Os Olhos de Tammy Faye provam que o Oscar adora uma transformação

Um dos vencedores das principais categorias do Oscar 2022 finalmente estreia no Brasil. Nesta quarta (6), estreia no Star+ Os Olhos de Tammy Faye, de Michael Showalter (diretor da série Dropout) que deu à atriz Jessica Chastain o Oscar de melhor atriz, além de também levar o prêmio de melhor maquiagem e penteado.

O longa é baseado no casal de tele-evangelistas estadunidenses mais famosos dos anos 1970-80: Tammy Faye Bakker (Chastain) e Jim Bakker (Andrew Garfield), que juntos criaram a maior emissora de TV exclusivamente evangélica do mundo. Mas a história não para por aí. O casal também foi protagonista de um dos maiores escândalos financeiros e sexuais do mundo gospel, que inclui lavagem de dinheiro, traições, contratação de prostitutas entre outros delitos.

No entanto, a figura de Tammy Faye acabou ganhando destaque, muito por conta de seu porte extravagante, maquiagem carregada, carisma e magnetismo pessoal, mas principalmente por seu apoio e carinho pela comunidade LGBTQIA+. Em tempos de epidemia da AIDS, ela bateu de frente com líderes evangélicos conservadores de sua própria emissora, criando assim uma forte cisão entre os religiosos e a comunidade gay, que se estende até hoje.

Jessica Chastain muito além da maquiagem

Apesar do escândalo envolvendo o casal ter sido um evento que repercutiu muito nos EUA e não no resto do mundo, é impossível não ser pego nos meandros desta cinebiografia, que esquadrinha a ascensão e queda dos Bakker. Desde a origem humilde de ambos, o sonho legítimo de serem evangelizadores até a egotrip de virarem estrelas da televisão com participações em documentários, sitcoms e talk-shows, rumo a um fim trágico. É o tipo de história que nos cativa por completo.

O desempenho de Jessica Chastain é notório e mereceu o prêmio. Os trejeitos histriônicos, os jargões de autoajuda e o comportamento forçadamente altruísta e extremamente amável frente a toda e qualquer situação, acabam causando um misto de fascínio, espanto e dó no espectador. Sem contar a transformação física pela qual a atriz passou para encarnar uma personagem tão chamativa e destoante de sua própria figura. E sabemos o quanto a Academia adora esse tipo de coisa. Outro aspecto que chama a atenção na interpretação da atriz é sua performance como cantora, já que Faye ganhou diversos discos de ouro por vendas dos 35  álbuns gospel que gravou. 

Os Olhos de Tammy Faye

Um retrato rico e cativante da trajetória de um casal de tele-evangelistas

No final, Os Olhos de Tammy Faye é o retrato paradoxal de pessoas reais que perderam o rumo frente aos apelos do mundo. Expõe sem dó o machismo e intolerância de líderes religiosos e a violência exercida por homens colocados, erroneamente, acima de qualquer julgamento, além da solidão e silenciamento das mulheres no meio evangélico. Tammy Faye teve defeitos, como qualquer ser humano, mas seu apoio e compreensão em relação à comunidade LGBTQIA + foram genuínos e responsáveis por abrir diálogo entre gays e religiosos.

O longa foi baseado no documentário homônimo de Fenton Bailey e Randy Barbato, ambos produtores do reality show RuPaul’s Drag Race, e o elenco também conta com nomes como Cherry Jones (O Conto da Aia), Vincent D’Onofrio (Demolidor) e Fredric Lehne (O Rei do Show).

Leva que tá doce: Uma cinebiografia redondinha que revela toda riqueza e contradição de seus personagens principais.

Presta atenção, freguesia: Andrew Garfield não foi indicado por este filme, mas também não fica atrás. Manda muito bem.

Dois pelo preço de um: Ainda na pegada de líderes religiosos que se perdem no meio do caminho fica a série The Righteous Gemstones, na HBO Max