(Foto: Divulgação/Netflix)
O streaming abriu mão de um dos pilares que definiram sua identidade justamente para continuar sendo a referência que sempre buscou ser
A Netflix sempre defendeu que não precisava das salas de cinema para fazer seus lançamentos virarem conversa global. Durante anos, a estratégia da plataforma foi simples: estrear tudo direto no streaming e colher audiência ali mesmo, sem dividir espaço com redes de exibição tradicionais. Mas 2025 marcou uma virada histórica. A empresa, que finalmente decidiu abandonar essa filosofia, fez isso de forma tão clara que já está afetando como seus maiores títulos chegam ao público.
A mudança ficou evidente quando Caçadoras de K-Pop ganhou uma versão especial para os cinemas. O filme, que já tinha estreado na Netflix, voltou às telonas em um evento pontual e acabou liderando a bilheteria no período. Não foi um teste tímido: foi um experimento calculado para medir algo que a plataforma vinha ignorando por anos: o impacto cultural que só uma sala cheia, barulho de plateia e experiência coletiva conseguem produzir.
Logo depois, veio o anúncio que chamou ainda mais a atenção: a Netflix vai lançar o final de duas horas de Stranger Things nos cinemas dos Estados Unidos no mesmo dia que o episódio chega à plataforma. É um movimento que coloca a exibição teatral como parte da própria campanha de lançamento, e não mais como uma exigência de premiação ou “agrado” a talentos, como acontecia no passado.
E não para por aí. A Netflix já começou a planejar janelas reduzidas para outros projetos ambiciosos. Frankenstein, de Guillermo del Toro, ganhou exibição limitada antes de ir para a plataforma. Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, novo capítulo da franquia de Rian Johnson, também será lançado primeiro nos cinemas, ainda que por pouco tempo. Até Nárnia, comandado por Greta Gerwig, já tem previsão de duas semanas de IMAX antes de chegar ao streaming.
A lógica agora é outra: a Netflix não está enxergando o cinema como uma nova fonte de receita, mas como ferramenta de marketing cultural. A exibição limitada cria evento, movimenta redes sociais, coloca as produções na boca do público e ajuda a manter o catálogo vivo. É uma resposta direta ao fenômeno que concorrentes como Disney e Warner já exploram há anos: filmes vistos no cinema tendem a ser retomados quando chegam ao streaming, gerando mais repercussão e permanência.
O que mudou foi a percepção de relevância. Depois de quase uma década dominando o streaming sozinha, a Netflix percebeu que a atenção do público está mais fragmentada do que nunca –entre outras plataformas, redes sociais e até jogos. Recuperar o status de “acontecimento global” exige algo mais do que simplesmente subir um título no catálogo e aguardar que ele viralize.
Se 2025 marcou a quebra dessa regra, o próximo ano deve consolidar essa nova fase. A Netflix abriu mão de um dos pilares que definiram sua identidade justamente para continuar sendo a referência que sempre buscou ser. E, ao que tudo indica, o público não está apenas aceitando a mudança: está comparecendo às salas para ver isso acontecer ao vivo.
Na Netflix, Frankenstein estreia em 7 de novembro. Já Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out chega na plataforma em 12 de dezembro. O finale de Stranger Things também tem lançamento programado para o mesmo mês, na véspera do Ano Novo. Assista abaixo ao trailer da série:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
Ver mais conteúdos de Victor CierroTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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