Divulgação/PrimeVideo
Com trama simples e emocionante, No Ritmo do Coração já está no Prime Video e fala sobre inclusão, diversidade e acreditar em seus sonhos
Se houvesse um Oscar próprio para filmes estilo Sessão da Tarde (ou comfort films), No Ritmo do Coração (Coda) —remake americano do filme francês A Família Bélier, de Éric Lartigau —já teria levado. Como não há, o longa concorre no Oscar 2022 com outras produções, nas categorias de melhor filme, roteiro adaptado e ator coadjuvante.
Na linguagem musical, coda, título do filme em inglês, é um símbolo que indica uma extensão, um acréscimo em uma partitura musical, a indicação de que a música ainda não terminou. Porém, em termos sociais, é a sigla para Children of Deaf Adults (filhos de adultos surdos), que é justamente o caso de Ruby Rossi (Emilia Jones), protagonista do longa. Assim, o título original engloba, apropriadamente, as duas definições.
Na cidade costeira de Gloucester, Massachusetts, a adolescente Ruby é a única ouvinte de sua família. Os pais Frank (Troy Kotsur, indicado ao Oscar de ator coadjuvante) e Jackie (a ganhadora do Oscar Marlee Matlin) e o irmão mais velho Leo (Daniel Durant) são todos surdos de nascença. A família tem um barco pesqueiro e vive de vender o produto no mercado de peixes da região.
Como para conduzir o barco é preciso haver ao menos algum ouvinte (para atender o rádio, a Guarda Costeira etc.), Ruby, que está no último ano do ensino médio, auxilia a família em meio período. Ela parece não ter maiores planos além de vender peixes o resto da vida, e a família conta com sua presença em tempo integral depois que terminar os estudos.
A diretora Sian Heder cresceu na vizinha Cambridge e passou muitos dos verões de sua infância em Gloucester, onde se familiarizou com a comunidade pesqueira e os desafios que ela enfrentava. Em parte, é por isso que ela decidiu colocar uma família da classe trabalhadora no centro da trama.
Como vive em meio ao silêncio e só conversa com os familiares por meio de libras, Ruby ouve música o tempo inteiro e parece sentir muito prazer na atividade. Eis que surge a oportunidade de se juntar ao coral da escola, e ela se inscreve.
O coral é conduzido pelo expansivo (porém exigente) professor cubano Bernardo Villalobos (Eugenio Derbez). Mas, logo nas audições, onde é obrigada a soltar a voz na frente dos colegas, Ruby entra em pânico e foge. O convívio social é difícil para ela.
Ela é estigmatizada pelos dois lados: pela sociedade, por pertencer a uma família de surdos que parece viver reclusa por não conviver com ouvintes. Mas também pela própria família, que a enxerga como diferente por ter nascido ouvinte e faz dela sua ponte com o resto do mundo.
No Ritmo do Coração
É preciso ter empatia e respeito para ouvir de verdade
Ruby é a intérprete da família para tudo. Desde negociar direitos trabalhistas no sindicato dos pescadores e vender o peixe por um preço mais lucrativo, até ajudar o irmão a flertar.
A atriz Emilia Jones não é surda nem filha de surdos e passou nove meses aprendendo libras para contracenar com os demais atores, eles sim, surdos.
Logo, o professor de música enxerga um talento nato em Ruby e a destaca, juntamente com seu colega Miles (Ferdia Walsh-Peelo) para fazer um dueto ao final do ano letivo. Como se não bastasse, o professor também apresenta à garota a possibilidade de cursar, via bolsa, a famosa universidade de música de Berklee.
Ela apenas precisa se comprometer a ensaiar e se apresentar no dia marcado para uma audição. A partir daí, grande parte da trama se ocupa em mostrar o dilema de Ruby entre escolher cuidar de si mesma e de seu futuro, ou passar o resto da vida sendo intérprete da família. Somos apresentados aos dois lados da história, com suas complexidades e justificativas, e também ficamos bem divididos. Mas a família de Ruby parece ter decidido o que fazer.
O trunfo de No Ritmo do Coração é não cair no lugar comum e mostrar a família de Ruby como totais incapacitados. Eles são ativos, incríveis, amorosos, festeiros, felizes. E existe muito mais em querer manter Ruby entre eles do que os ouvidos podem ouvir e as mentes imaginar.
É um filme de aquecer o coração, que nos ensina que, para ouvir, não basta termos ouvidos saudáveis, mas sim empatia e respeito.
Leva que tá doce! O pai é uma figuraça! Todas as interações dele rendem uma boa risada. O mesmo vale para a peça que Ruby prega quando “traduz” a cantada da melhor amiga dirigida ao irmão.
Dois pelo preço de um: Se você gostou de Pequena Miss Sunshine, vai gostar de No Ritmo do Coração.
Presta atenção, freguesia: Na trilha sonora, óbvio. Tem Etta James, Marvin Gaye, Joni Mitchell e The Clash. Lindo.
Gabi Franco
Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.
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