Teen Wolf: Servição para fãs, filme se perde no que nem tenta explicar

Após implorarem durante os últimos seis anos para que Jeff Davis desse a Teen Wolf (2011-2017) uma sétima temporada, os fãs finalmente ganharam o que queriam em Teen Wolf: O Filme. O longa-metragem, que estreia nesta sexta-feira (27) no Paramount+, é um grande serviço aos fãs enlouquecidos do universo de lobisomens –e um verdadeiro mistério para quem nunca assistiu ao fenômeno da MTV.

A trama se passa 15 anos após os acontecimentos da última temporada da série e acompanha o que Scott McCall (Tyler Posey), Liam Dunbar (Dylan Sprayberry), Lydia Martin (Holland Roden), Malia Tate (Shelley Hennig), Derek Hale (Tyler Hoechlin), Jackson Whittemore (Colton Haynes) e vários outros personagens têm feito desde que deixaram (ou não) Beacon Hills.

O Nogitsune –um vilão bastante aclamado– está de volta para aterrorizar a alcateia de Scott. Na história, Lydia e Malia são enganadas para trazer ninguém menos do que Allison Argent (Crystal Reed) de volta à vida, mas tudo é parte de um plano maior para reviver a possessão japonesa que fez o público vibrar na terceira temporada da série. 

Se você nunca assistiu à atração, provavelmente não entendeu uma palavra sequer do que foi escrito acima, porque tudo no filme é obviamente e milimetricamente planejado para agradar aos fãs. Teen Wolf: O Filme realmente não está nem aí para quem sequer sabe o que significa Nogitsune, Kitsune, Verdadeiro Alfa, Oni ou qualquer outro termo que surge durante suas 2h20 de duração.

Essa, talvez, tenha sido uma jogada de mestre de Jeff Davis. Provavelmente não faria sentido recomeçar a história do zero ou reintroduzir os personagens. Porém, talvez o roteirista tenha se perdido em sua própria falta de vontade de retomar a franquia que ficou parada pelos últimos seis anos.

Em entrevista exclusiva à Tangerina, Davis confessou que foi praticamente arrastado de volta para Teen Wolf. “Na verdade, foi uma decisão do estúdio e de Chris McCarthy [presidente da MTV] e eles meio que me arrastaram para o passeio. Relutantemente no início, mas felizmente depois de um tempo”, revelou. “E acho que é assim com todos os artistas. Temos pavor de revisitar trabalhos antigos que sentimos como se tivéssemos dito tudo, mas quer saber? Quando me sentei para começar a pensar em Teen Wolf, percebi que havia mais histórias para contar e que poderia me emocionar com elas.” 

Davis também contou que o processo de escrever o filme foi completamente maluco e que as cenas eram alteradas conforme os atores confirmavam (ou não) o seu retorno. “Esboços foram feitos, jogados fora, novos foram criados. Houve momentos em que dissemos: ‘Bem, se não temos esse personagem, o que fazemos? Bem, se não podemos fazer isso, que outras histórias poderíamos inventar?’”, explicou. 

O agrado aos fãs fica claro a cada minuto que se passa: se durante sete anos Jeff Davis nunca fez de Stiles e Derek um casal –como tantas fanfics desejaram–, no filme ele introduz o filho de Derek, Eli (Vince Mattis), que é praticamente uma cópia do personagem interpretado por Dylan O’Brien (que, inclusive, não fez parte do longa-metragem).

A volta de Allison também foi um pedido recorrente. Uma das poucas personagens sem uma ligação profunda com o sobrenatural não foi revivida em nenhum momento da série, coisa que aconteceu com tantos outros. Mas será que não havia um jeito melhor de trazê-la de volta à vida?

Dar ao longa-metragem a mesma trama da terceira temporada acabou, porém, sendo o supertrunfo da produção, já que até hoje grande parte do público considera os 24 episódios exibidos entre 2013 e 2014 os melhores. Mas Jeff Davis pecou em momentos nos quais acabou fazendo de tudo para tapar buracos. 

Fica claro, por exemplo, que a recusa de Arden Cho para voltar a interpretar Kira por conta do salário afetou o roteiro da série. Atores e personagens nunca vistos antes foram colocados para interpretar kitsunes e tentar preencher o lugar da personagem japonesa, o que não funciona como o esperado. 

Quem gosta da série sabe que trazer o Nogitsune de volta sem a presença de Kira poderia custar caro ao andamento da trama. E custa mesmo. Afinal, de onde saíram os novos personagens que representam a cultura asiática? Qual é a história de cada um deles? Que marca e impacto eles causam no espectador? Essas são perguntas que ficarão para sempre sem resposta.

Talvez todos esses pontos tenham influenciado na construção de um filme que poderia ter sido um pouco (ou muito) melhor elaborado e mais profundamente pensado. Não há como negar, porém, que a produção vale pela nostalgia de quem realmente tem paixão pela série, pela descoberta dos caminhos que foram tomados por personagens que se tornaram queridinhos e pelo crescimento e amadurecimento de cada um eles.

Ainda assim, fica no ar a dúvida de que talvez fosse melhor nem ter mexido em uma história que já havia sido tão bem encerrada em seu 100º episódio…