FILMES E SÉRIES

Sam Waterston

Reprodução/NBC

HISTÓRIA

Há 27 anos, Law and Order criou o crossover e revolucionou a TV

Primeiro crossover entre séries aconteceu em 1995 e envolveu negociações até entre produtoras diferentes

André Zuliani

Entre os fãs de cultura pop, os chamados “crossovers” são extremamente populares no cinema e na TV. É esta ideia que rege o Universo Marvel desde o lançamento de Homem de Ferro (2008) e que ajudou a transformar as produções do Arrowverse, por exemplo, em hits globais. O que poucos sabem, no entanto, é que este conceito foi criado há quase três décadas por uma das maiores franquias de todos os tempos: Law & Order.

Em 2022, o conceito de crossover é uma ferramenta quase constante na TV, no cinema e no streaming. Além dos filmes e séries do MCU, franquias como OneChicago, NCIS, FBI e até Grey’s Anatomy reaproveitam a ideia que começou a ser popularizada em meados dos anos 1990. Naquela época, uma ideia sem precedentes transformou algo inédito em realidade.

Há 27 anos, um encontro despretensioso entre duas lendas da TV norte-americana abriu o caminho para o que seria uma revolução na TV. Durante a festa de celebração da semana do upfront, na qual as emissoras dos Estados Unidos revelam suas programações para a próxima temporada, dois dos principais executivos da rede NBC na época sentaram-se à mesma mesa. Dick Wolf, a mente por trás de Law & Order, e Tom Fontana, na época showrunner e produtor executivo de Homicide: Life on the Street (1993-1999).

Conhecidos de longa data, Wolf e Fontana comandavam dois títulos campeões de audiência da NBC. Ambos eram fãs dos trabalhos um dos outros desde os anos 1980, quando ainda sequer cogitavam unir as franquias de sucesso. “Nós sempre mantivemos contato enquanto nossas carreiras tomavam caminhos diferentes. Tom se mudou de volta para Nova York, enquanto eu continuava em Los Angeles”, contou Wolf em entrevista recente ao site Deadline.

“Homicide era uma das minhas séries favorita, e ele [Fontana] disse que Law & Order era uma de suas favoritas. Nós conversamos e pensamos que seria interessante e divertido se conseguíssemos criar uma história que cruzasse as duas séries. Nem ele, nem eu achávamos que isso havia sido feito antes”, continuou.

Para que a ideia saísse do sonho para se tornar realidade, foi necessário um empurrãozinho de alguém ainda mais importante do que os dois showrunners. Warren Littlefield, atualmente conhecido por ser produtor de séries como The Handmaid’s Tale e Fargo, na época era presidente de Entretenimento da NBC e foi o primeiro a ser atraído para este conceito até então inédito na TV.

“O sucesso tem muitos autores. Meu sentimento era que, quando você tem muitas pessoas trabalhando para você e criando bons conteúdos, você os coloca juntos em uma sala com atmosfera de festa e coisas boas vão acontecer”, relembrou Littlefield à publicação.

“Eu disse: ‘Amo que você dois estão juntos. Sabe, vocês têm duas séries incríveis em nossa emissora, nós poderíamos fazer alguma coisa com isso’. Talvez eu tenha mencionado a palavra ‘crossover’. Sabe, era tarde da noite, era uma festa e as pessoas estavam celebrando. Eu me lembro que, em certo momento, no fim da noite, eles disseram: ‘Nós conseguimos fazer isso’. Eu só pensei o quanto isso seria incrível.”

Um sonho (im)possível

Com os dois showrunners alinhados com a ideia do crossover, outros grandes obstáculos precisariam ser ultrapassados para tornar o sonho em realidade. O principal deles era convencer os dois estúdios responsáveis pelas produções das séries: o Universal Television, de Law & Order, e o da própria NBC, que comandava Homicide.

Em 1995, os dois estúdios ainda funcionavam separadamente, muito antes da fusão que originou a criação do atual conglomerado intitulado NBCUniversal. Por isso, seriam necessárias várias etapas de negociações entre as empresas para que o crossover se tornasse viável.

“Depois que nós descrevemos a ideia, os produtores disseram: ‘Alô, NBC e Universal? Isso nunca vai funcionar’. Eu acho que foi realmente a persistência deles e nosso desejo de colocar dinheiro no conceito que mudou tudo. No fim do dia, nós fomos de ‘nunca vai funcionar’ para ‘sabe, talvez tenha um jeito de fazer isso'”, completou Wolf.

Cada estúdio tinha os próprios planos de venda e distribuição de suas séries, e ter um episódio que apresentasse personagens de outra atração em uma história conjunta com um drama concorrente não era algo que eles sabiam como lidar. Havia temores sobre o potencial impacto que isso poderia ter em seus negócios.

Contudo, segundo o criador de Law & Order, ter a NBC como aliada na ideia tornou as negociações mais fáceis. E, assim, um sonho até então impossível se tornou realidade. “Nós fizemos nosso primeiro crossover em 1996. Foram os episódios de maior audiência para as duas séries”, disse Wolf.

Na ocasião, a história conjunta entre as duas produções ocorreu durante o 13º episódio da sexta temporada de Law & Order e o 12º episódio da quarta temporada de Homicide. Na trama, os detetives da primeira, situada em Nova York, investigam um atentado a bomba no metrô que tinha ligação com outro ataque ocorrido cinco anos antes em Baltimore, palco dos eventos da segunda atração.

Nos três anos seguintes, outros dois crossovers entre as séries foram realizados e registraram sucessos de audiência para a NBC. “Isso demorou para acontecer de novo por algum tempo, até que se tornou óbvio que poderia haver um crossover natural entre Law & Order e Law & Order: SVU. A audiência gosta, eu acho muito divertido, mas é muito difícil para os roteiristas. É algo difícil de se fazer, mas rende muito bem.”

“Sempre há uma fagulha para fazer isso [crossover]. Dá ao público um motivo para assistir. Em um mundo com infinitas escolhas, você precisa dar ao público um motivo para retornar”, finalizou Littlefield.

Crossover

Chamada original do crossover entre Law & Order e Homicide

Assista ao comercial da época (sem legendas)

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QUEM FEZ

André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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