MÚSICA

Diego Timbó posa em estreia de Queen Stars, reality show apresentado por ele, Luísa Sonza e Pabllo Vittar

Divulgação/HBO Max

Entrevista

Conheça Diego Timbó, produtor queridinho de Pabllo, Luísa Sonza e Cleo

Multifacetado, Timbó é o 'jurado chato' de Queen Stars Brasil e a figura talentosa —e amiga— por trás de grande estrelas pop como Luísa Sonza, Cleo Pires e Urias

Nicolle Cabral
Nicolle Cabral

Empresário, produtor, roteirista, preparador vocal e compositor. Essas são algumas das etiquetas que podem ser atreladas à figura de Diego Timbó, que foi jurado do reality show da HBO Max, Queen Stars Brasil. O artista pitaca no programa ao lado de Vanessa da Matta e do ex-BBB Tiago Abravanel.

À frente da atração, Luisa Sonza e Pabllo Vittar —ambas parceiras musicais e amigas de longa data de Timbó. “Com a Pabllo, foi amor à primeira vista”, diz o produtor, relembrando o momento em que conheceu a drag queen e popstar pessoalmente. Há dez anos envolvido com a indústria musical, Timbó coleciona vários outros amores na música: Cleo Pires, Urias, IZA e Juliette são alguns deles.

“Só trabalho com pessoas que me instigam”, afirma. Com Cleo, ele assume o título de multifacetado: empresário, produtor, compositor e confidente. Juntos, produziram a trilha sonora do novo filme Me Tira da Mira, dirigido pela artista.

Os dois celebram um forte laço de amizade e negócios. Timbó é empresário da atriz. “A nossa parceria vem muito de acreditar em quem eu sou. Isso me faz ter muita coragem na hora de compor e de cantar”, explica Cleo em entrevista à Tangerina. “Ela sempre me trouxe referências [musicais] que eu não imaginava e que me agregaram muito e me tornaram mais abrangente”, acrescenta o produtor. “Hoje tenho Alanis Morissette na minha playlist”.

Empreendedor musical

Além da colaboração com a atriz e cantora, Timbó é empreendedor musical e dono da UNO CRIATIVO. A empresa, localizada na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, é considerada um centro de preparação artística para projetos em música, TV, cinema e teatro. Segundo o executivo, a inspiração para o nome surgiu após a leitura de um livro de Albert Einstein: “Entendi que a arte é um caminho pela busca pela plenitude. E essa busca só acontece quando você torna a ação em movimento”.

A mentalidade o instigou a buscar pessoas que se identificassem com esse ideal. Boa parte do time que produz, inclusive, é de colegas de longa data do teatro de rua do Rio de Janeiro. Eles se apresentavam nas praças públicas da cidade. “Fui caminhando até encontrar a Cleo, que potencializou a gente e potencializa todos os dias”. Paralelamente à produtora, ele atua como preparador vocal de todas as estrelas citadas acima. “Trabalho para chegar na melhor versão delas mesmas”, explica.

Com base no canto lírico, Timbó se especializou em técnicas como belting africano, belting para teatro musical, soul e jazz. Sua formação primária foi em teatro musical na New York Film Academy, onde se desenvolveu com a diretora Camila Ama. No Brasil, aperfeiçoou tudo o que aprendeu com Vera do Canto e Mello e conquistou desenvoltura ao usar o canto como ferramenta prioritária para expressar as próprias emoções. Essa pulsante necessidade de expressão, inclusive, foi o que guiou o artista até esse caminho.

Caminho até a expressão artística

Filho de missionários, Timbó sempre esteve na igreja com os pais —que o estimulavam a cantar, com um porém. “Eu só podia cantar atrás dos outros cantores, porque eu era uma criança muito afeminada. Na igreja que eu fazia parte, existe uma cobrança de ordem muito taxativa para que o homem estivesse nos conceitos de masculinidade criados pela sociedade”. Segundo o produtor conta, ele não se encaixava em tais normas: “Eu era uma pessoa que expressava a minha feminilidade de maneira natural, então, não era permitido que eu ficasse na frente, porque eu poderia influenciar outras pessoas”.

Essa atuação intimidada, portando, acabou desestimulando o artista a encarar o canto como uma profissão. “Eu tinha interesse por música, mas eu sabia que eu não ia viver disso”. Ao entrar em contato com Vera —que preparou as vozes de Marisa Monte e Miguel Falabella—, sua realidade mudou. “Ela foi um anjo na minha vida. Eu não me enxergava como um cantor, que ficaria à frente. Porque eu não tinha noção da minha imagem, por conta da minha dismorfia. Nunca tive que lidar com o fato de estar em cena com o meu próprio corpo”, explicou.

Bastou o conselho da tutora para que Timbó assimilasse que poderia viver para a música. Com isso, ele buscou se aprimorar nas técnicas vocais, embora tivesse uma base de repertório “muito clássica”, como ele mesmo descreve. “Sou do interior do Ceará, então não tive acesso a determinados estilos musicais. Comecei a estudar ópera e só depois fui para o canto mais popular —e a estudar gêneros diferentes”.

O teatro como alternativa

Inicialmente, Timbó acreditou que faria carreira no teatro musical. “O teatro me ajudava muito a encontrar um caminho de expressão do meu interior. Então, pensei em unir essas duas coisas”. De alguma forma, porém, ele sentia que não se encaixava. Até o momento que viveu uma situação na qual mudou completamente o rumo de sua vida.

“Fui fazer um teste para uma peça de teatro e a moça olhou para mim e disse que eu não poderia fazer o teste, porque eles estavam ‘buscando atores magros para o papel’. Foi aí que ela me deu uma ‘dica’, disse que se eu emagrecesse, eu teria uma oportunidade. ‘Antes de ficar fazendo teste, emagrece’.”, relembra. Apesar dos riscos, Timbó acabou se forçando a fazer uma cirurgia bariátrica —na ocasião, ele pesava 165kg.

“Foi um processo muito difícil”, desabafa. “Fiquei muito debilitado emocionalmente e também de saúde, depois desse processo”. Segundo o artista, após o período extremamente delicado, ele pôde assimilar o processo pela busca da liberdade de expressão. “Me trouxe um mergulho em busca da minha identidade”.

Encontros musicais como refúgio e cura

Durante e após a recuperação, Timbó sentiu necessidade de estabelecer uma relação de pura honestidade consigo. A aproximação com a arte e a música foram dois pilares fundamentais para que essa franqueza existisse. Portanto, o empreendedor passou a se envolver em processos artísticos de pessoas que o inspiravam. “Nesse momento, me vi como uma ferramenta de apoio para os artistas. E isso me trouxe momentos de profunda plenitude e de um encontro honesto com a arte”.

Ao trabalhar no projeto Todas As Cores Preta, de Preta Gil, Timbó foi apresentado a Pabllo Vittar e Luísa Sonza. “Já tinha visto vídeos da Pabllo e me interessado muito. Foi quase um encontro de fã com o ídolo. Desde o dia que entramos em um estúdio, nunca mais nos largamos”, explica. Para o preparador vocal, trabalhar com a drag queen é algo transformador. “Ela inspira liberdade na gente”.

A sintonia entre os dois não é exclusiva apenas às causas LGBTQIA+ —musicalmente, os dois são muito envolvidos. “Temos referências parecidas em relação ao pop e o que a cultura nordestina entende de música”. Timbó aparece nos créditos de Disk Me (remixes), ao lado de Rodrigo Gorky, Maffalda, Zebu, Pablo Bispo e Arthur Marques. Além disso, esteve com Vittar em todos os lançamentos seguintes, do aquecimento vocal às composições.

Em relação a Luísa, ele também não economiza elogios: “Ela é uma menina muito corajosa. Uma artista profunda, que chora, que compõe, faz as coisas com um ímpeto muito pessoal. É sempre uma catarse. Vejo nela um resquício dessas grandes pérolas da nossa música brasileira”. Timbó foi responsável por compor o primeiro grande sucesso da artista, Braba. A faixa conquistou o primeiro lugar no Top 50 Brasil no Spotify, além de dar à cantora o posto de terceira artista mais ouvida da plataforma de streaming. O produtor também tem um dedo na concepção do disco Pandora.

Constantemente em estúdio com as cantoras, Timbó trabalha os vocais com exercícios para que elas interpretem as canções com o máximo de potência e sem machucar as cordas vocais.

Queen Stars Brasil

Lançado em março, o reality show trouxe ao público uma competição afiada entre 20 drag queens em busca do pódio pop. Com oito episódios, a produção contou com três jurados e quatro mentores, entre eles Bruno Barbosa (dança), Blacy Gulfier (voz), Michelly X (visagismo) e Flávio Verne (diretor artístico). Timbó recebeu a missão de ajudar a selecionar quem conquistaria a coroa.

No Twitter, o artista recebeu uma série de comentários negativos sobre a aparição no reality. Boa parte dos comentários apontava que Timbó é muito exigente com as participantes. Os adjetivos ”chato” e “insuportável” apareceram com frequência.

“Eu sei que sou [chato], eu tento não ser, mas é inerente a mim”, responde às queixas do público. “Foi muito difícil chegar em um lugar para me sustentar de arte e foi assim que eu consegui: sendo exigente”. Timbó conta que, nos bastidores, ganhou até alguns “puxões de orelha” de Luísa e Pabllo. “Elas me davam um norte. Diziam para eu dar um sorriso para as pessoas [risos]”.

Segundo ele, a busca pela qualidade das participantes no reality vinha justamente pelo fato de saber que “o mercado é cruel”. “Eu queria que elas tivessem o melhor possível, que chegassem na melhor versão delas em pouco tempo. Então, eu era a figura que mais cobrava”, explica.

As críticas, contudo, acabaram colocando em evidência para Timbó a semelhança da exigência na competição com os desafios que enfrentou na vida. “Pelos recorrentes episódios de exaustão, precisei traçar o meu objetivo. Chegou um momento que entendi que não tinha outra escolha. Minha existência está aliada à arte. Se isso não existe, não faz sentido, pra mim, viver. Então eu fui com tudo”.

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Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.

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