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O ator Osmar Prado caracterizado como o Velho do Rio em Pantanal

Reprodução/TV Globo

SINDICATO DAS FEITICEIRAS

Bruxa à solta em Pantanal: Velho do Rio é a vergonha da profissão?

O Velho do Rio (Osmar Prado) não faz jus à figura da bruxa que foi queimada nas fogueiras da Santa Inquisição em Pantanal

Daniel Farad

O Velho do Rio (Osmar Prado) escapou de um incêndio provocado por fazendeiros, a quem sequer se dá nome aos bois, em Pantanal. Ele, porém, não precisaria virar sucuri para escapar das chamas da Inquisição. A insistência para convencer Juma (Alanis Guillen) a gerar um herdeiro para os Leôncio o torna imune às fogueiras santas –que reduziram centenas de bruxas a cinzas durante quase três séculos.

Ele é um dos “encantados”, que é como a cultura popular identifica os indivíduos que se afastaram da vida secular para se transformarem em séries mágicos. O Velho do Rio é inspirado nas diversas figuras de devoção que existem em praticamente todas as regiões do Brasil –do malandro Zé Pelintra à cigana Adélia Kostich.

O personagem de Osmar Prado, no entanto, guarda uma diferença fundamental em relação a esses personagens a que se costuma referir como “povo da rua”. Ele reproduz o discurso hegemônico em vez de estar ao lado dos menos favorecidos –economicamente ou socialmente–, na relação com grupos marginalizados pela sociedade.

O Velho do Rio, por exemplo, subverte a própria figura do feiticeiro ao pressionar Juma a se deitar com Jove (Jesuita Barbosa) para dar um neto a José Leôncio (Marcos Palmeira). Ela não o procura com dificuldades para engravidar, pelo contrário, mas para revelar que não deseja a maternidade.

O direito da mulher sobre o próprio corpo foi justamente uma das questões por trás da caça às bruxas entre o fim do período medieval e n início da Idade Moderna. A filósofa italiana Silvia Federici explica que um dos objetivos da Inquisição era justamente exterminar os indivíduos que tinham conhecimento sobre ervas contraceptivas e abortivas –mulheres, em sua imensa maioria.

A própria língua entrega o quanto esses indivíduos foram demonizados por se colocarem à parte do poder da nobreza europeia. Eles recusavam a posição de servidão dentro da sociedade feudal para morar próximas às florestas, ou se organizavam em pequenas vilas. Ou seja, tornavam-se vilões.

A Inquisição, na verdade, faz parte de uma “contrarreforma” para abarcar esses dissidentes dentro do embrião da sociedade ocidental. A Idade Média não foi necessariamente marcada por conformismo, mas por diversas lutas do campesinato –em que mulheres tinham direitos e deveres muito mais afins com os homens.

O Velho do Rio é, nesse sentido, uma figura muito mais próxima aos vencedores do que aos perdedores da Inquisição. Não que seja exatamente uma surpresa, ao se pensar que o porta-voz dos direitos da natureza e da comunhão com o meio ambiente seja justamente o homem que criou um império agropecuário no meio do Pantanal.

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Daniel Farad

Repórter. Além do Notícias da TV, também se juntou ao Tangerina para combater a mesmice e o escorbuto. Escreve do Rio de Janeiro, onde se sente eternamente em uma novela do Manoel Carlos. Aqui, porém, a gente fala mexerica. Fale com o Daniel: vilela@tangerina.news

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