NO PALCO

Claudio Lins como Buck em cena de Bonnie & Clyde

Divulgação/Stephan Solon

BONNIE & CLYDE

Claudio Lins foge do galã com caipira bobão no palco: ‘Chutei o balde’

Com quase 40 anos de carreira, Claudio Lins quebra as expectativas do público no musical Bonnie & Clyde, em cartaz em São Paulo

Luciano Guaraldo

Aos 50 anos, o ator Claudio Lins encontrou uma maneira inusitada de escapar do rótulo de galã que o acompanha durante as quase quatro décadas de carreira. No musical Bonnie & Clyde, em cartaz em São Paulo, ele dá vida a Buck, irmão mais velho do protagonista vivido por Beto Sargentelli. Em vez do ladrão galanteador, apostou no caipira bobão, com direito a sotaque carregado e muitos momentos engraçados.

“Eu tive poucas chances na minha carreira de sair do lugar-comum. Na maior parte das vezes, eu mesmo tenho que criá-las. Se o mercado te coloca dentro de uma garrafa, você fica preso ali e é difícil sair daquele rótulo. Então, quando aparece uma oportunidade dessas, você agarra”, resume Lins em conversa exclusiva com a Tangerina.

O ator e músico, de fato, agarrou com unhas e dentes a oportunidade de ser o alívio cômico de um musical denso. Buck é tão diferente que Claudio fica quase irreconhecível em cena. E, sempre que abre a boca, é como se outra pessoa estivesse no palco. “Qualquer sotaque mais diferente abre uma portinha pro humor. Mas isso não foi uma opção da direção, foi minha. Eu não queria que ele ficasse um capiau, mas tinha que brincar com alguma coisa, algum sotaque que ele pudesse ter.”

“Observando o Beto, enquanto a gente ensaiava, eu vi que ele contraía um pouco a boca. Achei que poderia ser um caminho para ter algo em comum com ele, já que o Buck e o Clyde são irmãos. Essa contração na boca que eu busquei, juntamente com o sotaque, resultou no que o público vê no espetáculo, uma coisa que fica caipira perto dos outros personagens”, continua Lins.

No decorrer de Bonnie & Clyde, porém, Buck encara algumas cenas dramáticas. É uma quebra e tanto para a plateia, que vai das gargalhadas ao choro em minutos. “Talvez o maior desafio a que me propus com o musical tenha sido equilibrar essa comicidade. Dentro do processo de ensaios, a comédia tinha vindo muito maior, eu cheguei chutando o balde mesmo. Aí o João Fonseca [diretor] foi me ajudando a lapidar a ponto de eu não pensar na comédia mais, só no personagem. O Buck é engraçado por si só, mas é consistente. Se é um momento dramático, ele está lá também, como qualquer pessoa real estaria. A partir do momento em que o personagem é consistente, você pode jogar para qualquer lugar que vai continuar existindo”, ensina o intérprete.

Do teste à exposição no palco

Apesar da longa carreira, Claudio Lins precisou fazer teste para se juntar ao elenco de Bonnie & Clyde. Não para provar seu talento, que já está mais do que estabelecido, mas para verificar se dava liga com o “irmão” Beto Sargentelli e com Adriana Del Claro, que vive Blanche, mulher de Buck. “Quando o João Fonseca me ligou, ele disse que ficava até sem graça de me pedir para fazer teste, mas eu não vejo problema nenhum nisso. Tem que ver se casa, se orna com os outros atores, acho importante passar por esse processo”, minimiza o artista. “Fiz o teste com o Beto, e ali já deu uma liga incrível. Depois fiz um com a Adriana, que vive a minha esposa, e também deu supercerto. Era para ser!”

Depois de oficializada sua escalação, o ator encarou (e ainda encara) novos testes por causa da disposição do cenário no espaço 033 Rooftop, onde o musical é encenado. Além do palco principal, o elenco se aventura no meio do público durante cada sessão. “Você fica mais exposto, né? A caixa do teatro italiano tradicional te protege muito. Tem uma distância, o ângulo de visão da plateia. Essa proximidade é interessante, te deixa mais vulnerável, mas é tão gostosa também. Você pode falar com o público, vê a reação imediata, é gratificante”, valoriza.

Bem-humorado, Claudio brinca que só se colocando no meio da plateia para conseguir ver os rostos do público. “Além das luzes do palco que atrapalham a visão, eu tenho dificuldade para me concentrar se ficar olhando a plateia. E, ainda por cima, sou míope (risos). Acho inacreditável quando os atores chegam na coxia e falam: ‘Vocês viram quem está na plateia hoje?’. É claro que não, não vejo nada!”, diverte-se.

Bonnie & Clyde fica em cartaz até o próximo domingo (14), com sessões às sextas, às 20h, e aos sábados e domingos às 15h30 e 20h. O espetáculo acontece no 033 Rooftop, no piso superior do Teatro Santander (Av. Juscelino Kubitscheck, 2.041, São Paulo), ao lado do shopping JK Iguatemi. Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla.

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QUEM FEZ

Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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