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Trio australiano de música eletrônica fecha o primeiro dia de festival neste sábado; vocalista explica que sonoridade vem de ouvir tanto Radiohead quanto Chemical Brothers
Num intervalo de três anos, o Rüfüs du Sol foi de nome miúdo no cartaz do Lollapalooza 2019 a principal atração do MITA Festival —ao lado do Gorillaz— em 2022. No entanto, tanto lá quanto cá, muita gente torceu o nariz e se perguntou “quem?!”. Para explicar melhor o que, afinal, é Rüfüs du Sol, a Tangerina foi direto à fonte.
Conversamos via Zoom com o cantor e guitarrista Tyrone Lindqvist. Ele forma o Rüfüs ao lado do tecladista Jon George e do baterista James Hunt. Juntos, os australianos se apresentam neste sábado (14) e no próximo domingo (22) nas edições de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, do MITA. Ainda há ingressos para o festival estreante.
Grosso modo, o Rüfüs du Sol é um trio de música eletrônica alternativa, focado especialmente em house music. Eles se reuniram meio que por acaso, em 2010, durante uma tempestade em Byron Bay, na Austrália. Os três estavam de férias e contornaram o imprevisto fazendo um sessão musical de improviso, a famosa jam session. A química artística surgiu e ali nascia o Rüfüs.
Mas não se engane: apesar de ser um projeto essencialmente de música eletrônica, os shows são muito ao vivo. Nas apresentações, Tyrone, Jon e James ficam alinhados à frente do palco, cada um sobre uma plataforma diferente, e tocam seus instrumentos ao vivo. Há bases e elementos pré-gravados, claro. No entanto, a essência de cada canção é apresentada no calor do palco.
Assista a um trecho do Rüfüs du Sol ao vivo
Vídeo mostra a estreia do single On My Knees no anfiteatro Red Rocks
“A gente gosta de viver em algum lugar entre o orgânico, com instrumentos ao vivo, e o digital, o eletrônico. Estamos no meio dos dois”, explica Tyrone. “É o que levamos aos shows, também. São três caras no palco, com instrumentos ao vivo e vocais, que fazem um show, porém também são três amigos se divertindo”.
Perguntamos a Tyrone se essa ideia de unir analógico e digital já estava na essência do grupo desde que o Rüfüs du Sol surgiu. “Sim, sempre foi uma parte importante do que fazemos. Todos os nossos clipes são basicamente isso, também. Filmamos grande parte deles na natureza ou com elementos alusivos à natureza, como árvores e paisagens. Mas há também elementos digitais neles”, responde.
Mas quais são as referências principais para as criações musicais do grupo? “Acho que nossa música é resultado de passar muito tempo ouvindo bandas como o Radiohead, mas também coisas como os Chemical Brothers. Nós curtimos esses dois mundos”, resume o vocalista.
Veja o Rüfüs du Sol ao vivo em Joshua Tree
Trio levou o digital ao tradicional parque da Califórnia
Aliás, não chega a ser exatamente comum vermos bandas de música eletrônica que tenham um frontman, ou melhor, um vocalista ao vivo. “Eu canto, mas não me porto necessariamente como um frontman. Nós três guiamos o show, somos três compositores, três produtores e estamos lá, na frente do palco, nos três pilares que montamos”, corrige Tyrone, que também cita Thom Yorke como uma referência enquanto vocalista.
O Rüfüs foi um sucesso quase instantâneo na Austrália. Por lá, o trio chegou ao topo das paradas logo no primeiro álbum, Atlas, lançado em 2013. Na época, eles nem tinham o complemento “Du Sol” no nome ainda. Isso só veio a acontecer oficialmente em 2018, quando o projeto ganhou corpo no mercado norte-americano.
Acontece que Rüfüs, como a banda se chamava, dá nome também a um importante grupo de funk dos Estados Unidos. O Rufus, sem trema, foi quem revelou a cantora Chaka Khan, conhecida como rainha do funk. A situação causava certa confusão. Inicialmente, os australianos optaram por ter um nome em seu país natal e outro para uso internacional. No fim das contas, foi mais fácil virar, oficialmente, Rüfus du Sol.
Em 12 anos de banda, o Rüfüs du Sol já lançou quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, gravado no Parque Nacional Joshua Tree, na Califórnia. Os principais sucessos do grupo são Innerbloom e You Were Right, do disco Bloom (2016). Mas um dos singles mais recentes, On My Knees, talvez seja a melhor canção lançada pelos australianos agora. Ela tem uma pegada um pouco mais obscura, uma produção dark, porém com refrão forte.
E eles chegam ao Brasil pouco mais de um mês depois de vencerem o primeiro Grammy da carreira. A faixa Alive, que também faz parte do disco Surrender (2021), saiu com o gramofone de ouro na categoria melhor gravação de dance/eletrônica em abril passado, em Las Vegas.
No entanto, segundo Tyrone, ainda não deu para se sentir um vencedor do Grammy. “Eu fiquei emocionado, sem entender o que tinha acontecido. Mas, horas depois, eu encontrei meu filho de 2 anos e meio e tentei explicar o que aconteceu. A resposta dele foi apontar para a rua e falar ‘olha, um ônibus!’ (risos). Além disso, você não vai com o troféu para casa. Acho que eles mandam para você, não sei. Então, ainda não entendi totalmente o que é. Talvez quando eu tiver com ele. Mas nos sentimos muito honrados”, garante.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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