Divulgação/Prime Video
Com oito episódios, a primeira temporada da série baseada em HQ estreia completa nesta sexta-feira (29) no streaming da Amazon
Um dos principais lançamentos do streaming em 2022, Paper Girls estreia nesta sexta-feira (29) no Prime Video com uma expectativa acima da média. A nova série não apenas é uma adaptação da aclamada HQ escrita por Brian K. Vaughan (Y: O Último Homem) como também apresenta inúmeros elementos em sua trama que fazem parte do público compará-la a um dos grandes fenômenos da cultura pop dos últimos anos: Stranger Things.
Desde 2016, quando Stranger Things estreou sua primeira temporada, quase todas as obras que misturam atores mirins, ficção científica e uma atmosfera nostálgica (alô, anos 1980) caem na armadilha de serem comparadas a ela. Não importa se é uma produção para a TV ou para o cinema, o sucesso da rival Netflix elevou o sarrafo e virou referência para todas as outras —mesmo que não tenha, como dizem por aí, “reinventado a roda”.
No caso de Paper Girls, os quadrinhos escritos por Vaughan poderiam muito bem ter servido de inspiração para os irmãos Duffer na hora de criar Stranger Things. Lançado em 2015, o primeiro volume já introduzia um conceito que viria a ser popular no ano seguinte: jovens pré-adolescentes nascidos nos anos 1980, com suas bicicletas e personalidades fortes, se veem em meio a uma grande conspiração que contém, entre outras particularidades, monstros bizarros.
O encarregado para liderar a adaptação do Prime Video foi Christopher C. Rogers (Halt and Catch Fire), que dividia o posto de showrunner com Stephany Folsom (Toy Story 4) até a saída da roteirista durante as gravações da série no ano passado. E, talvez, o maior erro de sua equipe de roteiristas tenha sido olhar mais para outras referências do que para o material original.
Cena da 1ª temporada de Papel Girls
A história de Paper Girls começa em 1988, na manhã do dia seguinte ao Dia das Bruxas —o popular Halloween. Antes mesmo do dia clarear, quatro garotas de 12 anos saem para trabalhar entregando jornais em casas próximas às suas, sem saber que suas vidas mudariam para sempre apenas algumas horas depois.
O quarteto é formado por Erin (Riley Lai Nelet), Mac (Sofia Rosinsky), Tiffany (Camryn Jones) e KJ (Fina Strazza). A primeira, novata no emprego, acaba se unindo às três veteranas para encarar um grupo de adolescentes mais velhos que praticam bullying.
Os problemas aumentam quando, ao perseguirem um grupo encapuzado que roubou o walkie-talkie de Tiff, as quatro acabam sendo teletransportadas para 2019. Sem entender como ou por que, elas saem em busca de respostas para conseguir retornar para casa e acabam se envolvendo em um conflito milenar entre forças do futuro e rebeldes de eras passadas.
Enquanto toda a sequência inicial dos primeiros episódios é diretamente adaptada dos quadrinhos, é no momento em que o grupo vai para o futuro que série e HQ começam a se distanciar. E, para a tristeza dos adeptos da obra original, algumas das escolhas provam-se infelizes demais.
As duas versões de Erin
Divulgação/Prime Video
A fim de se aprofundar nos dramas e características de cada uma das protagonistas, Paper Girls se estende demais em conflitos pouco interessantes e discussões sem pé nem cabeça. Mesmo que as personalidades das personagens sejam melhores trabalhadas em relação às HQs, nem sempre a série convence que certos diálogos realmente eram necessários para o conflito em questão.
Tais falhas ficam mais marcantes quando as protagonistas se encontram com suas contrapartes futuras. Decepcionadas com a realidade de seus versões adultas, Erin e Tiff despejam lições de moral que dariam aflição a qualquer pessoa acima de 18 anos escutando desaforos de um pré-adolescente —seja ele o seu “eu jovem” ou não.
No quesito efeitos especiais, Paper Girls mais parece uma série de ficção dos anos 1990 —quiçá dos anos 1980— do que Stranger Things. Comparar demogorgons com as criaturas da rival do Prime Video chega a ser risível, tamanha a diferença de qualidade visual entre as duas produções.
Embora colecione erros e tropeços, o maior acerto da adaptação está na escalação de suas protagonistas. O quarteto mostra química desde o início, com destaque para Sofia Rosinsky, que faz de sua Mac uma personagem ainda mais interessante do que a mostrada nas HQs.
Ao fim de seu primeiro ano, Paper Girls pode não ser o trunfo que o Prime Video procurava para bater de frente com a Netflix e Stranger Things. Caso se aproxime mais da obra original e descarte alguns excessos e exageros, a produção tem material de sobra para elevar o nível e retornar com uma segunda temporada muito mais marcante do que a inicial.
Paper Girls - 1ª temporada
Trailer oficial
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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