MÚSICA

Number teddie posa para frente em frente à cortina vermelha

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Pra ficar de olho

Number Teddie: Aposta do pop apresenta 1º álbum no Rock in Rio

Com o lançamento do disco Poderia Ser Pior na quarta-feira (31), cantor é atração do palco Supernova em 9 de setembro

Lucas Almeida
Lucas Almeida

Aos 25 anos, Number Teddie se prepara para grandes passos na carreira. Na próxima quarta (31), ele lança o álbum de estreia, intitulado Poderia Ser Pior. Na semana seguinte, mais especificamente em 9 de setembro, apresentará as faixas autorais em um show no Rock in Rio no palco Supernova. “Todo dia, eu fico pensando em qual desculpa vou dar para não lançar esse disco ou tocar no festival”, brinca ele sobre o nervosismo.

Nos últimos meses, Number Teddie se tornou uma aposta da música nacional e referência do pop de quarto (ou bedroom pop, em inglês), que reúne os cantores que encantam a nova geração com faixas criadas sem grandes produções em estúdios — Billie Eilish e Lauv se tornaram expoentes no estilo. As melodias acompanham letras confessionais, cheias de ironia.

“Eu não vou mentir, que até chorei e procurei um pornô com algum ator que se pareça com você/ Você tá até sorrindo mais, e nem deve pensar em mim”, canta ele no single Eu Deveria Ter Comido Seus Amigos, lançado em março. “Sou totalmente anônimo e meu primeiro álbum é completamente escancarado sobre a minha história. Não sei se é uma boa estratégia, mas foi terapêutico. Foi uma forma de trazer a narrativa de volta para mim”, explica à Tangerina.

Ouça Eu Deveria Ter Comido Seus Amigos, do Number Teddie

Cantor fará show no palco Supernova, do Rock in Rio

O primeiro disco ainda chega com padrinhos importantes. O cantor faz parte do time da Sony Music e é o primeiro artista lançado pelo selo Xyc Discos, criado por Rodrigo Gorky (produtor de Pabllo Vittar) e o parceiro Zebu. Foram os dois colegas que avisaram sobre a oportunidade no Rock in Rio. “Eles mandaram um print com o convite no WhatsApp. Eu ainda falei: ‘Será que eu vou?’. Eles responderam que era óbvio”, conta.

Conheça Number Teddie

Natural de Manaus, Number Teddie é o nome artístico de Geovane Aranha. Os marcos na carreira chegam depois de um processo longo. Ele começou a cantar aos três anos em apresentações escolares ou para quem mais pedisse. “Tenho certeza que não era bom, mas eu pedia para cantar em todos os lugares. Na aula de Matemática, falava que não precisava estudar, porque ia ser famoso”, relembra.

A composição das primeiras faixas aconteceu aos nove anos, depois de se encantar pela letra de Rehab, de Amy Winehouse, em uma aula do curso de inglês. “Comecei a compor no ano em que meu pai morreu. Só mostrava para a minha mãe, e ela sempre falou que eu escrevia muito bem”, explica. A temática já trazia questionamentos dolorosos sobre a vida. “Tive uma infância muito conturbada. A primeira música que escrevi foi tipo ‘saudades dos meus dias de glória’.”

As primeiras criações foram gravadas em notas de áudio de um celular Nokia. Depois, Number Teddie começou a usar o telefone da mãe, mais moderno, para filmar as melodias de teclado, que aprendeu a tocar. Por volta dos 20 anos, ele passou a mexer em softwares de edição de som para adicionar outros instrumentos nas faixas. “Baixei um programa pirata e comecei a desbravar. Hoje em dia, odeio produzir porque era um trabalho de corno”, diz ele, com bom humor.

Músicas autorais

Number Teddie começou a dar aulas de inglês e ainda fazia alguns trabalhos como tradutor e editor de vídeos. Em alguns domingos, também era contratado como fotógrafo freelancer. No tempo livre –as madrugadas–, aproveitava para trabalhar nas músicas autorais, sempre com fone de ouvido, para não acordar o irmão mais velho, com quem dividia o quarto.

O primeiro lançamento oficial aconteceu em 2018. Ele também era responsável por pensar em clipes, produzidos com a ajuda de outros profissionais locais. No final de 2019, emplacou Muleque de Ouro. “Esse clipe deu trabalho. Gastei R$ 1,9 mil reais. Fiz com um colega meu que tinha uma câmera e chamei outros amigos para participar”, conta.

O cantor mandava as faixas para produtores conhecidos da indústria, junto com um texto de apresentação. Depois de enviar o link do vídeo para Rodrigo Gorky, recebeu uma resposta no mesmo dia. “Passamos uma tarde conversando, trocamos WhatsApp, mandei mais músicas e ele me ignorou por dois meses”, relembra Number Teddie. “Continuei dando aula e estava pensando em desistir de fazer música, quando ele me mandou um áudio de 58 segundos falando que queria fazer um disco comigo.”

Novos passos

Mais da metade do álbum de estreia foi composta enquanto Number Teddie ainda morava em Manaus com a família. Em maio de 2021, ele viajou para passar um tempo na casa de Rodrigo Gorky, em São Paulo, para cuidar da saúde mental enquanto trabalhava nas produções. “Eu tinha acabado de ser demitido. Estava fazendo música, mas chegou um momento em que estava mal. O Gorky falou: ‘Cara, estou com medo de tu morrer aí'”, relembra. “Fiquei seis meses vivendo com uma bagagem de dez dias.”

Antes da mudança, Number Teddie já estava compondo para outros parceiros do produtor. O cantor está creditado em Number One, de Pabllo Vittar, além de outras faixas de Alice Caymmi e Urias. Agora, ele aproveita o lançamento do primeiro álbum enquanto já pensa nas composições do segundo.

Apesar das conquistas, Number Teddie explica que ainda lida com momentos difíceis envolvendo a profissão e saúde mental. “Esse é um meio muito difícil e ingrato. Tem dias que não quero levantar da cama. A gente está em um país completamente injusto com artistas. O retorno financeiro, muitas vezes, é inexistente. Não tem pessoa que consiga levar isso com frieza”, desabafa. “Mas tenho a sorte de ter amparo, pessoas que acreditam no meu trabalho acima de qualquer número.”

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Lucas Almeida

Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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