Divulgação/Searchlight Pictures
Longa com Anya Taylor-Joy, Ralph Fiennes e Nicholas Hoult estreia nos cinemas nesta quinta-feira (1º) com uma crítica ácida à sociedade
O Menu (2022) é o tipo de filme que não é nada sutil. Construído como um suspense para surpreender o espectador com constantes reviravoltas, o longa dirigido por Mark Mylod (Succession) é direto em sua principal missão: expor a hipocrisia e os delírios da burguesia atual.
Em tempos de polarização política, esta descrição pode soar como um deboche aos cidadãos abastados e com posição mais conservadora. No entanto, o alvo de Mylod é certeiro: sua crítica serve para aqueles que se veem no topo sem necessariamente entenderem o que isso significa, independentemente de suas visões mais à esquerda ou à direita.
Com a experiência de ter trabalhado em Succession, sensação da HBO que nada mais é do que uma sátira sobre uma família de ricos com o ego maior do que o mundo, o diretor decidiu explorar outro lado da hipocrisia burguês: o absurdo mundo da alta gastronomia. Sabe aqueles restaurantes que cobram os olhos da cara para o cliente respirar dentro do estabelecimento? Pois bem.
Ralph Fiennes como o macabro chef Slowik
Divulgação/Searchlight Pictures
No centro da trama está Margot (Anya Taylor-Joy), jovem que é convidada por Tyler (Nicholas Hoult) para viver uma experiência inesquecível em um dos restaurantes mais conhecidos do mundo, cuja cozinha é liderada pelo famoso chef Slowik (Ralph Fiennes). Além da cobrança de mais de US$ 1 mil por pessoa na reserva, o estabelecimento fica localizado em uma ilha distante, na qual todos os seus ingredientes são cultivados.
Junto de outros clientes autointitulados “especiais” –um astro de cinema e sua assistente, três funcionários do mercado financeiro, uma importante crítica gastronômica e seu editor, além de um casal milionário– Margot e Tyler entram no bizarro mundo comandado por Slowik. O que deveria ser apenas uma noite de degustação de comida especial e bons drinks, no entanto, torna-se um verdadeiro inferno para os convidados.
Após a degustação dos primeiros pratos, Slowik mostra que sua seleção de convidados nada teve de aleatória. Isso faz de Margot um alvo de início, já que ela foi chamada às pressas por Tyler após o rapaz terminar um relacionamento pouco antes do evento. Fato é que a jovem, única que não faz parte da “elite” da sociedade e prefere aproveitar um bom cigarro do que degustar alguns dos pratos mais caros do mundo, não se encaixa na realidade prevista pelo chef.
Anya Taylor-Joy e Nicholas Hoult
Divulgação/Searchlight Pictures
Pouco a pouco, o personagem de Fiennes tortura seus convidados no sentido literal e figurado. Além de colocar a vida deles em xeque, o chef esfrega a hipocrisia de suas vidas e conquistas em suas caras, despindo a chamada alta sociedade de seus delírios de elite. Em seu mundo, o milionário não consegue se salvar com dinheiro, nem o ator é capaz de pular fora da situação com sua influência. Sobra até para o não rico que apenas deseja fazer parte desta realidade, mas não consegue ir além de ser um puxa-saco.
O Menu é uma comédia sombria com ares de terror porque, depois de um tempo, o que está sendo servido passa do pretensioso ao perigoso. Até o alimento se torna parte da piada. Se Slowik diz que a comida é importante, nas entrelinhas, ela não importa. É uma abstração, uma ideia gerada para cumprir uma noção de perfeição que pouco tem a ver com sustento ou prazer, mas tudo a ver com a vaidade de quem a está cozinhando e de quem a está consumindo.
No fim, o longa é uma piada amarga para aqueles que se veem “dignos” de frequentar o mundo de O Menu. Nada ali tem validade que aparece na nota fiscal, nem mesmo aqueles que o consomem. É tudo um grande delírio imposto por aqueles cujo dinheiro importa mais do que tudo.
O Menu
Trailer legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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