Juan Acosta, chefe da Paramount na América Latina
ENTREVISTA EXCLUSIVA

Crise? Chefão da Paramount prevê que streaming no Brasil vai triplicar

Juan Acosta, presidente da Paramount na América Latina, entrega próximos projetos no Brasil e rejeita que bolha do streaming tenha estourado

Divulgação/Paramount

Luciano Guaraldo
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A guerra do streaming entrou em um novo capítulo. Cada vez mais players estão lançando plataformas próprias, a ponto de ficar difícil de acompanhar todos os serviços disponíveis. A Netflix perdeu assinantes pela primeira vez em mais de uma década, e foi obrigada a fazer cortes em equipe e nos gastos com conteúdo. Apesar do cenário ruim, o chefão da Paramount na América Latina, Juan Acosta, mantém uma visão otimista: o executivo prevê que o número de brasileiros que usam o streaming ainda vai triplicar.

“O mercado de assinantes de serviços de video on demand no Brasil vai chegar a 60 milhões em 2027. Então, especialmente aqui no país, a guerra do streaming vai esquentar muito mais, porque tem um volume potencial de clientes muito grande”, entrega Acosta em conversa exclusiva com a Tangerina.

Juan Acosta, “JC” para os íntimos, é presidente dos estúdios internacionais e de canais da ViacomCBS no sul da Europa, na América Latina, no Oriente Médio e na África. Apesar do cargo grande, para o público brasileiro o importante é saber que ele é o principal executivo da Paramount por aqui: Acosta é o responsável por aprovar estratégias formuladas pelo time nacional e latino para o streaming Paramount+ e para canais como Nickelodeon, MTV e Comedy Central.

No Brasil, a guerra do streaming conta com um “lutador” que não está presente em nenhuma outra batalha internacional, o Globoplay. E não é fácil competir com a Globo, uma empresa que está presente na casa dos brasileiros há mais de meio século, diariamente. Mas Acosta não se abala; nem mesmo depois de ver os resultados ruins da Netflix no primeiro trimestre.

“Eu não posso falar pela Netflix (risos), mas acredito que a Paramount desenvolveu uma estratégia diversificada, que não resultará na reação imediata que a Netflix tomou, de lançar planos mais baratos com publicidade. Nosso foco é sempre o conteúdo. De crianças em idade pré-escolar a adultos, de esportes a notícias. Queremos estar em todos os lugares onde o consumidor está.”

Aqui, ali e em todo lugar

Patrick Estrela e Bob Esponja

A animação Bob Esponja tem um canal exclusivo no Pluto TV

Divulgação/Nickelodeon

Quando fala em estar em todos os lugares, Acosta não exagera. Muito antes de a Netflix sequer cogitar inserir anúncios em seu conteúdo para lançar assinaturas mais baratas, a Paramount já fazia isso com o Pluto TV. Com o diferencial de ser um serviço totalmente gratuito –os comerciais “bancam” a plataforma, como acontece na TV aberta.

“A guerra do streaming está pegando fogo, o segundo round está começando agora, mas eu sinto que nós estamos em uma posição melhor do que a concorrência. Porque, veja bem, antes havia um certo preconceito com serviços bancados pela publicidade, que não seriam uma experiência premium para o consumidor. E nós já tínhamos o Pluto. E também temos uma plataforma premium [Paramount+]. Por que abrir mão de um par de olhos se você pode fisgar todos eles com experiências diferentes?”, provoca o executivo.

No momento, adianta Acosta, o foco do conglomerado é o streaming, mas isso não significa que as outras plataformas serão deixadas de lado. Um produto para o público infantojuvenil desenvolvido para o Paramount+ pode ser exibido também na Nickelodeon. E, depois, ser negociado para que também esteja na grade do SBT ou da Globo.

“Na Argentina, por exemplo, nós temos a Telefe [rede de TV aberta]. Lançamos quatro episódios de uma série no Paramount+, e logo depois eles foram ao ar de segunda a quinta na Telefe. E na mesma quinta disponibilizamos os quatro episódios seguintes no streaming. A nossa expectativa era apenas de que uma estratégia não canibalizasse a outra, mas o resultado foi muito melhor do que o esperado. Um daqueles casos em que 1+1=3, em vez de 1,75, sabe? Você pode maratonar no streaming ou pode ver um capítulo por dia na TV aberta. Damos todas as opções para todo tipo de público”, valoriza Acosta.

Próximos passos do Paramount+

Anderson Silva

O lutador Anderson Silva será tema de uma série roteirizada no Paramount+

Divulgação/Instagram

No início desta semana, o Paramount+ anunciou que vai produzir 150 filmes e séries originais ao redor do mundo até 2025. O Brasil, claro, não está fora dos planos. Depois de lançar a série As Seguidoras e o filme Vai Dar Nada neste ano, a plataforma prepara uma série documental sobre o jogador de futebol Adriano Imperador. Já o lutador Anderson Silva terá sua vida contada em uma série roteirizada (segundo a jornalista Patrícia Kogut, o ator William Nascimento interpretará o Spider).

Para o público infantil (e os adultos saudosistas), há também uma adaptação do livro Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias, obra clássica de Ruth Rocha que apresentou muitos brasileiros à leitura. “Essa nostalgia é o que nos motiva a criar mais conteúdo, queremos contar histórias com as quais as pessoas se relacionem de alguma maneira”, promete Acosta.

A Tangerina aproveita a entrevista para tentar arrancar algum outro projeto em desenvolvimento, mas o executivo é escolado na arte de desconversar. “Temos séries com o Porta dos Fundos, documentários esportivos, tem muita coisa boa vindo aí. O importante é que temos lideranças fortes no Brasil, com a Maria Angela [de Jesus, diretora sênior de produção da VIS] e a Tereza [Gonzales, chefe de desenvolvimento de ficção]. Ambas têm uma história rica, muita experiência no mercado e podem trazer vozes diversas para a mesa”, valoriza ele.

Diversidade, dá para perceber durante a conversa, é uma palavra-chave para o Paramount+. Foi por isso que Vai Dar Nada, primeiro longa original da plataforma no Brasil, trouxe protagonistas negros e mostrou personagens que raramente são representados no audiovisual nacional.

“O streaming nos dá a possibilidade de contar qualquer história que quisermos. Mas com isso vem a responsabilidade de contar histórias que outros não contaram, dar voz a narrativas que não tinham vez por causa do monopólio da mídia. Com o streaming, vem a possibilidade de ter vozes diferentes na criação do conteúdo. Do ponto de vista do entretenimento, é um presente e uma responsabilidade, algo que não podemos menosprezar jamais.”

“Estamos trabalhando com nossos parceiros para educá-los sobre a necessidade de investir em vozes que não eram representadas até então. Sei que o Brasil tem uma história complicada quando se trata de diversidade. Então ninguém espera que você já esteja totalmente resolvido na questão da inclusão, da diversidade. Nós mesmos não estamos lá ainda. Mas é importante dar os primeiros passos para construir um futuro melhor”, aponta Juan Acosta.

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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