Divulgação/Marvel Studios
Primeiro filme da franquia sem Chadwick Boseman estreia nos cinemas nesta quinta-feira (10); confira a crítica da Tangerina
Não é segredo para ninguém que Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre é um dos filmes mais aguardados do ano. Após a morte trágica de Chadwick Boseman (1976-2020), astro da franquia e um dos pilares do Universo Cinematográfico da Marvel, os milhões de fãs que ficaram órfãos do herói aguardavam ansiosamente para saber como o chefão Kevin Feige e o diretor Ryan Coogler iriam lidar com essa perda tão importante e inesperada.
Sem Boseman, Coogler precisou reescrever o roteiro e pensar em como daria sequência à história do reino de Wakanda sem o seu principal astro. Mesmo que o elenco de Pantera Negra (2018) tivesse grandes nomes e seja até hoje o único título da Marvel indicado ao Oscar de melhor filme, essa missão seria para lá de ingrata.
A revelação das primeiras imagens oficiais e do trailer de Wakanda Para Sempre deram início a um furacão de teorias e rumores nas redes sociais que indicavam quem assumiria o manto do herói depois de T’Challa. Nomes como Shuri (Letitia Wright), M’Baku (Winstone Duke), Nakia (Lupita Nyong’o) e até o vilão Erik Killmonger (Michael B. Jordan) foram cotados, mas a confirmação só veio realmente com a estreia do filme.
O momento de descobrir o futuro de Pantera Negra no Universo Marvel finalmente chegou, mas é agridoce. A responsabilidade de superar o elogiado primeiro filme, somada à necessidade de honrar e homenagear o legado de Chadwick Boseman, parece ter sido grande demais para Coogler e o roteirista Joe Robert Cole. Ao tentar emocionar e expandir o MCU ao mesmo tempo, a dupla não consegue fugir de tropeços.
Tenoch Huerta como Namor
Reprodução/Marvel Studios
Por mais que não seja mais um personagem da franquia, a sombra de T’Challa é sentida em todos os momentos de Pantera Negra 2. Desde o minuto inicial, a perda do guardião de Wakanda e as consequências de sua ausência são explicadas e intensificadas, fazendo com que o luto seja o principal motor dos personagens na sequência.
A morte do herói não apenas afeta psicologicamente sua família e aliados, como também deixa o reino de Wakanda mais vulnerável do que nunca. Com a decisão de T’Challa de abrir as fronteiras e compartilhar o conhecimento sobre vibranium no primeiro longa, a rainha Ramonda (Angela Bassett) se vê obrigada a encarar as ambições das grandes potências mundiais que veem o país africano como uma ameaça bélica sem precedentes.
Com a recusa de Wakanda em ajudar, países como os Estados Unidos e a França iniciam uma caçada pelo planeta em busca de vibranium –que, no Universo Marvel, é o metal mais poderoso do mundo. Com ferramentas altamente tecnológicas, as autoridades começam a encontrar indícios de vibranium no fundo do mar, e é aí que o longa prepara o terreno para a chegada de um dos melhores vilões já apresentados no MCU.
Assim como em Wakanda, país cujo avanço tecnológico só foi possível por causa do metal, o fundo do mar –que também é rico em vibranium– abriga a cidade perdida de Talocan, reino subaquático comandado por Namor (Tenoch Huerta). Irritado com a insistência do povo “da superfície” em perfurar o solo das profundezas e decidido a não deixar que descubram seus segredos, o “imperador” do oceano ataca os humanos e vai ao encontro de Ramona em busca de auxílio: caso os ajudem na guerra contra outros países, Wakanda será poupada.
A procura dos Estados Unidos por vibranium é o gatilho para justificar a introdução de Riri Williams (Dominique Thorne), universitária extremamente inteligente que será a protagonista da vindoura série Coração de Ferro. Em Pantera Negra 2, a jovem surge como uma estudante que criou a máquina capaz de encontrar o metal e vira alvo máximo da CIA, de Namor, Shuri e Okoye (Danai Gurira).
Com Riri na mira de todos, Shuri faz de tudo para convencer Namor a não matar a jovem e iniciar uma guerra contra o resto do planeta. Bem construído, o vilão entrega motivações tão profundas e (na medida do possível) compreensíveis quanto Killmonger, tornando-o um dos melhores antagonistas da história do MCU. Com discursos sobre imperialismo e exploração, o rei de Talocan traz um forte contraponto à visão pacífica e racional buscada por Wakanda.
Angela Bassett como a rainha Ramonda
Divulgação/Marvel Studios
É na necessidade de homenagear Chadwick Boseman e expandir o MCU que Pantera Negra 2 acaba por tropeçar. Com o luto por T’Challa rondando os personagens em todos os momentos, fica nítido que o roteiro de Coogler precisou ser costurado para encaixar a perda de seu protagonista no meio do conflito envolvendo Wakanda, Namor e a CIA.
Mesmo que seja um dos filmes da Marvel de maior duração, a sequência acaba por enfraquecer o núcleo da superfície. Personagens como Everett Ross (Martin Freeman), tão importante no longa original, acabam sem espaço e ficam “sobrando” na narrativa em comparação a outros núcleos mais importantes e interessantes.
Com os humanos escanteados e sem T’Challa, o destaque vai para a força das mulheres de Wakanda. Shuri, Ramonda, Okoye e Nakia perderam sua referência com a morte do rei e buscam energia em todas as partes de seu corpo para resistir aos ataques vindos de Talocan. Angela Bassett surge como uma força da natureza e justifica os rumores de uma possível indicação ao Oscar, enquanto Danai Guriria e Lupita Nyong’o provam que são algumas das melhores atrizes de sua geração.
Quem mais sofre sem Boseman é Letitia Wright. Além de encarar parte do público torcendo o nariz por suas declarações contra a vacinação durante a pandemia de Covid-19, a atriz britânica parece não ter o carisma necessário para abraçar o protagonismo de um dos principais títulos da Marvel. Seu crescimento na continuação acontece de forma natural e se encaixa no perfil da personagem, mas é constante a percepção de que ela parece carregar um peso maior do que aparenta conseguir.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é um filme que vai agradar a muitos e desagradar a outros tantos. A principal missão, no entanto, é cumprida. Chadwick Boseman ganhou um filme capaz de honrar o seu importante legado deixado como ator e como o grande rei T’Challa, herói e protetor de Wakanda.
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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