Divulgação/David James Swanson
Em entrevista exclusiva à Tangerina, cantor norte-americano ainda adiantou detalhes da turnê que apresentará no Popload Festival, em São Paulo
Atração do Popload Festival, em São Paulo, Jack White retornará ao Brasil enquanto promove dois álbuns ao mesmo tempo. O cantor norte-americano está na turnê de divulgação de Fear of the Dawn (2022) e de Entering Heaven Alive (2022), lançados com apenas três meses de diferença. As faixas foram compostas durante a pandemia, que representou uma verdadeira montanha-russa de criatividade para o artista.
No início da quarentena, o músico que ficou conhecido mundialmente com o duo The White Stripes decidiu fazer uma pausa. Durante oito meses, ele voltou a restaurar móveis e fazer trabalhos domésticos, sem compor nenhuma melodia. O período sabático foi o suficiente para que ele encontrasse novos significados na música.
“[A pandemia] Foi quase uma bênção para alguns artistas, porque tirou muitas coisas que ficam na frente da criação: a vida do dia a dia, a indústria de tentar fazer dinheiro”, explica ele em entrevista exclusiva à Tangerina. “Eu fiquei animado em ver todos meio que trancados e forçados a mudar o escopo de como olhavam a vida. Isso não acontece frequentemente, especialmente em massa, com tantos milhões de pessoas vivendo isso.”
“De muitas formas, aquele intervalo gigante foi inspirador para mim”, complementa Jack White. O resultado foi a criação de mais de 20 faixas dividas entre Fear of the Dawn (2022), com produções mais experimentais e referências do punk, e Entering Heaven Alive (2022), cheio de letras intimistas e melodias acústicas. O período recluso foi compensado por uma longa turnê. O cantor está fazendo shows desde abril pelos Estados Unidos e pela Ásia.
Jack White durante show em Londres em julho de 2022
Divulgação
No Brasil, ele fará uma única apresentação no Popload Festival, em 12 de outubro. Os ingressos ainda estão à venda no site da Tickets For Fun. Entre tantas faixas inéditas, Jack White revela a dificuldade de encaixar as letras mais antigas no setlist. “Aquele navio já partiu e eu não quero muito ter essa coisa de nostalgia. Quero que as músicas tenham uma vida totalmente nova para elas”, defende.
Apesar do desejo, o músico não deixa de apresentar os maiores sucessos, como a clássica Seven Nation Army, lançada com Meg White. “Seria difícil de cortar muitas músicas ou mudá-las demais, a ponto de não serem reconhecíveis. Eu tiraria várias, mas você imediatamente perde uma boa parcela da experiência da multidão que está te assistindo.”
A passagem pelo Brasil depois de já ter realizado dezenas de shows não é por acaso. Jack White já falou anteriormente que não gosta de iniciar a turnê pela América do Sul. “Isso me deixaria mimado, porque não é assim em todo o mundo. Você sente essa energia em alguns países da Europa também. Há uma eletricidade e exuberância na multidão. Todo mundo está lá pela música, e não por algum outro motivo ou para se exibir”, explica.
O cantor ainda relembra com alegria as histórias que viveu no Brasil. Em 2005, por exemplo, ele se casou com a modelo e cantora britânica Karen Elson em uma cerimônia conduzida por um xamã no rio Amazonas. “Eu nunca tive um momento no Brasil que não fosse emocionante e romântico. É um lugar exótico para alguém que é de Detroit”, diz ele.
“Você vai para um bairro rico nos Estados Unidos e todo mundo está carrancudo, chateado e reclamando. Você vai para um bairro violento no Brasil e vê todo mundo sorrindo e feliz. Isso diz tudo o que você precisa saber sobre o povo brasileiro”, complementa.
Jack White se tornou uma espécie de representante do mundo analógico ao longo da carreira. O maior exemplo disso foi a importância que deu ao vinil, formato que vem recuperando seu espaço na indústria. Ele lembra, por exemplo, quando o The White Stripes enviou apenas discos como forma de divulgação do Elephant (2003) para as rádios.
“Você só poderia ouvir a música se tivesse um toca-discos. Isso foi uma declaração enorme e importante que fizemos naquela época”, diz ele. Desde 2009, o cantor ainda é dono da Third Man Records, gravadora independente que conta com o próprio local de prensagem de vinis em Detroit.
“Acho que todas as inovações que tivemos ajudaram a promover ideias de vinil de edição limitada, como discos coloridos ou que brilham no escuro. Isso deixou as pessoas empolgadas”, explica. “Prover a outros artistas um meio de fazer as pessoas se interessarem por sua arte era uma grande missão da Third Man Records. E ainda o é hoje.”
O músico acredita que a indústria ainda está apenas “arranhando a superfície” do potencial do formato. “Você está vendo isso agora com artistas pop, como Taylor Swift e Olivia Rodrigo. O vinil se tornou uma parte gigante de seus lançamentos de álbuns. Estou muito feliz em ver isso”, comemora.
Assista ao clipe de If I Die Tomorrow, do Jack White
Faixa integra o álbum Entering Heaven Alive (2022)
A criação da Third Man Records ainda fez com que Jack White levasse um pouco do empreendedorismo para o seu lado criativo, ele conta. “É muito estranho pintar uma obra e depois levá-la para a sua própria galeria de arte para vendê-la. É mais ou menos isso que eu faço”, analisa. “Se você está muito no lado artístico, perde o contato do negócio. É um lembrete em todos os momentos de que você está tentando criar algo para outras pessoas se envolverem.”
“Quase me lembra alguns dos jovens empreendedores que estavam vendendo camisas do porta-malas de seus carros e se transformaram em Ralph Lauren, ou alguém assim”, compara.
Ao analisar os grandes sucessos atuais, Jack White não tira o mérito de músicos que pensam em composições certeiras para redes sociais, como o TikTok. “Gosto de qualquer arte sendo digerida pelas pessoas”, defende. “O esquecimento da arte pode ser preocupante às vezes. Como compositor, você está tentando escrever músicas que podem continuar e ser uma parte da vida de outras pessoas. Você está procurando atemporalidade”, diz ele.
“Eu entendo o conceito de tentar agarrar rapidamente a atenção de alguém. Mas o que você faz com isso, uma vez que você tem a atenção deles, não é interessante para mim”, explica.
Lucas Almeida
Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.
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