Divulgação/Asylum Records
Fundada em 2013 por A. G. Cook, a gravadora foi responsável por 'legalizar' as batidas hiperbólicas e experimentais na música pop —e mexeu profundamente com as produções de Charli XCX
Lá em 2013, o produtor A. G. Cook percebeu e se interessou por uma agitação diferente do que a indústria musical estava interessada. Nomes como Hannah Diamond, Sophie (1986—2021), Kane West (não é o rapper) e GFOTY tiraram o sossego dos ouvidos do artista, a ponto de ele criar uma gravadora independente em Londres: a PC Music.
Durante os primeiros anos da década de 2010, ele fez do SoundCloud a própria indústria de hits. Todos eles, é claro, com temperos especiais: texturas metálicas, timbres plastificados e produções eufóricas. Esteticamente falando, tudo que parecesse super colorido ou esquisito colava nos moldes da gravadora.
Em menos de dez anos, ele reuniu um elenco repleto de elementos em comum, mas, acima de tudo, desafiadores e experimentais. A PC Music, portanto, deixou de ser só uma gravadora. Ela virou uma etiqueta para a indústria abraçar esses artistas que parecem ter saído direto de um software —no melhor dos sentidos.
Inicialmente, as produções encabeçadas pela PC Music não foram imediatamente aceitas pela indústria, críticos e ouvintes —exceto por aqueles que já tinham uma inclinação para ritmos mais eufóricos. No início da década dos anos 2010, os sons maquinados e os caminhos experimentais não eram vistos (e ouvidos) com bons olhos. Soava, até então, como “uma bagunça sonora”.
Mas a PC Music foi, e é, puro fruto de uma geração que cresceu gastando tempo nas lan houses e que conversou com quem era “esquisito”, segundo o DJ Skrillex. No início daquela década, o produtor viveu o auge da própria produção musical e a do subgênero. Em uma entrevista para a Dazed, ele pontua o quão “astuta” foi a PC Music em “abraçar quem apreciava não só o dubstep, mas as demais camadas da música eletrônica”. De algum jeito, todo aquele mix sonoro encontrou a própria personalidade e entrou nos moldes (invertidos) da música pop.
Em 2014, um ano após a inauguração da gravadora, A.G. Cook promoveu uma ocupação no Hype Machine ‘s Hype Hotel, durante o festival South by Southwest. No dia, ele, Sophie e QT se apresentaram como o cartão de visitas do selo musical. Isso deu ao artista força motora para que o primeiro disco, uma compilação batizada de PC Music Volume 1, fosse lançado.
Para ir além do underground, contudo, o gênero precisou de uma figura infiltrada na grande máquina da indústria. Foi aí que a artista e produtora Sophie entrou em ação. A grande estrela da PC Music foi responsável por alavancar o ritmo para o mainstream ao colaborar com artistas como Diplo, Rihanna, Madonna e Charli XCX.
Em 2021, a artista morreu em um trágico acidente, quando caiu do terraço de um prédio de três andares enquanto tentava fotografar a lua cheia, na Grécia. Antes de sua morte, contudo, a britânica conseguiu ser a primeira artista transsexual indicada ao Grammy Awards na categoria de melhor disco de música eletrônica. A musa teve o disco Oil of Every Pearl’s Un-Insides notado pelos grandões da Academia. O surgimento de artistas como o duo 100 gecs, Caroline Polachek e Dorian Electra não soam estranhos quando validamos a clara influência da PC Music e do experimentalismo de Sophie no hyperpop.
Além disso, ela foi responsável por coproduzir Bitch I’m Madonna, de Madonna e Nicki Minaj —um choque em 2015— e o grande hit de Charli XCX, Vroom Vroom (2016). Basicamente, foi neste EP que Charli seguiu para o lado PC Music da força. A mudança brusca da artista, inclusive, foi alvo de críticas depois de Boom Clap (2014) ter dominado as rádios. Mas foi a partir do selo que a cantora pop encontrou a nova identidade musical.
Assista ao clipe de Vroom Vroom
A faixa contou com a colaboração de SOPHIE
“Foi só quando conheci Sophie e AG que finalmente encontrei o que estava procurando. Nós imediatamente falamos a mesma língua. Nem precisávamos falar, eles entenderam imediatamente os tipos de sons que eu estava tentando alcançar”, pontuou Charli em uma entrevista à Variety. Desde então, ela brincou com o excesso sonoro pop nos discos Pop 2 (2017), Charli (2019) e how i’m feeling now (2020). Com Crash, lançado na última sexta-feira, 18, não seria diferente.
“Este disco é dedicado à Sophie”, assina Charli XCX na contracapa do novo disco. Em uma recente entrevista à Apple Music, a artista se emocionou ao lembrar da amiga: “Ela mudou minha vida. Não apenas pela sua música, que era obviamente incrível, mas por quem ela era como pessoa”, revelou a cantora. “Ela tem essa energia incrível e quando ela quer conversar com você ou ter um momento com você é tão especial porque ela é tão inspiradora, nunca conheci alguém como ela, acho que nunca conhecerei.”.
Embora o novo disco de Charli não mergulhe nas profundezas do hyperpop, foi por causa dele que a artista chegou até o quinto disco de estúdio. Experimentando as próprias habilidades musicais e desafiando a indústria musical.
Por outro lado, A. G. Cook, dono do selo, também tem influência direta nos novos estímulos criativos de Charli. O artista esteve, ao lado de Sophie, creditado nos últimos discos da cantora, especialmente em how i’m feeling now (2020), lançado durante a pandemia de Covid-19. A produção é repleta de sons cortantes, batidas brilhantes e refrãos grudentos.
Assista ao clipe de Claws
A canção faz parte do disco pandêmico de Charli, how i'm felling now
Estruturas cafonas, hipérboles de vários padrões estéticos, chuvas de auto-tune e sons completamente inesperados entram na faceta da PC Music. Como um caleidoscópio futurista, o subgênero acolhe tudo que vem do exagero. Muito mais do que um selo, a PC Music são os artistas que fazem parte dele. A gravadora acabou sendo o CNPJ cintilante da indústria, enquanto as criações vão moldando o tom dessa estética chamada de hyperpop. Para tentar liberar um espaço na sua cabeça e deixar a música entrar, a Tangerina elencou alguns projetos que definem a PC Music e influenciam a música pop atual —e a própria Charli XCX. Se liga!
A.G. COOK
Para esmiuçar as batidas, vamos começar do início. O criador da gravadora e precursor do movimento foca, nos projetos autorais, na estética do Bubblegum Bass. Para quem não sabe como esse ritmo soa, resumimos: timbres mais plastificados, com batidas altamente melódicas. Para te ajudar, dê o play em Drop FM.
KANE WEST
Você não leu errado, ele não é o ex-marido da Kim Kardashian. KANE WEST é o pseudônimo de Gus Lobbanse, do grupo indie Kero Kero Bonito. Do lado do artista, as batidas alegres são dispensáveis nas criações. O músico e produtor se pauta nos ritmos do house, disco e no funk do Reino Unido. As canções beiram sempre a ironia e, como a própria apresentação insinua, ele curte apresentar os sons de maneira mais crua, misteriosa e “dark”. A capa do EP do artista é apenas um nome escrito em comic sans em uma tela branca. Pegou a vibe?
Ouça o EP Western Beats
SOPHIE
Nomeada pelo jornal The Guardian como uma “gênia expressiva do pop”, SOPHIE teve participação fundamental em toda a PC Music. Sonoramente, a artista brincava com vocais elásticos (que dão a sensação do som ir e voltar nos ouvidos) e uma produção focada em barulhos de látex e balões estourando. Doçura musical também fazia parte do repertório da cantora e produtora. Para entender um pouco mais como isso soa, dê play em Bipp.
Nicolle Cabral
Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.
Ver mais conteúdos de Nicolle CabralTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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