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Professora e drag queen, a carioca Melissa L'Orange comenta a competição que estreia nesta quinta-feira, na HBO Max, com apresentação de Pabllo Vittar e Luísa Sonza
Olá, meu nome é Melissa L’Orange e eu recebi a missão de apresentar para vocês o Queen Stars Brasil, novo programa da HBO Max com drag queens cantoras em uma competição para se tornarem o primeiro trio pop de drags do Brasil! A atração estreia nesta quinta-feira, 24, na plataforma de streaming, com três episódios, e segue até o dia 8 de abril, com a grande final. Nos dias 31/3 e 7/4, a HBO Max lança dois episódios inéditos, num total de oito.
E a primeira coisa que a gente precisa saber sobre o Queen Stars Brasil é que teremos, sim, três vencedoras! Exatamente! O murro em programas por aí com uma única winner com prêmio sem ajuste equivalente à inflação. Por aqui, temos coletividade.
Isso significa também que o prêmio é triplo: será um trio vencedor, com R$ 100 mil cada. Pois é, as três levam a vitória e não dividem o prêmio, cada uma tem o seu. Temos, sim, coletividade, mas vamos com calma. Além de um contrato com a Universal, que vale mais que barras de ouro!
Parece tão bom que eu vou começar a ensaiar meus vocais por aí, vai que renova para uma segunda temporada. Amigas drags, façam o mesmo.
Comandando esse programa de canto de drags, temos uma dupla poderosíssima: Pabllo Vittar e Luísa Sonza apresentam o babado todo com bastante interação. A química entre as duas é muito boa e te coloca na garupa para curtir a viagem numa boa. É visível o respeito das participantes pela trajetória da Pabllo, afinal, é a maior drag cantora do mundo e vem aqui do nosso país. Muitas ali se inspiram nela pra manter o sonho de ser artista drag no Brasil.
Quanto a Luísa, tá soltinha no comando do programa, super à vontade com as participantes e dividindo palco com a Pabllo de forma complementar. Isso é ótimo em um programa com duas apresentadoras, porque nenhuma atropela a outra e as coisas funcionam com fluidez. Se eu posso apontar uma questão é: eu queria ver mais das duas interagindo entre si, porque é muito divertido e a gente que tá de casa percebe como elas se gostam e são amigas, sabe? Aquela coisa de fofoca com as amigas enquanto vê uma drag se apresentando no palco.
Cara a cara entre Pabllo e Luísa
Apresentadoras do Queen Stars Brasil fizeram dinâmica de perguntas e respostas
Só que Pabllo e Luísa estão no programa como apresentadoras e, embora tenham algum poder de decisão, não cabe a elas cravar o destino das participantes. Esse trabalho fica concentrado na mão de uma tríade de jurados de peso: Vanessa da Mata, uma diva da música popular brasileira; Tiago Abravanel, nosso ator de musical ursinho; e Diego Timbó, produtor cultural e ícone fashion de bengala (não disse qual).
Os três não poupam comentários na hora de avaliar o trabalho das participantes e, embora às vezes não deixem a queen feliz, estão ali com o objetivo de apontar como melhorar a presença de palco, preparo de voz e o show das participantes. É bom ter, sim, jurados que colaborem com sugestões e apontamentos, em vez de só dizer o que está ruim. Inclusive para, na hora de elogiar, quem tá assistindo entender como e o motivo do elogio. Não adianta só dizer que tá bonita e canta bem, mas como isso transparece no palco.
Além disso, o programa é cheio de surpresinhas e, em cada episódio, temos uma pessoa convidada a se juntar à bancada de jurados. E, sem spoilers, a galera é babado, confusão e gritaria. Tudo funciona bem, mesmo com um número um pouco grande de pessoas opinando e julgando o destino das queens. Bom, quase tudo. Se não tiver uma ou duas eliminações e opiniões polêmicas, não temos um reality show de competição digno. Ainda mais se tem drag envolvida, porque a gente escuta tudo, mas ninguém é obrigada a ficar calada.
Falando nas drags envolvidas, vamos passar pras participantes? Se você gosta de vários estilos de drags, tá no lugar certo, porque o programa começa com 20 drag queens de diversas partes do país e de diferentes estilos, idades, tempos de carreira e timbres vocais. Não vou entrar em detalhes sobre cada participante aqui, até porque algumas são minhas amigas pessoais e eu seria acusada de favorecimento. Mas a gente encontra drag de barba, de maquiagem pesada e leve, drags que cantam rock, cantam samba, MPB e vão do sertanejo ao emo. Dá um gostinho bom ver tanta variedade de culturas, de origem e de montação com nossas artistas nacionais. A gente pode não ter o cachê de milhões, mas a nossa arte não é de centavos, tá, querida?
E você pode estar se perguntando: “Mas, Melissa, vinte drags é muita gay! Como que vai ser isso?” Bem, infelizmente não são todas as vinte que vamos acompanhar durante os episódios do reality. Sem spoilers, mas já preparando o coraçãozinho de torcedores e torcedoras, a gente perde drasticamente o número de participantes no comecinho da competição. Ou seja, muitas drags já começam virando glitter.
Isso me deixou bem triste, confesso, porque não nos dá o tempo necessário pra conhecer a arte de todas que estão ali, de peito aberto, pra se entregar de corpo, alma e gogó. E aí nós precisamos fazer nosso papel no #SupportYourLocalQueen e buscar as redes das bonecas pra continuar acompanhando o trabalho que elas desempenham aqui fora. Afinal, um programa desse é uma ótima plataforma de lançamento pras meninas, então bora lá ajudar todas —sem exceção— a se jogar.
Bom, mas e essa gente toda, canta? Olha, canta! Por mais que tenhamos nomes no Brasil como a própria Pabllo, Glória Groove, Aretuza, Potyguara Bardo e Lia Clark, vamos convir que, quando chega na boate, pra ver um show de drag queens, não se espera que elas vão cantar. E isso é o mais bonito do programa, ver elas desabrochando o talento de cantar que muitas deixaram em segundo plano pra dublar e fazer os shablam da vida pelos palcos.
Trailer do reality Queen Stars Brasil (2022)
Reality comandado por Pabllo Vittar e Luisa Sonza mistura The Voice com Drag Race
Esse incentivo é muito importante tanto pra elas quanto para outras drags de agora e do futuro acreditarem que há espaço, sim, na noite para artistas drags com vocais. Aliás, Drag é uma arte que por definição deveria dar espaços. E eu senti falta de um espaço preenchido neste elenco: o de mulheres. Com 20 participantes, não temos mulheres trans ou cis marcando presença, até porque elas existem.
Era uma ótima oportunidade pra gente, aqui no Brasil, nos distanciar de ceeertos programas que demoraram uma década para permitir que mulheres cisgênero participassem das suas competições. Uma pena termos deixado passar essa oportunidade de mais uma surra nas gringas, ainda mais com uma cantora feminina poderosa como a Luísa Sonza em um lugar de destaque. Quem sabe numa segunda temporada? Vamos torcer!
Os desafios que as meninas vão encarar não são fáceis: tem trabalho em grupo (importante, já que teremos um trio de vencedoras), tem que mostrar sua originalidade, tem que ser uma diva pop. E, pra isso, há um grupo de profissionais treinando elas para cada etapa do programa. Quem são? Isso eu não vou contar, é surpresa! Mas saibam que elas são treinadas por uma preparadora vocal, ensaiam coreografias com profissionais da dança e têm ajuda de visagismo de um ícone da moda.
A drag queen carioca Melissa L'Orange, autora deste texto
Divulgação/Diego Feroni
Um grupo pop não nasce pronto e é excelente que se diga isso abertamente: não se procura uma drag queen formatada, mas artistas que consigam aprender e crescer juntas. Afinal, o corre da gente mesmo em carreira solo é sempre coletivo. E, com ajuda, o caminho fica muito mais gostoso.
Então, se preparem para muito canto, drama, tiradas cômicas, participações mais que especiais e muita montação no Queen Stars Brasil. Os elementos de um bom reality de competição estão todos na mesa: tem apresentadoras babadeiras, jurados especialistas, participantes com sangue nos olhos, gongação, crescimento profissional, eliminações justas e injustas e a chance de torcer não pra uma, nem duas, mas três vencedoras.
Servidas? Porque eu tô muito contemplada!
Melissa L'Orange
Melissa L'Orange é carioca, professora, drag queen, youtuber, palestrante, podcaster, doutoranda em educação pela USP e infeliz em todas essas ocupações. Tem o show Salvem a Professorinha pelas noites cariocas, muitas opiniões e um princípio de artrite.
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