Divulgação/Clifford Usher
Dono do álbum Blood Moon (2022) se sentiu inspirado para novos trabalhos após participar de live em primeira viagem ao Brasil
O cantor australiano RY X teve uma experiência única em sua primeira viagem ao Brasil. Ele gravou uma live no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, em uma iniciativa da empresa Cercle Music. “Há tanto no Brasil impresso nesse trabalho”, conta à Tangerina. “Uma cidade pequena à margem do parque estava nos apoiando, todos os dias que voltávamos. Era como se estivéssemos fazendo algo muito significativo nesse lugar. Eu era parado nos aeroportos, nas ruas, senti o amor do país.”
A live de cerca de 1h30 está disponível no YouTube desde setembro. A gravação foi realizada em uma parte do Parque Nacional que não fica aberta ao público, possibilitando que apenas a banda de RY X fosse vista –mesmo nas imagens aéreas. “Ver apenas a natureza ao seu redor é uma realização muito grande sobre o nosso lugar no mundo. E você está lá tocando música, o que é uma expressão do coração muito pura. Você realmente se conecta com o ritmo do lugar. Para ser honesto, eu ainda carrego isso comigo. Enquanto estamos conversando, me imagino lá. É muito palpável”, diz ele.
Durante a estadia na Maranhão, o cantor ainda finalizou uma música, que acabou ganhando o nome de Lençóis (Love Me). “A canção é como um choro, pedindo para alguém me amar da maneira correta. E a natureza te ama e te aceita inteiramente da maneira correta, sem se importar com quem você é”, compara RY X sobre a composição e a experiência no Brasil. “Definitivamente, ainda irá inspirar alguns trabalhos.”
Assista à live de RY X nos Lençóis Maranhenses
Projeto foi uma iniciativa da Cercle Music
Grande parte da setlist da live no Brasil foi composta pelas músicas do terceiro álbum de estúdio de RY X. Blood Moon (2022) foi lançado em junho, com músicas criadas durante a pandemia. O cantor passou a quarentena em sua casa em uma região isolada da Califórnia, sem outros colaboradores. “Eu compus, produzi, fiz a parte de engenharia e toquei todos os instrumentos. Tive essa sensação de liberdade que nunca tinha vivido antes”, relembra.
Com 13 faixas, o disco fala sobre amor e masculinidade tóxica a partir de experiências do próprio artista. “O balanço entre o masculino e o feminino é uma grande parte do que eu estou explorando na minha própria vida”, explica ele. “Havia momentos em que eu estava falando muito diretamente de alguém, uma amante, uma conexão. Em outros, eu estava falando com o divino ou tendo uma conversa comigo mesmo. Fez parte de explorar essas narrativas em mim mesmo”, diz ele.
As músicas trazem referências do pop alternativo e do lo-fi, dando continuidade aos trabalhos intimistas já lançados por RY X. “As pessoas se conectam com o sentimento de emotividade. Não importa se estou cantando sobre algo muito específico da minha vida, acaba ressoando para as pessoas sobre a maneira como elas amam”, explica.
RY X ainda comemora uma colaboração inusitada. Ele está creditado na composição e produção de Sticky, faixa lançada por Drake no disco Honestly, Nevermind (2022). O convite surgiu de Diamanté Blackmon, mais conhecido como DJ Carnage, que já estava envolvido com o projeto. “Ele queria trabalhar comigo e me perguntou se eu tinha algo para usar no álbum”, conta o cantor.
O australiano explica que não busca fama ao fazer parcerias, mas originalidade. “Quando as pessoas estão copiando umas às outras, eu fico muito entediado”, diz ele, citando Rosalía como um exemplo atual positivo na indústria. “Se fosse alguém copiando o Drake seria menos interessante para mim. Não sinto que é onde eu quero viver como artista. Quero quebrar terrenos”, diz ele.
Para RY X, trabalhos em grupo também exigem confiança. Ele conta que ouviu a versão final de Sticky através de uma ligação com os produtores que estavam no estúdio. “Eu estava no Marrocos, e não conseguia ouvir algumas frequências ou o baixo, mas dizia que parecia bom”, relembra ele, com bom humor.
Apesar de ser conhecido pelas músicas mais calmas e introspectivas, RY X explica que tenta fugir da “bolha” musical criada nos streamings de música. Ele ouve de Kendrick Lamar a canções espirituais e instrumentos. O período em que viveu em Berlim, no início da vida adulta, ainda fez com que se aproximasse de diversos nomes da música eletrônica.
Ele já lançou Your Eyes, por exemplo, ao lado do DJ Diplo, e Corners of the Earth, do duo norte-americano Odesza. “Eu sou próximo de muitas pessoas que são bem conhecidas no mundo, não gosto da palavra famoso. Somos todos iguais. Mas não é sobre isso em Los Angeles, é sobre viver de forma pura”, descreve ele. “Continuo sendo apenas eu mesmo. E essas pessoas me ligam e falam que querem um pouco da vibe do que eu faço. Isso é muito mais bonito do que só querer estar no álbum do Drake.”
Lucas Almeida
Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.
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