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Com Jenna Ortega no papel principal, série estreia sua primeira temporada nesta quarta-feira (23) na Netflix; veja a análise da Tangerina
Uma das franquias mais conhecidas da cultura pop, A Família Addams andava escanteada das grandes produções. Após o sucesso dos filmes dirigidos por Barry Sonnenfeld no início dos anos 1990 e o fracasso de uma série de TV live-action, os personagens só voltaram a ganhar relevância em dois longas animados produzidos pela MGM e lançados em 2019 e 2021.
A reviravolta na história da franquia veio com o anúncio de Wandinha, série da Netflix criada por Alfred Gough e Miles Millar (dupla responsável por Smallville) e que teria o ícone Tim Burton como produtor executivo. O nome do diretor indicado ao Oscar criou esperança entre os fãs, já que sua experiência em criar mundos góticos com criaturas excêntricas casa perfeitamente com o universo de A Família Addams.
A diferença, no entanto, é que o foco na nova atração ficaria apenas em Wandinha, filha mais velha do casal Gomez e Mortícia Addams. Marcada por sua aparência mórbida e personalidade sádica, a personagem sempre foi retratada como uma garota durante a infância ou pré-adolescência, mesmo que seus gostos peculiares surpreendessem qualquer adulto.
Com Jenna Ortega (Pânico) no papel principal, Wandinha explora um lado da franquia pouco antes visto. Sob o comando de Tim Burton, a série introduz a filha primogênita de Gomez para encarar a adolescência em um ambiente escolar que mais parece saído de outro universo mágico: Harry Potter.
Jamie McShane e Jenna Ortega
Divulgação/Netflix
A comparação entre as duas franquias pode surpreender, mas é facilmente notada ao assistir aos primeiros episódios da série da Netflix. Após ser expulsa de seu antigo colégio, Wandinha Addams (Jenna) é obrigada a estudar na escola que seus pais frequentaram enquanto jovens. Entra em cena a Academia Nunca Mais, instituição dos Estados Unidos especializada em receber alunos “excêntricos”, com dificuldades para se encaixar no mundo normal.
Por excêntricos, a Nunca Mais quer dizer jovens com poderes sobrenaturais, lobisomens, vampiros, sereias e outras criaturas que parecem saídas de qualquer fantasia literária. Assim como Hogwarts e outras escolas de magia de Harry Potter, estas instituições ensinam crianças e adolescentes a controlar seus poderes e aprender um pouco mais desse lado pouco conhecido por um humano “padrão” –o famigerado trouxa do universo criado por J.K. Rowling.
Em Nunca Mais, Wandinha conhece outras pessoas excêntricas como ela e se vê envolvida em um mistério quando mortes violentas começam a acontecer nos entornos da escola. Quando descobre que a resposta tem conexão com o passado de sua família, a jovem fica obcecada por desvendar a verdade.
É possível ver o dedo de Tim Burton em cada detalhe da série. Do visual do monstro responsável pelas mortes ao design da escola e das personagens, o diretor colocou a sua assinatura para tornar a atração tão sombria e sobrenatural quanto algumas de suas obras anteriores.
Já os showrunners e criadores Millar e Gough se aproveitaram da experiência em Smallville (2001-2011) para mesclar problemas cotidianos de uma adolescente, como triângulos amorosos e rivalidades entre alunos, em um mundo repleto de magia –no caso, troca-se o jovem superpoderoso Clark Kent (Tom Welling) pela sádica filha dos Addams.
Luiz Gusmán, Catherine Zeta-Jones e Isaac Ordonez em Wandinha
Divulgação/Netflix
Selecionada para viver a protagonista, Jenna Ortega é a escolha perfeita para o papel. A atriz de 20 anos carrega a atração nas costas com seus comentários ácidos e face apática, esboçando sorrisos minúsculos apenas para expressar sua felicidade bizarra por algum acontecimento violento.
Havia um certo receio de parte dos fãs em retirar o brilho da personagem ao colocá-la ao lado de pessoas igualmente “estranhas”. No caso de Wandinha, os roteiristas souberam superar esse obstáculo. Mesmo entre criaturas mágicas, Wandinha mantém a sua personalidade mórbida capaz de chocar qualquer pessoa, mesmo que esta seja uma diretora transmorfa (Gwendoline Christie) ou uma sereia patricinha (Joy Sunday).
Se o mistério e o desenvolvimento da trama de Wandinha convencem, o mesmo não se pode dizer de outra parte importante deste universo: a Família Addams. Eternizado pela versão elegante e carismática de Raúl Juliá (1940-1994), o Gomez vivido por Luis Guzmán é a maior decepção da série. Na atração da Netflix, o patriarca surge apenas como um bobão apaixonado por sua mulher, sem a imponência vista em outras adaptações.
Na pele de Mortícia, Catherine Zeta-Jones convence mais do que Guzmán, mas a comparação com Anjelica Huston nos filmes dos anos 1990 torna esta versão muito menos impactante e interessante. Como os pais de Wandinha pouco aparecem durante a primeira temporada, esta grande falha acaba por ser minimizada.
Entre erros e acertos, Wandinha tem início convincente na Netflix. Com final aberto, a primeira temporada faz o trabalho de expandir o universo de A Família Addams e introduzir novos personagens, com espaço para crescimento e a certeza de que a protagonista é capaz de ter a própria série sem a necessidade de depender da aparição de seus parentes igualmente estranhos.
Wandinha
Trailer oficial
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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