Divulgação/Netflix
Victoria Guerra interpreta Bárbara na série da Netflix; primeira temporada já está disponível na plataforma
Em alta na Netflix pelo sucesso da primeira temporada de Santo, Victoria Guerra já pode se autointitular uma atriz brasileira com sangue português. Coprotagonista da série ao lado de Bruno Gagliasso e do espanhol Raúl Arévalo, ela fez um trabalho árduo para “perder” o sotaque lusitano e cresceu admirando as novelas tupiniquins que eram exibidas em Portugal nos anos 1990 e 2000.
Nascida em 1989, Victoria cresceu com uma geração de jovens cuja principal referência de produções teen era Malhação (1995-2020). Fã da atração que marcou época no Brasil durante 25 anos, ela teve, assim como vários grandes artistas brasileiros, as novelas como trampolim para o sucesso como atriz.
Seu primeiro crédito na profissão foi em Morangos com Açúcar (2003-2012), novelinha teen portuguesa cuja trama era centrada em um grupo de adolescentes encarando os dramas e a beleza de ser jovem –qualquer semelhança com Malhação não é mera coincidência. Pela atração, Victoria interpretou a personagem Rute Baleizão em 300 episódios exibidos entre 2006 e 2007.
O sucesso na produção catapultou a agora estrela de Santo para outros trabalhos “novelescos” em Portugal, como os hits Flor do Mar (2008-2009) e Mar de Paixão (2010-2011). Na mesma época, títulos que marcaram época no Brasil também disputavam a atenção do público português.
“É curioso porque nós [portugueses] também temos essa cultura de novelas. Eu nasci em 1989 e cresci em uma época onde todo mundo assistia a novelas brasileiras aqui em Portugal. Depois, com o passar dos anos, nós também começamos a fazer novelas. É algo muito presente aqui, e não é assim em outros lugares da Europa”, contou Victoria em entrevista exclusiva à Tangerina.
“Eu não assistia tanto [a novelas] quando era pequena, mas eu me lembro do sucesso. Caminho das Índias [2009] marcou muito por aqui, eu me lembro muito bem dessa. Malhação eu via muito quando era jovem. Eu adorava Malhação. Depois veio Avenida Brasil [2012], eu me lembro perfeitamente. Avenida Brasil parou Portugal. Na época, lembro que estava gravando uma novela e estávamos todos na sala de atores esperando para gravar. Nesta hora, estava passando o último capítulo de Avenida Brasil e todo mundo parou curioso para assistir.”
Victoria Guerra e Bruno Gagliasso (em cima); Raúl Arevalo e Greta Fernández
Divulgação/Netflix
Em Santo, Victoria interpreta Bárbara, amante de um dos traficantes mais perigosos do mundo. Apesar de a personagem ser portuguesa na ficção, ela fica o tempo todo transitando entre o Brasil e a Espanha, países nos quais se passa a trama da série. Por causa disso, a equipe de produção entendeu que era necessário fazer um trabalho para “apagar” o sotaque português da atriz.
“Foi uma decisão que tomamos em conjunto. Santo é uma série espanhola, mas que passa boa parte do tempo no Brasil. Para o público brasileiro compreender melhor a forma como eu falava, já que o português de Portugal é mais carregado, entendemos que era melhor fazer um trabalho para tirar esse sotaque. Eu acho que faz sentido para a série porque ela [Bárbara] vive muito tempo no Brasil. Eu, Victoria, precisei mudar meu sotaque quando fui ao Brasil para os outros me entenderem melhor, também. Então, nós tomamos essa decisão, e eu acho que fez sentido”, contou a atriz de 33 anos.
Para mudar o sotaque, Victoria fez um trabalho intenso antes as gravações de Santo. E durante também. Quando ela começou a rodar suas cenas, em abril de 2021, a atriz continuou a fazer aulas com uma fonoaudióloga. O resultado deu tão certo que o diretor Vicente Amorim precisou intervir para que ela não perdesse totalmente o jeitinho “português” de falar.
“Eu fiz um mês de aula antes das gravações, mas eu nunca parei [de fazer]. Eu continuei fazendo as aulas durante as gravações. Às vezes, a Maria [professora] e o Vicente falavam: ‘Você não precisa mais fazer aula’. Mas eu dizia que precisava porque tinham mudado algumas falas da personagem. Aí o Vicente falou: ‘Não, não. Você está ficando com um português do Brasil perfeito demais. E você tem que ter um pouco de sotaque, porque [Bárbara] não é brasileira.”
A mudança no jeito de falar, inclusive, não foi a única parte difícil da preparação de Victoria para viver Bárbara em Santo. Por se tratar de uma personagem ambientada no mundo do crime e entre rituais satânicos, foi necessária uma imersão intensa para que a atriz se conectasse com suas motivações.
À reportagem, a companheira de Gagliasso explicou que foi preciso entender como interpretar uma personagem muito cerebral. Segundo Victoria, ela estava acostumada a viver mulheres mais emotivas, mas Bárbara e sua complexidade exigiram que ela enfrentasse seus próprios demônios para se familiarizar com o papel.
“Não foi uma preparação fácil. Acho que foi difícil para todo mundo, porque a série tem um componente de terror, é um pouco assustadora. A gente teve que mergulhar em um universo bem difícil e encontrar nossos demônios, confrontar nosso demônios internos. Nesse sentido, não foi nada fácil. E a Bárbara ainda tem um lado misterioso. Ela é muito cerebral, e eu estava habituada a fazer personagens mais emotivas”, explicou.
“Às vezes, vilões são personagens que não têm nada parecido com a gente, mas nós temos que acreditar nelas. A Bárbara foi muito interessante para mim porque eu tive que esquecer esse lado cerebral e entender suas motivações. Quais são? Por que ela faz isso? Isso é muito importante. Às vezes, o diretor só quer que você ande de um ponto A para o ponto B, e ele não vai me falar qual é a motivação da personagem. Isso sou eu quem tem que encontrar. Então, eu fiz esse trabalho com a Bárbara e encontrei suas motivações.”
Além de procurar motivações que a conectassem com a personagem, Victoria também se aprofundou em pesquisas que a ajudassem a se familiarizar com os temas de Santo. De acordo com a atriz, ela assistiu a várias séries sobre true crime e cultos disponíveis na Netflix para entender como funcionam as mentes de líderes religiosos.
“A Netflix tem uma imensa quantidade de produções assim, e eu queria entender como funciona a mente dessas pessoas inteligentes que lideram seitas. Famílias inteiras, de repente, fazem parte de cultos e eu queria entender isso, eu sempre fui curiosa. Também pesquisei o candomblé, que é muito forte na série. Nós visitamos terreiros e tivemos a ajuda de um pai de santo que nos auxiliou no desenvolvimento do roteiro. Foi um trabalho muito importante. O culto aos orixás é uma coisa muito bonita, eu achei lindo de morrer”, completou a atriz portuguesa.
A íntegra da primeira temporada de Santo está disponível na Netflix. Assista abaixo a um trecho da entrevista:
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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