MÚSICA

Doja Cat posa para a câmera

Reprodução/Instagram

Hit barrado

Elvis: Por que música de Doja Cat pode ser barrada no Oscar 2023

Hit no streaming, Vegas promete gerar debate sobre elegibilidade na Academia, já que cita versos de Hound Dog, sucesso de Presley

Luccas Oliveira
Luccas Oliveira

Vegas, canção que Doja Cat preparou para a trilha sonora de Elvis, é um grande sucesso. Lançada como single em junho, a faixa já foi escutada mais de 212 milhões de vezes só no Spotify. No YouTube, o clipe (veja abaixo) acumula outras 60 milhões de visualizações. O sucesso comercial chega a lembrar o de Shallow, de Lady Gaga e Bradley Cooper para Nasce uma Estrela (2018).

Entretanto, no ano que vem, Vegas pode não render a Doja Cat —e a Elvis— o mesmo Oscar que Gaga recebeu em 2019. Isso porque ainda é incerto se a música da rapper popstar será aceita pela Academia para a categoria de melhor canção original.

Veja o clipe de Vegas, de Doja Cat

Música é cogitada para o Oscar, mas inscrição pode ser barrada

Acontece que Vegas interpola trechos de Hound Dog, um dos clássicos gravados por Elvis Presley (Austin Butler, no filme de Baz Luhrmann) na década de 1950. Não há grandes semelhanças musicais, mas o verso “You ain’t nothin’ but a…” é repetido algumas vezes ao longo dos três minutos da música de Doja Cat.

Por isso, Jerry Leiber e Mike Stoller, compositores originais de Hound Dog, também são creditados como autores de Vegas. É o suficiente para deixar em dúvida a elegibilidade para o Oscar 2023.

Veterano diz que regras são quebráveis

A regra para a categoria do Oscar, lembra a Variety, diz que as músicas indicadas “devem ser o resultado da interação criativa” entre cineastas e compositores “que foram contratados para trabalhar diretamente no filme”. É o caso de Doja Cat —creditada como compositora com seu nome de batismo, Amala Zandile Dlamini— e dos produtores David Sprecher e Roget Lufti Chahayed. Porém, não de Leiber e Stoller.

O primeiro morreu em 2011, enquanto Stoller, por mais que esteja vivo, não esteve diretamente envolvido na produção de Elvis. Foi o que disseram fontes à Variety, que não conseguiu entrevistar o compositor. O blues Hound Dog foi escrito originalmente para Big Mama Thornton, que aparece no filme interpretada por Shonka Dukureh (1977-2022).

Gravada em 1952, a música fez sucesso nas paradas de r&b, mas chegou ainda mais longe em 1956, com um cover de Elvis Presley que dominou simultaneamente os rankings de pop, country e r&b.

Outra parte de regra do Oscar eliminaria Leiber e Stoller da avaliação. “Estão expressamente excluídos da elegibilidade… os contribuidores parciais (ou seja, qualquer autor que não seja responsável pelo design geral do trabalho)”, diz a parte final do texto.

Procurado pela Variety, um respeitado veterano do ramo não identificado acredita que nada disso pode cravar uma elegibilidade ou uma desqualificação da música de Doja Cat. Segundo ele, as regras não costumam ser tratadas como inquebráveis e o caso deve ser individualmente debatido pelo comitê executivo do Oscar.

Música de Doja Cat dura pouco no filme

“Deve haver uma interpretação claramente audível, inteligível e substantiva” presente no filme, mais do que seguir qualquer regra, disse a fonte da Variety.

A Variety aponta ainda que Elvis, o filme, usa menos de 45 segundos dos vocais de Doja Cat durante uma cena do jovem roqueiro em Memphis. O rap da cantora foi escrito originalmente para o longa, mas a própria produção cita que Vegas interpola Hound Dog e inclui os compositores originais, o que pode atrapalhar a candidatura.

As inscrições de músicas para o Oscar 2023 vão até 1º de novembro. No mesmo mês, os executivos da Academia começam a debater as questões envolvendo as candidaturas. Segundo o site, a Warner Bros. vai inscrever a música de Doja Cat e os executivos do estúdio esperam um resultado positivo.

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Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.

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