O projeto serviu como uma continuação do aclamado álbum Rito de Passá (2020), que aproxima o funk das músicas tradicionais de terreiro.

Depois de descobrir que São Jorge (1990) era cantada pela Marrom, MC Tha começou a olhar com mais atenção para a discografia da Rainha do Samba. “Nesse projeto, ela está como uma ancestral minha. Brinco que a MC Tha é a minha ancestral do futuro, que me dá força para subir no palco e escrever as coisas que passam por mim”, explica à Tangerina a cantora paulistana, cujo verdadeiro nome é Thais Dayane da Silva.

Com o sucesso do disco de estreia, MC Tha começou a receber diversas comparações com Alcione, devido ao cabelo e ao estilo. No entanto, foi só durante a pandemia que surgiu a ideia do EP.

As regravações ganham batidas de funk, concentradas nos atabaques. “As músicas na versão da Alcione já eram bem atuais em algum lugar, para mim”, conta Tha, que não viu grande dificuldade em testar as novas produções, com uma exceção. “Confesso que eu tinha um apego com São Jorge. Falava: ‘Não pode estragar a música’”, revela, rindo.

Com produção de Mahal Pita (BaianaSystem), o EP evidencia algumas pérolas da discografia da Marrom. Agolonã, do álbum Morte de Um Poeta (1976), ganha a sua primeira regravação depois de 46 anos. Afreketê, originalmente do Nosso Nome: Resistência (1987), teve pequenas adaptações na letra e recebeu o toque de MU540, incensado produtor paulista que participou da música Avisa Lá, no Rito de Passá.

O umbandafunk de MC Tha

MC Tha vê Meu Santo É Forte como um aprofundamento na pesquisa feita para o seu álbum de estreia, em que passou a usar o termo umbandafunk para definir o seu estilo musical.

Natural de Cidade Tiradentes, distrito no extremo leste da cidade de São Paulo, ela deu início à carreira no funk aos 15 anos. Mas foi através da umbanda que realmente se encontrou como artista. “Ao mesmo tempo que conheci todas as divindades que lá estão, eu também conheci minha própria divindade. A própria Thais, quem ela é, o que ela gosta. Fortaleceu até a minha autoestima”, relembra ela, sobre o seu processo ao começar a frequentar o terreiro.

Tha explica que, durante a adolescência, reproduzia a ideia de que o funk não deveria ser associado à macumba. Ela cita os versos de MC Magrinho e MC Nandinho: “Isso aqui não é macumba/ Não se assuste, é só mexer o bumbum”.

“Quando tem essa repulsa do funk com as afro-religiões, claro que não é ‘vamos acabar com terreiro’, mas é por esse processo triste que o Brasil inteiro passa, de ter uma bancada evangélica no Congresso, todo hotel que eu chego tem uma Bíblia. O problema não são esses signos, eu acho que é a lavagem cerebral, a intolerância mesmo”, opina.

Carreira na ‘TV’

Assista ao Clima Quente Show, com MC Tha

Produção foi inspirada programa Alerta Geral, apresentado por Alcione

Dando continuidade ao trabalho didático para apresentar as religiões de matrizes africanas, a MC aproveitou o EP para criar um programa de TV para chamar de seu.

Inspirada pela própria Alcione no comando do programa Alerta Geral, exibido na Globo entre 1979 e 1981, ela canta as músicas inéditas e faz até uma entrevista com si mesma no Clima Quente Show. A produção está disponível no YouTube.

“Eu nunca fiz música para estar em um programa de TV ou para ir na rádio. Mas, no atual Brasil que a gente está vivendo, é importante que a gente tenha representações nesses lugares”, justifica ela sobre a iniciativa, ao mencionar o número de casos de intolerância religiosa em terreiros de umbanda. “Tem um canal de música gospel, o canal do pastor, você liga em uma Globo e pode ter um artista sertanejo cantando música evangélica. Você não vê as pautas ou artistas [da umbanda] para poder representar esse lugar.”

MC Tha posa com pernas abertas, sentada em banco

MC Tha tem dois shows marcados para divulgar EP Meu Santo É Forte

Divulgação

Show potente

MC Tha conversou com a Tangerina enquanto acompanhava os comentários sobre o novo lançamento e dava risada com memes que criavam no Twitter. Como nem tudo é glamour, ela compartilhou: “Estou com uma crise pesada de rinite, aos trancos e barrancos”.

Mesmo acompanhando a repercussão do EP, ela já está de olho no seu próximo trabalho, que resume como “um álbum de fortalecimento”. Com algumas composições feitas, Tha deseja entrar no processo de produção agora.

Enquanto isso, MC Tha ainda se prepara para dois shows marcados: em São Paulo, nesta quinta-feira (30), e no Rio de Janeiro, junto com Jup do Bairro, em 8 de julho. O repertório contará com as regravações do EP, além de novas produções para as canções do álbum de estreia.

Rito de Passá saiu em junho de 2019, antes do início da pandemia de Covid-19. Com a crise mundial de saúde, ela precisou cancelar a turnê que tinha programado pela Europa, e a participação em festivais foi adiada. Com parte da banda vinda da Bahia, onde Tha mora atualmente, ela diz que o novo formato de apresentação será “potente e energético”. “É um show para celebrar, ser feliz e dançar.”

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Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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