FILMES E SÉRIES

Tom Sturridge

Divulgação/Netflix

CRÍTICA

Sandman: Série da Netflix é adaptação que obra de Neil Gaiman merecia

Primeira temporada da série conta com 10 episódios e estreia completa nesta sexta-feira (5); mudanças no texto das HQs só ajudam a elevar a obra

André Zuliani

Um dos maiores sucessos da história da DC ComicsSandman chega à Netflix nesta sexta-feira (5) depois de décadas de tentativas de uma adaptação. Com um mundo de fantasia que inclui sonhos, pesadelos, entidades onipresentes e criaturas mágicas, a obra de Neil Gaiman não é das mais fáceis de levar para o audiovisual. Para a felicidade geral dos fãs da HQ, esta missão é cumprida com sucesso.

Em tempos de filmes da Marvel e heróis da DC, o nome de Sandman pode não ser tão familiar para os que não leem quadrinhos. Diferentemente de Watchmen, que ganhou um filme em 2009 bem antes da premiada série da HBO, as histórias de Morpheus eram restritas àqueles que idolatravam a obra de Gaiman apenas nas páginas.

O próprio autor, ciente da pérola incomparável que criou ainda nos anos 1980, sempre foi resistente em levar Sandman para outras mídias. “Uma vez que a versão ruim é feita, você nunca consegue desfazer [o estrago]”, explicou Gaiman à Total Film Magazine. Como um pai superprotetor, ele evitou que seu “bebê” virasse piada por causa de más decisões de alguns produtores.

A fórmula para não cometer o erro de outras adaptações foi ter Gaiman 100% envolvido desde o início do desenvolvimento da adaptação da Netflix. O serviço de streaming adquiriu os direitos da obra junto à Warner Bros. em 2019, e o autor mergulhou no projeto ao lado do showrunner Allan Heinberg e do roteirista e produtor executivo David S. Goyer.

Tom Sturridge e Gwendoline Christine

O encontro entre Sonho (Tom Sturridge) e Lúcifer (Gwendoline Christie)

Divulgação/Netflix

Com o trio alinhado, nasceu o sonho –com o perdão do trocadilho– de ver Sandman na TV da maneira que a obra deveria ser representada. Sem muitas invenções, liberdades criativas ou descaracterização de nada. Dos diálogos ao visual, passando pelas reflexões sobre vida e morte, a adaptação da Netflix traz a magia das HQs que foi capaz de conquistar milhões de fãs ao longos destes mais de 30 anos de sua primeira publicação.

Para os familiarizados com a obra, os 10 episódios da primeira temporada adaptam os volumes 1 e 2 de Sandman: Prelúdios & Noturnos e Casa de Bonecas. Nos quadrinhos, a jornada de Sonho dos Perpétuos é contada de forma quase episódica, mas com uma trama que sempre se entrelaça nos detalhes até que, no fim, o quadro completo esteja pronto.

Para a série da Netflix, Gaiman, Goyer e Heinberg quebraram alguns destes laços para fazer conexões que permitissem a adaptação conjunta destes dois volumes. Personagens como Coríntio (um ameaçador Boyd Holbrook) e Matthew (Patton Oswalt) têm suas participações aumentadas, mas sem qualquer risco de afetar a experiência para o fã dos quadrinhos. Pelo contrário: nada é feito de graça; as escolhas dos roteiristas completam o universo de Sandman para que ele se encaixe perfeitamente nos moldes de uma obra para a TV.

Tom Sturridge

Sonho (Tom Sturridge) e o corvo Matthew (Patton Oswalt)

Divulgação/Netflix

Morpheus e as diferenças

Desde os primórdios da cultura pop, o maior medo de um fã de quadrinhos é ver a história de seu personagem favorito ser modificada quando adaptada para uma outra mídia. O assunto vem à tona cada vez que a Marvel Studios, por exemplo, anuncia mudanças na etnia ou no gênero de algum de seus heróis. Sandman também passou por isso, como se a alteração de uma pessoa fictícia –ou seja, que não existe na vida real— pudesse realmente significar algo.

Com Sandman da Netflix, Gaiman conquistou quase o impossível. Todas as mudanças realizadas com relação aos quadrinhos não afetam a obra e ainda elevam (e muito) o nível de sua adaptação.

Com exceção de mudanças de sexo ou raça, a principal e talvez mais notável seja no próprio Sonho (Tom Sturridge). No universo de Sandman, Morpheus é uma entidade que comanda o Sonhar, local para onde os seres vivos vão quando estão dormindo. Sendo ele um dos sete Perpétuos, o personagem sempre é representado como um deus, alguém com poderes avassaladores e pouquíssima humanidade.

Por escolha dos roteiristas ou pela própria interpretação de Sturridge (o motivo não importa), na série da Netflix Sonho ganha um retrato mais humano, fugindo um pouco da entidade onipresente e quase sem expressões que se destacou nas HQs de Gaiman. Morpheus é falho, comete erros e se força a amadurecer para entendê-los. Se nos quadrinhos a sua vitória parece quase sempre iminente, a produção para o streaming coloca o protagonista para realmente lutar por sua vida.

Por ser uma produção da Netflix, todas as citações, aparições e referências de outros personagens da DC foram completamente ignoradas na adaptação. Mesmo que nos quadrinhos seja interessante ver Sonho interagindo com membros da Liga da Justiça e vilões do Batman, nunca foi necessário fazer crossovers para que o universo de Sandman fosse interessante. Assim como na HQ, a série tem vida própria e a sustenta com perfeição.

Como em tantas outras adaptações, alguns fãs não vão gostar de algumas escolhas feitas para a produção da Netflix. Uma mudança aqui, uma ausência acolá, e dezenas se juntam em redes sociais para detonar algo que pouco afeta o produto final. Acredite: o universo de Sandman é muito maior –e melhor– do que intrigas tolas dos mais conservadores. Comemore, fã de Morpheus, dos Perpétuos! O seu sonho se tornou realidade.

Tom Sturridge em cena de Sandman

Sandman - 1ª temporada

Trailer oficial

Cartaz de Sandman

Sandman

Aventura/Fantasia
10

Direção

Vários

Produção

Netflix

Onde assistir

Netflix

Elenco

Tom Sturridge
Boyd Holbrook
Jenna Coleman
Gwendoline Christie
Vanesu Samunyai
Mason Alexander Park
Patton Oswalt
David Thewlis
Kirby-Howell Baptiste
Charles Dance
Stephen Fry
Vivienne Acheampong
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André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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