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Se o Big Brother Brasil ganhou novo fôlego depois de 2020, Felipe Simas tem um dedinho de responsabilidade. Ele é produtor de Manu Gavassi, cantora que desenvolveu sozinha os mais de 100 vídeos gravados antes do confinamento e que foram publicados por sua equipe conforme o programa se desenvolvia. A estratégia foi copiada por boa parte dos famosos (e até por anônimos) que toparam o desafio de ser um futuro ex-BBB em 2021 e em 2022.
Agora, Felipe Simas quer repetir a experiência transformadora nas séries de TV. Ele é a mente criativa por trás da minissérie Tá Tudo Certo, que o Disney+ estreia no segundo semestre. No elenco, nomes fortes da música jovem, como o duo Anavitória, Pedro Calais (da banda Lagum), Vitão e Agnes Nunes. Praticamente novatos na atuação, eles interpretam personagens que levam muito de si mesmos, em uma história de amor que o empresário define como uma grande fanfic. Algo na linha: o que aconteceria se Ana e Pedro fossem músicos iniciantes em busca do sucesso e acabassem se apaixonando?
“Todo o elenco é de gente da música. A gente escreveu a história já pensando nos cantores, então cada personagem leva um pouco do seu intérprete”, explica Simas em entrevista exclusiva à Tangerina. Ele divide os roteiros com Raphael Montes, de Bom Dia, Verônica, e com o cantor Rubel, responsável pelos diálogos da série. “Eu e o Rubel conhecemos muito bem a Ana, então sabemos escrever para a boca dela.”
“Nesse sentido, a lógica da construção dos personagens é a inversa da tradicional. Os personagens são inspirados no ator, para facilitar a interpretação. E cada ator coloca bastante de si no personagem. Mas Ana e Pedro são um casal que vai entrar para a história, os dois têm muita química, é algo que transparece na tela”, provoca o empresário, ciente de que apenas essa frase é mais do que suficiente para deixar os fãs em polvorosa.
Felipe com Manu Gavassi: artista virou o BBB do avesso
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Questionado pela reportagem sobre o seu papel na transformação do BBB, em que agora ter uma estratégia fora da casa é tão importante quanto o jogo lá dentro, Felipe Simas desconversa. “A minha contribuição para os realities foi enxergar na Manu algo que o Brasil ainda não tinha visto. Eu convivia com ela há anos, estava muito seguro de que ela ia dar show no programa. E foi o que aconteceu. Só isso”, minimiza.
Ele é menos despretensioso, porém, ao falar sobre seus planos para Tá Tudo Certo. “Eu quero, de fato, mudar o audiovisual jovem. Qual era a minha insatisfação com esse gênero? Ver que tudo que é feito para esse público young adult subestima a inteligência dele. Quando eu fiz Ana e Vitória [2018], minha ideia era retratar essa geração. Eu estava aprendendo muito com elas”, lembra.
“Na minha época [de jovem], todos tinham sua tribo. Descobri que hoje é bem mais diverso, todo mundo consome de tudo. Eu tinha uma vontade muito grande de fazer uma produção honesta, que não soasse muito infantilizada nem deturpada, com uma visão antiquada da juventude. Entendo que os conflitos dessa faixa etária se repetem, mas a dinâmica de vida deles é diferente. Queria fazer algo com que o jovem se identificasse”, explica Felipe Simas.
As inspirações para Tá Tudo Certo, curiosamente, vieram de longas do passado. “Eu mirei no John Hughes [1950-2009], naqueles filmes dos anos 1980. Clube dos Cinco [1985], Curtindo a Vida Adoidado [1986]. Acho que nenhum outro momento da história fez produções para adolescentes tão bem. Os filmes do John Hughes para mim são o melhor retrato de um adolescente. O Pedro é o próprio Ferris Bueller [Matthew Broderick], um bonachão.”
Simas com Pedro Calais e Ana Caetano nos bastidores de Tá Tudo Certo
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Tá Tudo Certo nasceu da vontade de Felipe Simas de ajudar artistas iniciantes que o procuram em busca de conselhos. “É complicado lidar com o sonho das pessoas. Quem sou eu para desmotivar o sonho de alguém? Ou então dar corda para depois a pessoa não acontecer? Não dá. Comecei a pensar em como eu poderia embalar minha mensagem de uma maneira lúdica.”
A resposta surgiu como o que seria, inicialmente, um filme. “Decidi escrever a história de artistas jovens, tanto os que buscam seu lugar ao sol quanto aqueles que fazem música só pelo prazer. Eu sempre tive muita vontade de falar sobre a indústria fonográfica, tudo o que eu penso, como ela se adaptou aos novos tempos. Mas eu também sou da indústria, então o sincericídio seria complicado (risos). Aí fiz em forma de ficção, com essa comédia romântica que é musicada, mas não é um musical.”
O projeto de Tá Tudo Certo, vale ressaltar, surgiu em um momento em que nada estava certo. O empresário bolou o projeto no início da pandemia. “Eu sabia que a gente ia ficar muito tempo sem fazer shows. Se fosse em uma época normal, não teria como parar esse tempo todo, porque fazer um filme leva pelo menos uns dois meses”, lembra.
O momento péssimo para a saúde mundial se revelou um pouco melhor para projetos audiovisuais. “Durante a pandemia, os parques temáticos da Disney fecharam um tempo, depois que reabriram faturaram menos. Eles, então, aceleram os investimentos no Disney+, nos Estados Unidos, no Brasil, no mundo todo. Foi uma coincidência, eu tinha esse projeto na mão, eles estavam procurando conteúdo novo para o público jovem.”
Por uma questão logística, o filme pensado por Simas virou uma minissérie desenvolvida a seis mãos por ele, Rubel e Raphael Montes –que está em alta no streaming, com projetos simultâneos para Disney+, Netflix e HBO Max. “O Raphael queria se aventurar fora da literatura policial. E eu, até então, nunca tinha escrito um roteiro, então ele me ajudou demais, entende tudo de storytelling”, elogia.
Com Toni Garrido e Gita, sua aposta de revelação em Tá Tudo Certo
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Bem-humorado e sem papas na língua, o empresário admite que tocar Tá Tudo Certo com a Disney fez com que ele precisasse rever alguns de seus ideias. É que Felipe Simas é do tipo que gosta de se envolver em cada detalhe dos seus projetos, a ponto de recusar novos agenciados por saber que não teria tempo para administrar a carreira deles da maneira que gostaria. E fazer uma série para o streaming significa abrir mão do controle total.
“A partir do momento que eu vendi o projeto em desenvolvimento, virei um funcionário da Disney. De fato, eles me deram muita liberdade, eu escrevi, dirigi, fiz a direção musical. Mas a participação deles é muito ativa. Em alguns momentos a gente teve que chegar a um consenso, sobre linguagem, ritmo, e principalmente na edição”, admite, aos risos.
“Mas eles foram muito generosos em me ouvir. Compraram minha expertise em relação a esse público jovem, e eles têm a expertise deles também, claro. Entendem os hábitos de quem consome streaming melhor do que ninguém, sabem que o começo da história precisa ser muito bom porque é o momento em que a maior parte do público desiste de assistir e vai procurar outro conteúdo. Para mim, foi um exercício de desprendimento, de entender que não vai ficar tudo 100% da maneira que eu quero, mas que a gente vai chegar a um denominador comum.”
Liderado por Ana Caetano e Pedro Calais, o elenco de Tá Tudo Certo conta com Vitão, Toni Garrido, Gita, Clara Buarque, Cynthia Senek, Rubel, Vitória Falcão, Manu Gavassi, Sandra de Sá, Agnes Nunes, Benjamín, Serjão Loroza, além da skatista Rayssa Leal e das bandas O Grilo e Jovem Dionísio (sim, aquela do viral Acorda Pedrinho).
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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