Luccas Oliveira
Em São Paulo, ex-estrela Disney fez grande show e provou que não está para brincadeiras em sua guinada para o rock and roll
Demi Lovato surpreendeu o público presente ao seu primeiro show no Brasil em mais de cinco anos, nesta terça-feira (30). Na primeira das duas noites que fará em São Paulo, no Espaço Unimed, a ex-estrela Disney estremeceu a casa ao adiantar o que vai mostrar no palco Mundo do Rock in Rio, no próximo domingo (4).
Resumidamente, Demi Lovato provou que não estava brincando quando anunciou sua era rock and roll, confirmada pelo álbum Holy Fvck, lançado menos de duas semanas atrás. Ela absorveu o que há de melhor nas performances do gênero e provou que algumas coisas podem e devem mudar no meio.
As noves faixas do disco que entraram na setlist do show, aliás, já foram devidamente decoradas pelos Lovatics, os fãs fervorosos da cantora e compositora. Muitos deles, inclusive, aderiram mesmo à nova era: era fácil ver adereços como gargantilhas, correntes, roupas pretas, lápis de olho e outros símbolos comuns a shows de rock.
Acima de tudo, porém, houve a performance. E Demi Lovato fez uma apresentação de rock tão potente que pode chegar ao Rock in Rio levando verdadeiras lições aos roqueiros old school. Duvida? Na Grade, que esteve no primeiro show de São Paulo, lista algumas abaixo.
Alô, Axl Rose! Esta é para você. Demi Lovato subiu ao palco do Espaço Unimed pontualmente às 21h30, horário previamente anunciado para o show. A apresentação durou 1h15, dividida por cerca de 20 músicas. Ou seja, deu tempo para os fãs pegarem o transporte público, que até meia-noite é bem servido pelo terminal Barra Funda.
Vale lembrar que os roqueiros das antigas não são exatamente chegados na pontualidade. O líder do Guns N´ Roses, inclusive, já subiu ao palco do Rock in Rio com mais de 1h30 de atraso, em 2011. A banda de hard rock volta a se apresentar no festival em 8 de setembro.
Um verdadeiro show de rock tem som alto, solos de guitarra, bateria e baixos sincronizados e alguém no microfone segurando o ímpeto do público. O de Demi Lovato teve isso e muito mais.
Inclusive, ela conseguiu algo que nem sempre se vê: o Espaço Unimed com som redondo, alto. O grave até fazia o chão e os telões vibrarem. O de Rosalía, por exemplo, foi na mesma casa, e o volume deixou a desejar em diversos momentos.
Mesmo no Rock in Rio, com toda aquela estrutura, por vezes acontece de o som não ficar exatamente equalizado ou balanceado. Em São Paulo, Demi deixou claro que isso não vai acontecer.
Em duas oportunidades, a cantora de 30 anos recém-completados parou a performance para pedir atendimento a fãs na plateia. Na primeira, a interrupção rolou no meio da música Confident, inclusive. “Não vamos seguir com o show se vocês não estiverem bem”, garantiu Demi ao Lovatics.
Ela solicitou à produção que distribuísse garrafas d’água a quem estava mais perto do palco —geralmente, fãs que acamparam há dias na porta da casa de show para garantir o lugar.
Shows de rock exigem muito do público e, em grandes festivais, muitos não estão devidamente preparados fisicamente para a maratona. Resta saber como ela —e a turma do dia do metal, que abre o Rock in Rio— vão se portar neste sentido na Cidade do Rock.
Rockstar consciente, Demi Lovato é acompanhada por quatro mulheres no palco, todas para lá de competentes e exalando o espírito rock and roll. A banda conta com uma guitarrista (a própria Demi também toca o instrumento, em alguns momentos), uma baixista, uma tecladista e uma baterista.
Num meio historicamente machista, a norte-americana vai mostrar no Rock in Rio que é possível fazer um show pesado e azeitado sem ter homens na banda. Talvez seja a única.
A performance começa com 15 minutos de porrada intensa. Demi emenda quatro faixas do novo disco, Holy Fvck, Freak, Substance e Eat Me, numa energia ainda mais intensa que a das gravações originais, beirando o heavy metal.
Porém, o destaque mesmo fica para as releituras em rock & roll de músicas da época estrela teen de Demi Lovato, como Skyscraper, Sorry Not Sorry (o mais alto ponto do show), Heart Attack e a quase recente Cool for the Summer, que fecha a apresentação. É um show de rock e eu duvido que alguém possa apontar o contrário.
Este item não é para qualquer um, precisamos admitir. A rock band Demi Lovato conta com uma fórmula muito específica: um imenso público de divas pop com saudade de seu ídolo; uma cantora extremamente bem dotada, capaz de segurar sua voz ao vivo como poucos astros do rock são capazes; a energia imbatível do rock and roll.
Foi assim que Demi Lovato voltou ao Brasil com uma performance histórica, que promete surpreender dezenas de milhares de pessoas na Cidade do Rock —e na televisão— no próximo domingo.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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