Mal de Família: Série charmosa exorciza relações com parentes ruins

Toda família tem um parente insuportável, que irrita tanto todo mundo a ponto de tornar impossível (ou quase) a convivência. Aquele parente que te força a imaginar maneiras de matá-lo apenas para dar vazão à raiva e à frustração. A série Mal de Família, que estreia nesta sexta (19) no Apple TV+, vai além da mera imaginação e coloca em prática os planos para eliminar o tal insuportável. E você vai se pegar torcendo pelas aprendizes de assassinas apenas pela chance de exorcizar seus próprios desafetos.

As heroínas (ou anti-heroínas) da história são as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan, também criadora da série), a mais velha e responsável; Ursula (Eva Birthistle), a enfermeira que está tendo um caso extraconjugal; Bibi (Sarah Greene), a irritada que não leva desaforo para casa; Becka (Eve Hewson), a caçula que não é levada a sério; e Grace (Anne-Marie Duff), a que foi perdendo a própria personalidade depois que se casou com JP (Claes Bang) –o parente que merece morrer.

A caracterização de JP não é das mais sutis: toda vez que ele abre a boca é para soltar algum impropério. Ele ainda maltrata a própria mulher, a filha, as cunhadas e qualquer um que cruze o seu caminho, arma planos e chantagens para desestabilizar todo mundo e não faz a menor questão de ser amado –ou sequer suportado. E a série começa justamente com o velório do capeta encarnado.

Não demora para o público perceber que a morte de JP não ocorreu por causas naturais, e aí Mal de Família engata os seus melhores momentos. Ao mesmo tempo em que vira um suspense para descobrir quem matou o vilão (e qualquer personagem teria motivos mais do que justos para optar pelo ato), é também uma comédia com as tentativas cada vez mais absurdas de assassinato.

Há ainda um aspecto de investigação criminal, com os irmãos Thomas e Matthew Clafflin (Brian Gleeson e Daryl McCormack) tentando provar que a morte não foi natural para se livrarem do pagamento do seguro de vida, além de um romance digno de Romeu e Julieta entre uma das cinco irmãs e um dos investigadores –uma paixão incontrolável entre duas famílias de lados opostos da história.

Com tantos gêneros misturados, Mal de Família se assegura de ter ingredientes para todos os públicos. E executa todos eles com muito sucesso. Não se surpreenda caso você se pegue tendo crises de riso, de raiva e de choro em um único episódio. A produção também ganha pontos ao explorar as paisagens charmosas de uma Irlanda que raramente é mostrada na televisão ou no cinema.

E, acima de tudo, a série do Apple TV+ se destaca ao mostrar cinco protagonistas extremamente humanas, com suas qualidades e defeitos, personalidades difíceis e vícios –e claro, com o desejo de matar um integrante da própria família. Depois de uma geração de séries que colocavam os homens como anti-heróis (que o digam Tony Soprano, Walter White, Don Draper e companhia), agora é a vez delas de quebrarem tabus e passarem longe da perfeição que se espera de uma personagem feminina.

Trailer de Mal de Família

Sharon Horgan (de Catastrophe) é a criadora e protagonista da série