Divulgação/CBS
Sucesso da série do Batman transformou ficção científica em projeto quase infantil, o que irritou alguns veteranos do elenco
Um dos grandes clássicos da ficção científica, Perdidos no Espaço (1965-1968) chegava ao fim há exatos 55 anos, em 6 de março de 1968. A produção fez tanto sucesso que ganhou uma adaptação para o cinema em 1998 e uma nova versão na Netflix, exibida entre 2018 e 2021. Nos bastidores, porém, o clima era de “guerra fria”, com alguns atores enciumados com o sucesso de outros.
Curiosamente, a série enfrentou (e superou) um concorrente de peso antes mesmo de sua estreia. A rede norte-americana CBS recebeu no mesmo ano a proposta para exibir duas produções que mostravam as aventuras da tripulação de uma nave no espaço. Uma era Perdidos no Espaço; a outra, Star Trek. Como o criador da primeira, Irwin Allen (1916-1991), já era veterano da ficção científica e fazia muito sucesso na concorrente ABC com Viagem ao Fundo do Mar (1964-1968), ele levou a melhor sobre Gene Roddenberry (1921-1991), que na época comandava a série de guerra O Tenente (1963-1964).
Para criar Perdidos no Espaço, Allen se inspirou no clássico livro A Família Robinson (1812), que já tinha virado um filme da Disney cinco anos antes. Na história suíça, um grupo composto por pai, mãe e quatro filhos sobrevivia a um naufrágio e ia parar em uma ilha deserta. Todos precisavam unir suas habilidades para sobreviver em um ambiente inóspito. O produtor pegou a ideia básica e, no auge da corrida espacial, levou sua trama para fora do planeta.
Assim, em 15 de setembro de 1965 o público norte-americano conheceu o astrofísico John Robinson (Guy Williams), a bioquímica Maureen (June Lockhart) e seus três filhos, Judy (Marta Kristen), Penny (Angela Cartwright) e Will (Bill Mumy), além do piloto Don West (Mark Goddard) e do vilão Dr. Smith (Jonathan Harris), que ficava preso na nave dos Robinson depois de tentar sabotá-la. E, claro, o simpático Robô (voz de Dick Tufeld), que entrou para a história da TV com os alertas de “perigo, perigo, Will Robinson” e “não tem registro”.
A primeira temporada tinha como foco a sobrevivência da família em um ambiente hostil, com foco em John Robinson e Don West, que se aventuravam pelo espaço em busca de combustível para a jornada de volta para casa –ou até o próximo planeta. Porém, o público se encantou pelo pequeno Will Robinson, por sua amizade inusitada com o Robô e pelas travessuras do Dr. Smith, cujos planos malignos sempre fracassavam.
Assim, na segunda temporada a narrativa mais complexa foi dando lugar ao formato de “monstro da semana”, com Jonathan Harris (1914-2002) e Bill Mumy ganhando cada vez mais espaço nos roteiros. No mesmo período, a ABC começou a fazer muito sucesso com a série do Batman (1966-1968), que tinha um visual cartunesco e um humor exagerado, quase infantil. Os roteiristas de Perdidos no Espaço uniram o útil ao agradável e transformaram a atração em algo descontraído, meio bobo, um grande contraste com os episódios iniciais.
Guy Williams (1924-1989), que já tinha protagonizado a série do Zorro (1957-1959), e Mark Goddard, astro da bem-sucedida The Detectives (1959-1962), não gostaram nada de ver seus personagens perderem espaço para uma criança e um vilão atrapalhado, nem de estarem envolvidos com uma produção que tinha trocado a seriedade do primeiro ano por algo que eles consideravam uma grande bobagem e que não seria sequer ficção científica de verdade.
Apesar de descontentes, os atores seguiram no projeto durante o terceiro ano, com os cachês do elenco quase dobrando em relação ao valor inicial. Um dos motivos para o fim de Perdidos no Espaço, acredite se quiser, foi a caríssima produção de Cleópatra (1963), lançada dois anos antes da aventura espacial estrear!
É que o longa com Elizabeth Taylor (1932-2011) estourou tanto o orçamento que a 20th Century Fox, produtora do filme e da série, decidiu enxugar os gastos com todos os seus projetos. Quando Irwin Allen soube que teria que diminuir em 15% os gastos para uma quarta temporada, reclamou que seria impossível fazer Perdidos no Espaço com menos dinheiro. Como a audiência também estava em queda, a CBS e a Fox preferiram encerrar no terceiro ano.
Parte do elenco da série fez participações especiais no filme de 1998 (que tinha Matt LeBlanc, o Joey de Friends, como Don West) e no reboot da Netflix. Mas Guy Williams ficou tão frustrado com sua experiência em Perdidos no Espaço que decidiu se aposentar da atuação e se mudou para a Argentina quando as gravações chegaram ao fim. Ele nunca mais apareceu em nenhum projeto na TV ou no cinema.
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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