MÚSICA

Valesca Popuzuda rindo de perfil

Divulgação

Estreia na HBO Max

Valesca Popozuda comemora sororidade no funk: ‘Encontrei o meu lugar’

Com mais de 20 anos de carreira, cantora relembra machismo no início da Gaiola das Popozudas em entrevista à Tangerina

Lucas Almeida
Lucas Almeida

Valesca Popozuda celebra mais de duas décadas na música com satisfação pelo caminho que trilhou. Integrante do “funk raíz” como ela mesma descreve, a cantora relembra as dificuldades que passou no início da carreira, ainda no grupo Gaiola das Popozudas.

“Com o tempo, fui conquistando admiração. Eu queria ser respeitada pelos homens e queria que respeitassem as outras mulheres também. Foi quando encontrei o meu lugar, junto delas. Aí, ninguém me segurou mais”, explica em entrevista exclusiva à Tangerina.

Antes do início como cantora, ela era dançarina da Gaiola. Mesmo sem presenciar discussões sobre feminismo ou sororidade, já vivia uma situação de união com as outras colegas de trabalho. O público, no entanto, era 100% formado por homens, diz ela. “O machismo ainda existe, mas dominava muito mais”, comenta.

Novas reflexões surgiram quando Valesca Popozuda começou a ser cantora dentro do grupo. “Eu falei que estava cansada e expliquei: ‘Já rebolei tanto, já dei com a bunda na cara dos homens, fiz um estardalhaço. Não quero mais que eles me olhem como símbolo sexual, enquanto as mulheres não estão entendo o que estou fazendo. Quero cantar para elas, dar o poder da liberdade para elas'”, relembra.

‘A gente não tem medo de ser quem quer’

A aproximação foi sendo formada através de letras que enalteciam o público feminino. Sem as redes sociais para explicar as composições, as músicas ganhavam um discurso sobre o seu significado em cada show que fazia.

“Queria essas mulheres junto comigo, na frente do palco, sem ter medo. Queria que entendessem o que as Gaiola das Popozudas representa. A gente não tem medo de ser quem quer. Graças a Deus, fui conseguindo isso, me encontrando mais na música e buscando a minha identidade.”

A mensagem chegou ao público. Valesca Popozuda começou a receber cartas com desabafos de mulheres durantes os shows. “Às vezes, eu estava no camarim e entrava uma menina chorando, contando que era abusada. Se eu tive força para me libertar, por que não dar essa força para elas também?”, comenta sobre o propósito que ganhou na profissão.

Valesca Popozuda na HBO Max

Valesca Popozuda integra a série documental Funk. Doc: Popular & Proibido, que estreia nesta terça-feira (30), na HBO Max. Em seis episódios, divulgados semanalmente, a produção conta a história do funk no Brasil, com a participação de nomes como Ludmilla, DJ Marlboro, além de uma das últimas entrevistas concedidas por Mr. Catra (1968-2018).

“Quando convidam para você falar sobre como começou em um documentário como esse, gosto de participar, porque posso dar voz às outras mulheres que estão começando. E até hoje não é fácil, só quem está vivendo contigo sabe dos perrengues”, comenta Valesca. “Faz parte. Se eu subir no palco e não sentir frio na barriga e tremedeira nas pernas, não tem mais graça, melhor aposentar.”

Assista ao trailer de Funk.Doc: Popular & Proibido

Série da HBO Max conversou com Ludmilla, Valesca Popozuda, Mr. Catra (1968-2018) e muito mais

As comemorações sobre a carreira ainda apareceram no último clipe de Valesca Popozuda, Faz Direito, que marca a primeira parceria com Tati Quebra Barraco. WC No Beat também integra a faixa. No clipe, elas fazem referências à Gaiola e Beijinho no Ombro, hit de 2013. Agora, ela ainda prepara um feat com a cantora Danny Bond, que também tratará sobre mulheres e sororidade.

Início do funk

Natural de Irajá, bairro do subúrbio carioca, Valesca Popozuda começou a frequentar os bailes funk com 13 anos, enquanto dizia para a mãe que ia ao cinema —ela deixa o aviso de que é importante não mentir aos pais. “Ia junto com uma galera da favela da Beira Rio. Eu entrava de boa, porque ia todo mundo de comboio. Mas não ia para brigar, ia para beijar na boca”, diz. Na época, ela ouvia os clássicos do gênero, como DJ Marlboro, DJ Tubarão e Cidinho e Doca.

Mesmo quando era dançarina da Gaiola das Popozudas, ainda não tinha o sonho de ser cantora. “No começo, foi muito difícil. Fui jogada para os leões. Ninguém me ensinou como andar pelo palco ou qualquer coisa”, explica ela. “Eu tinha segurança para dançar, jogar a bunda, mas cantar ainda era um espaço que eu não dominava.”

Valesca Popozuda conta que pediu para desistir da carreira ao fazer o primeiro show em que iria cantar sem playback, durante a gravação de um DVD no Clube Paratodos da Pavuna. “Se tinham 7 mil pessoas na plateia, eu levei latada e vaia de todos. Saí do palco chorando, mas tive que voltar, porque ainda tinha mais coisa para gravar. Voltei com a cabeça erguida, mas com o c* que não passava uma agulha com medo da galera me vaiar de novo”, relembra ela, com risadas.

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Lucas Almeida

Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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