Divulgação/Hulu
Fire Island: Orgulho & Sedução, disponível no Star+, adapta obra clássica de Jane Austen para o universo da pegação LGBTQIA+
Obra mais famosa de Jane Austen (1775-1817), Orgulho e Preconceito foi adaptada diversas vezes para a TV e o cinema. Das versões mais literais, como a minissérie estrelada por Colin Firth e Jennifer Ehle em 1995, às mais malucas, do tipo que envolve zumbis e ninjas. No Brasil, o livro já inspirou até novela da Globo. Em pleno Mês do Orgulho LGBTQIA+, chega sua adaptação mais recente, Fire Island: Orgulho & Sedução.
O filme, disponível no Star+ desde a última sexta-feira (3), pega a trama de Orgulho e Preconceito e a leva para o universo queer. Afinal, a Fire Island que dá nome à produção é uma espécie de refúgio da comunidade para um período de festas e pegação. Como narra o protagonista, Noah (Joel Kim Booster), a ilha “é a Disney dos gays”.
Em vez de uma família com cinco irmãs, Fire Island gira em torno de cinco amigos gays que, de tão unidos, criaram laços fraternais. Todos os anos, eles viajam para a ilha para esquecerem os problemas cotidianos e se divertirem, ficando hospedados na casa da lésbica Erin (Margaret Cho) durante uma semana.
Noah faz as vezes de Elizabeth Bennett, como o protagonista independente e corajoso que não precisa de um relacionamento sério com um homem para se sentir completo –mesmo que isso signifique ser adepto de pegar todo mundo que cruzar o seu caminho, sem o menor compromisso.
Seu melhor amigo (ou “irmão” mais velho) é Howie, o homem sério que sonha com aquele romance bem clichê, que faz sentir borboletas no estômago e calafrios na espinha. Ele mesmo diz que busca sua comédia romântica, com príncipe encantado e tudo mais a que tenha direito. Ou seja, é a versão de Fire Island para Jane Bennett.
James Scully, Nick Adams e Conrad Ricamora em Fire Island
Divulgação/Hulu
Como toda Jane sonha com um Bingley, e Elizabeth não é ninguém sem um Darcy para confrontar, surgem os bonitões Charlie (James Scully) e Will (Conrad Ricamora), amigos ricos e cercados de gays mimados e pouco dispostos a se misturarem com gente do nível de Noah e Howie. O problema é que Charlie e Howie rapidamente sentem uma atração, e suas respectivas amizades forçam Noah e Will a conviverem também.
Não é preciso ter lido Jane Austen para saber a conclusão da história. Mas Fire Island surpreende ao fugir do lugar-comum e modernizar a trama. Sua versão do infame George Wickham, o sensual Dex (Zane Phillips), por exemplo, tem uma página no OnlyFans –uma ferramenta que influencia diretamente no destino de Luke (Matt Rogers), a Lydia Bennett do filme.
Uma pena que, muitas vezes, a tentativa de adaptação de Orgulho e Preconceito coloque os personagens dentro de estereótipos dos quais não conseguem escapar. Keegan (Tomás Matos) e Max (Torian Miller) pouco têm a fazer que não sejam explicitar que estão ali apenas para que Kitty e Mary tenham suas respectivas versões.
História à parte, Fire Island: Orgulho & Sedução ganha pontos por causa da representatividade. Além de ter apenas atores LGBTQIA+ em seu elenco, o filme ainda aposta em diferentes etnias. Os protagonistas são asiáticos, mas há também negros e latinos nos papéis principais –algo raro não apenas em produções com temática gay, mas em Hollywood de maneira geral.
Joel Kim Booster, roteirista e protagonista, é um talento que merece ser mais conhecido no Brasil. O mesmo vale para Bowen Yang, um dos destaques da atual fase do Saturday Night Live. Conrad Ricamora, querido dos brasileiros por seu trabalho coadjuvante em How to Get Away with Murder (2014-2020), se mostra um ator com força suficiente para carregar um projeto nas costas. E James Scully, da série You, também chama a atenção com o jeito adoravelmente bobo de Charlie.
Fire Island: Orgulho & Sedução
Confira o trailer da comédia disponível no Star+
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
Ver mais conteúdos de Luciano GuaraldoTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?