Divulgação/Lollapalooza
Em dia marcado pelo cancelamento do Foo Fighters e por shows cancelados devido a ameaça de raios, brasileiros foram os destaques
O último dia de Lollapalooza 2022 tinha que ser com (ainda mais) emoção. O festival voltou a ser interrompido por uma ameaça de raios logo no começo da tarde deste domingo. Por conta disso, shows como o de Rashid e Planta e Raiz tiveram que ser cancelados.
Na volta, o Lollapalooza viu diversas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, chuvas esparsas e também alguns grandes shows.
O remendo de última hora para substituir o headliner Foo Fighters funcionou.
Abaixo, o que a Tangerina achou dos últimos shows do Lollapalooza 2022.
Gloria Groove fez um show quentíssimo no último dia do Lollapalooza Brasil 2022
Divulgação/Lollapalooza
Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo, tem que estar orgulhosa. Gloria Groove, a Lady Leste, representou bem demais o local que enche o peito para falar que de lá veio. Em sua estreia no Lollapalooza, a drag queen carimbou de vez seu status de estrela pop nacional. O único porém foi que o palco era muito menor do que o patamar que GG conquistou. O público superlotou o espaço dedicado à música eletrônica e foi difícil de dançar como o show pedia.
Mas tudo bem, Gloria não tem culpa. Ela entregou os hits que já estão na ponta da língua do público. Bonekinha, A Queda, Leilão e Vermelho ganharam o frenesi que se esperava. Faixas do disco Lady Leste, como Greta, Fogo no Barraco e Pisando Fofo, também já emplacaram. No palco, GG foi acompanhada por balé e banda, e trocou de figurino algumas vezes.
A performance só não foi perfeita, por parte dela, porque as faixas do projeto Lud Session, que fez com Ludmilla num clima de pagode/r&b, destoaram do clima mais festivo. E alguns momentos de troca de roupa também foram longos demais. No fim, a cantora pop-ex-gospel Priscilla Alcantara, participou da canção pop-rock Sobrevivi.
Planet Hemp fechou o Lollapalooza Brasil 2022 com um show quente em homenagem a Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters
Reprodução/Multishow
Até ontem, Marcelo D2 estava em Miami, em meio a uma turnê solo nos EUA. Eis que veio a convocação: participar do show especial que substituiria o Foo Fighters, headliner do dia. Ao lado do Planet Hemp, claro. Afinal, o público queria um show pesado, representativo. Ele, que já perdeu precocemente companheiros de banda (Skunk e Speedfreaks), atendeu ao chamado. E foi o que D2, BNegão e companhia entregaram: um show pesado e importante. Teve guitarra alta, bateção de cabeça, enormes rodinhas e um show elétrico.
Teve, também, muita política. Afinal, o Planet Hemp é uma banda política, que nasceu de uma vontade de agitar o status quo —seja através de discos pró-legalização das drogas ou de críticas sociais. D2 ignorou qualquer “pedido” do TSE, puxou coros contra Bolsonaro, gritou “Olé olé olé, Lolla”, incentivou —junto com Criolo— os jovens a tirarem o título de eleitor… O Planet Hemp não era a banda que o Lollapalooza queria para um dia como hoje, mas calhou de ser a que o festival —e o público— precisavam.
The Libertines substituiu o Jane's Addiction, que cancelou a participação devido a um caso de Covid-19 na banda
Divulgação/Multishow
A banda britânica The Libertines foi anunciada pelo Lollapalooza nas últimas semanas, substituindo o Jane’s Addiction. No palco, no entanto, nem parecia um tapa-buracos —como o Two Feet, no sábado. Na verdade, fez todo o sentido. Liderada por Pete Doherty e Carl Barat, a banda de garage rock tem a cara do festival e um público que sabe cantar seus sucessos. Sem um headliner no palco principal, foi fácil os fãs mais engajados se reunirem para fazer um barulho. Ainda assim, em número reduzido.
O suficiente, porém, para fazer o palco Budweiser parecer uma pistinha de festa indie, aquela que você foi na adolescência/começo da vida adulta e sente falta até hoje. Doherty e Barat incorporam como poucos a persona do som que tocam —até as guitarras quase destruídas e o sotaque de pub de Doherty compõem o clima. Destaque para os hits Can’t Stand Me Now e Don’t Look Back In The Sun e para o baterista Gary Powell, que até samba tocou.
A banda de soul psicodélico Black Pumas conseguiu ganhar o público do Lollapalooza Brasil 2022
Camila Cara/Lollapalooza
Uma das funções de um megafestival como o Lollapalooza é fazer um artista incrível que ainda não “furou a bolha” chegar a um público mais numeroso. O Black Pumas foi, junto com o Turnstile, um grande acerto, nesse sentido. A banda de soul psicodélico norte-americana aproveitou bem a multidão que ocupava a colina do palco Onix para esbanjar carisma, talento e muito groove.
Por mais que o som remeta a um clima nostálgico setentista, o duo liderado pelo vocalista Eric Burton é quente, fresco, atual. E hipnotizou o público brasileiro. Burton, que foi revelado como músico de rua na Califórnia, roubou a cena com seu vozeirão, estilo e suingue. Quem viu o show, encerrado com o hit Colors, certamente favoritou o Black Pumas nas plataformas de streaming.
Emicida recebeu convidados para um tributo a Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que morreu na sexta
Reprodução/Multishow
Não é fácil falar sobre o luto. Portanto, Emicida e sua trupe da Laboratório Fantasma tinham uma grande missão: fazer um show de encerramento do último dia do Lollapalooza, após o Foo Fighters cancelar a apresentação. O lendário baterista do grupo, Taylor Hawkins morreu nesta sexta-feira (25), de overdose.
Embora os primeiros minutos tenham sido difíceis de digerir, pois foram dedicados à homenagens ao baterista com fotos e vídeos do artista tocando na banda, quando os mestres-sala Emicida e Rael subiram ao palco, o astral foi reajustado. A dor da fãs foi tamanha, mas o líder da produtora soube conduzir o espetáculo. Uma versão de My Hero foi tocada, e, logo depois, os convidados da noite subiram ao palco. Mano Brown, Bivolt e Criolo foram os grandes momentos da noite.
Ao longo das apresentações, várias menções foram feitas ao bateristas, todas muito respeitosas e emanando boas energias para a família do artista. No fim, os artistas souberam mesclar o momento sensível para os fãs do Foo Fighters e aproveitar a oportunidade de celebrar o hip-hop nacional no palco principal do Lollapalooza.
Os gaúchos da Fresno protestaram contra o governo e estamparam "Fora Bolsonaro" no telão do Lollapalooza 2022
Camila Cara/Lollapalooza
Quem acompanha a Fresno nas redes sociais sabe o quanto a banda gaúcha esperava por esse show no Lollapalooza. Mas não foi fácil. A ameaça de raios que fez a produção evacuar parte do público do festival acabou impactando a apresentação. A Fresno lidou com problemas técnicos, microfones que falharam e som embolado.
O show foi corrido e parte do público ainda chegava (ou voltava) nas primeiras músicas. Mas a banda, resistência do emo no Brasil, fez o que pôde. O vocalista Lucas Silveira esbanjou carisma, se emocionou com a plateia, driblou a decisão do TSE e gritou contra Bolsonaro. E ainda teve a presença ilustre de Lulu Santos. Juntos, eles cantaram Já Faz Tanto Tempo e Toda Forma de Amor.
Marina Sena fez um show carismático em sua estreia no Lollapalooza Brasil 2022
Divulgação/Lollapalooza
Emocionada com a estreia no Lollapalooza, Marina aproveitou para bater um papo com os fãs e confessar que estava nervosa com a estreia no festival. É a primeira vez que a cantora de Taiobeiras, Minas Gerais, se apresenta no grande evento. Dona do hit viral Por Supuesto, Marina fez um show carismático, ainda que tímido. Com isso, as canções, tão potentes no registro De Primeira, acabaram perdendo a força.
Mas o talento da artista é nítido. No show, os pontos altos foram Por Supuesto, Voltei Pra Mim e Me Toca. A galera também pediu Ombrim, canção de sucesso do Rosa Neon, grupo do qual Marina fazia parte. Para além das canções, a artista também pediu à plateia para tirar e transferir o título de eleitor. O público engatou em um coro de “fora Bolsonaro”, recorrente nas apresentações do Lollapalooza Brasil 2022.
Djonga foi um dos artistas que se manifestaram contra o presidente Jair Bolsonaro
Divulgação/Canal Bis
Não é novidade para ninguém que Djonga é um dos grandes nomes do rap nacional. Mas para o público do Lollapalooza isso não pareceu gerar tanta comoção. Com um novo show, performático, no estilo e cheio de dançarinos, Djonga saiu da plateia do BK, onde foi flagrado no Lollapalooza 2019, para se apresentar em um ótimo horário.
O rapper preparou até novos arranjos para as canções de O Menino que Queria Ser Deus (2018) e Ladrão (2019). Guitarrinhas mais sapecas apareceram nas canções e batidas foram mixadas na hora por Coyote, parceiro musical do artista.
E ele prometeu se posicionar várias vezes até o final do show contra o atual presidente, Jair Bolsonaro. “Eu odeio o Bolsonaro, eu vou falar 22 duas vezes pra homenagear 2022”, exclamou o artista. Além de se posicionar diante da polêmica #LollaLivre, ele também convidou FBC para o palco. O público reconheceu o rapper pelo novo disco Baile, do hit viral Se Tá Solteira.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
Ver mais conteúdos de Luccas OliveiraTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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