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Nas cenas mais quentes de Guta (Julia Dalavia) e seus pares românticos –antes Tadeu (José Loreto) e, atualmente, Marcelo (Lucas Leto)– na novela Pantanal, uma voz forte e provocante embala a trilha cheia de paixão, com súplicas em forma de versos: “Me dá um motivo, por favor/ Eu quero me desapaixonar”. Quem ouve não imagina que, por trás da música, existe uma mulher de apenas 23 anos, mas com talento de sobra. A dona do hit Desapaixonar é Jade Baraldo.
Tão jovem, ela já se tornou uma verdadeira rainha das trilhas de novela de 2022: em Cara e Coragem, sua música Oh My Baby… Let’s Die Together acompanha as cenas de Regina (Mel Lisboa) e Leonardo (Ícaro Silva). Na novela anterior da faixa das 19h, Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), ela interpretava um cover do sucesso de Cher, Believe. Uma versão mais melódica e bem diferente do clássico da dance music, que foi tema de Paula (Giovanna Antonelli) e Neném (Vladimir Brichta).
Ouça Desapaixonar, de Jade Baraldo
Música faz parte da trilha da novela Pantanal, da Rede Globo
“Às vezes, me pego pensando: como eu vou explicar para a Jade de seis anos atrás o que está acontecendo? Está sendo tudo muito lindo, muito diferente. É interessante ver o quanto as pessoas adotam a ficção da novela para a vida delas. Minhas músicas estão nas cenas mais polêmicas de Pantanal, e a partir disso tem se criado um diálogo muito interessante”, conta a cantora em entrevista exclusiva à Tangerina.
“A novela impacta a vida das pessoas e elas tomam aquilo para si, é como se estivessem falando da própria vida. Ver minha música fazer parte disso me deixa muito feliz, porque significa que ela está fazendo parte da vida de muitas pessoas.”
Jade acompanhava novelas ao lado de sua avó desde pequena, e agora faz parte dessas histórias que se tornam clássicas e atingem milhões de brasileiros. A cantora, porém, quer mostrar que não está no meio artístico só de passagem.
“Estou em um momento em que tenho esse holofote por conta de Pantanal e gosto de perambular por vários públicos. Mas sinto que tenho o dever de falar sobre coisas que, às vezes, [as pessoas] não gostem que a gente fale”, acrescenta. “Como o que está acontecendo no mundo com as mulheres, o que eu vivo na pele. Sinto muita falta de levar arte para o pop. É isso que farei e já estou fazendo.”
Jade Baraldo nasceu em 1998 no pequeno município de Brusque, em Santa Catarina, mas morou em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, até seus sete anos. Seu pai é violinista e professor de música, e formou uma dupla com sua mãe, que é cantora. “Foi aí que tudo começou. Eu cresci muito nesse mundo musical, de artista de bar, coisa que não conhecemos tanto hoje, mas que antigamente era muito comum. Cresci escutando muita MPB, que era o que eles ouviam na época.”
Com a separação de seus pais, ela voltou para a pequena cidade no Sul do país e foi projetada para uma vida totalmente fora do meio artístico. “Minha família não queria que eu seguisse na música –minha mãe, então, muito menos, até por ter esse trauma de não ter dado certo na época dela. Ela tinha essa preocupação comigo. Mas não teve jeito, na minha pré-adolescência comecei a andar com a galera que era mais artista”, conta.
Aos 14 anos, Jade montou uma banda chamada Terceiras Intenções, uma mistura de MPB com rap, e começou a explorar seu lado musical muito jovem. “A primeira vez que eu me apresentei para o público foi em um festival alternativo, com sei lá, 20 ou 25 pessoas. Foi ali que já senti uma magia quando estava no palco cantando. Eu fechei os olhos e senti algo muito especial”. Simultaneamente, a cantora criou seu canal no YouTube e foi juntando público. “Tem gente que me acompanha desde essa época”, valoriza a artista.
Aos 16, no auge de sua rebeldia, ela tomou a decisão precoce de sair de casa. Jade se mudou de volta para o Rio de Janeiro, que poderia oferecer muitas oportunidades diferentes no meio artístico —e realmente ofereceu.
Jade Baraldo participou da quinta temporada do The Voice Brasil. Nas Audições às Cegas, apresentou o clássico Romaria –que ficou mais conhecido na voz de Elis Regina– e conquistou a atenção do técnico que mais venceu edições do programa, o sertanejo Michel Teló. Sua voz e sua postura de palco a levaram até a semifinal em 2016.
Jade Baraldo canta Romaria no The Voice Brasil
Apresentação fez parte das Audições às Cegas da quinta temporada do reality
“Minha participação no The Voice não mudou só minha carreira, me mudou como pessoa. É uma experiência muito disruptiva. Eu fui do oito ao 80, do nada. Eu já tinha tido miniexperiências [me apresentando] em bares, mas nunca tinha de fato cantado para tantas pessoas”, explica. “Esse momento de sair do meu quarto e ir para uma tela de TV onde tem milhares de pessoas me assistindo mudou alguma coisa muito grande dentro de mim. Eu tive certeza de que eu nasci para fazer isso.”
Jade descreve a experiência como uma reconexão com seu íntimo, seu amor à música e seu lado artístico. “Eu ficava muito nervosa –eu sempre fico muito nervosa antes de me apresentar, é uma coisa muito comum dos artistas. Acho que, quando se perde essa sensação, não vale nem a pena mais fazer. Mas tinha um momento em que eu fechava os olhos e começava a cantar, que tudo desaparecia. Foi isso que eu senti de uma forma muito brutal. Eu acho que essa é a palavra certa, foi brutal. Eu me reconectei comigo mesma.”
O palco do The Voice proporcionou um tipo de experiência que Jade nunca tinha vivido antes e deu a ela uma projeção nacional, uma carreira promissora e a possibilidade de contato com grandes nomes da música. “Hoje em dia, sou uma pessoa muito mais calma do que era há três anos, e medito. Tenho essa mesma sensação que as pessoas que fazem meditação descrevem, aquele momento em que você se encontra num vazio. Eu tenho essa sensação desde o início, quando comecei a cantar. Eu tive essa sensação brutal quando estava no palco do The Voice”, acrescenta. “Com certeza, além de toda a experiência de trabalhar com uma equipe, com uma estrutura, esse momento interno foi muito importante para mim.”
A partir daí, Jade se lançou de corpo e alma na música como artista independente. Seu primeiro single, Brasa, alcançou o primeiro lugar na parada viral do Spotify Brasil. Em 2017, lançou outras músicas, como Vou Passar e Bam Bam Bam!, que fez parte da trilha de Malhação (2019). Em 2021, ela assinou com a Warner Music.
Conquistando o título de poderosa das trilhas da Globo, Jade Baraldo confessa que um dos folhetins que mais a marcou foi O Clone (2001), mesmo sendo muito jovem na época. O motivo? Além de a novela apresentar um de seus hobbies preferidos, a dança do ventre, Jade também fez o teste para ser a filha de sua xará, interpretada por Giovanna Antonelli.
“Isso me marcou muito. Eu tive essa interação muito grande com a novela, porque fui fazer o teste. Quando eu estava no Projac, a Giovanna Antonelli me viu pequenininha, me achou muito fofa, me pegou no colo e me apertou. Além de tudo, me levou para passear no carrinho da Globo. Não tem como não ficar impactada, né?”, relembra a cantora.
A atuação não seguiu tão presente na vida da artista, apesar de ter sido impulsionada quando era criança. Jade Baraldo, porém, retornou aos palcos no teatro musical Cazas de Cazuza e não descarta a possibilidade de seguir carreira em algum momento.
“Eu gosto e sinto que tenho essa aptidão também”, confessa. “Mas até agora, pelo menos, não é uma coisa que me acende como cantar. Cazas de Cazuza foi uma puta de uma experiência e eu me choquei muito, me vi de uma outra forma, que eu nunca tinha me visto antes, e foi muito incrível. Mas não é uma coisa que eu viso, acho que acontece naturalmente. Se me chamarem para um papel que eu me identifique, é provável que eu faça, mas não é o meu foco.”
A sensualidade é muito presente nas manifestações artísticas de Jade Baraldo. Seu timbre imponente, as composições provocantes e até mesmo a maneira como se mostra ao mundo revelam um lado muito maduro da cantora e compositora, que completará 24 anos em setembro. “Eu nunca me senti muito criança, assim. Talvez isso tenha me feito ter uma casca, uma seriedade, de certa forma. Ter construído um muro que fez com que eu fosse quem eu sou hoje”, afirma.
Jade também não esconde suas raízes feministas e suas convicções. Nas redes sociais, se posiciona constantemente sobre pautas importantes, como direito das mulheres e aborto, sempre trazendo suas fortes opiniões à tona. “Eu me sensibilizo muito com a vida das mulheres, com a maldade do mundo em relação às mulheres até hoje, o que a gente passa. Isso é uma coisa que realmente me atinge e que me faz mover para que haja uma mudança e uma reflexão.”
Quando questionada sobre o que a inspira, Jade prontamente cita a convivência com mulheres ao seu redor. “As minhas amigas e as mulheres da minha família são a minha maior referência de força e resiliência. Eu me espelho muito nelas e aprendo muito com elas.”
Sobre suas referências musicais, além de Elis Regina (1945-1982), cita também Amy Winehouse (1983-2011). “Como artista, ela é muito foda. Como compositora, ela também é muito foda. Eu me identifico muito com ela, porque ela fazia uma autobiografia em suas músicas, e eu também faço isso de certa forma. Era uma coisa muito sem filtro, o palavrão era sua forma de escape, e eu me identifico”, acrescenta.
Jade Baraldo canta Love Is a Losing Game
Música de Amy Winehouse foi apresentada na semifinal do The Voice Brasil 2016
Jade Baraldo dá um spoiler à Tangerina sobre o futuro e confessa que pretende resgatar suas músicas da época em que trabalhava com o parceiro Gustavo Guimarães, em sua primeira banda, Terceiras Intenções. “Eu compunha a parte de MPB, e as músicas são muito boas”, afirma.
A cantora também cita que um grande sonho é fazer mais parcerias com mulheres. Lady Gaga e Lana Del Rey são exemplos de artistas com quem sonha em cantar ao lado, assim como Luisa Sonza. “Eu gosto muito do posicionamento dela, acho muito coerente. É incrível ver como ela lida com tudo o que está passando, admiro muito ela por isso.”
Ela revela que, em breve, uma parceria com uma mulher de peso está por vir. “Estou me conectando muito mais com as mulheres da cena. Essa troca é muito importante, falar sobre o que a gente sente. A gente está em um momento que estão em evidência muitas coisas que a gente não pode normalizar, e a lei por si só já normaliza e protege não a mulher, muito pelo contrário. Então, precisamos nos unir.”
Seu grande foco, daqui para frente, é levar cada vez mais arte e versatilidade para o mundo pop. “Eu quero muito fazer essa junção, principalmente nesse momento da pandemia em que ficamos muito carentes de arte, com coisas que nos façam refletir, sentir, dançar, se conectar. Música é isso. Eu vou explorar vários estilos de música, sempre trazendo a minha essência e esse lado artístico que me faz sentir”, finaliza.
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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