Reprodução/YouTube/The Weeknd
Dois dos maiores astros pop do mundo, os canadenses estão na bronca com a principal premiação da música. Entenda o que está por trás desta polêmica
Polêmica nova, problema velho. Você deve se lembrar que The Weeknd foi o grande esnobado da 63ª edição do Grammy, em 2021. Em resposta, ele anunciou que não inscreveria mais seus lançamentos na premiação já a partir do ano seguinte. Outro astro pop de grande repercussão foi além. O também canadense Drake recebeu indicações a melhor álbum de rap por Certified Lover Boy e melhor performance de rap pela canção Way 2 Sexy, mas surpreendeu a todos ao solicitar a retirada de seus trabalhos.
A controvérsia acontece após a Academia da Gravação, organizadora do Grammy, anunciar o fim dos “comitês secretos”, um painel formado por especialistas cujas identidades são desconhecidas. Resumidamente, há décadas, eles selecionavam as obras indicadas. A mudança vem sendo diretamente atribuída ao boicote de The Weeknd ao Grammy e às frequentes acusações de corrupção sofridas pela premiação.
“Não vou mais permitir que minha gravadora submeta minha música ao Grammy”, declarou o astro em 2021, quando o álbum After Hours, sucesso de público e crítica, não recebeu qualquer indicação à premiação. Na época, o diretor e presidente interino da Academia, Harvey Mason Jr, tentou abrandar a situação ao convidar o cantor a se apresentar na cerimônia. Não rolou. O executivo comentou ainda que o número de indicados era realmente muito pequeno, comparado ao volume de artistas merecedores.
After Hours estreou no topo da Billboard, em março de 2020, e rendeu a The Weeknd o disputado show de intervalo do Super Bowl no ano seguinte. É do disco o megahit Blinding Lights, recordista na Billboard e segunda música mais tocada da história do Spotify. Ainda assim, não mereceu nenhuma indicação, segundo o Grammy.
Reveja a apresentação de The Weeknd no Super Bowl
Músico se apresentou no disputado intervalo em 2021
Lançado em agosto de 2021, Take My Breath, single do recém-lançado Dawn FM, estava dentro da janela de consideração para o Grammy. Como prometido, porém, Weeknd não inscreveu a canção, apesar dos esforços da Academia para aliviar o vexame da edição de 2021.
Até então, o Grammy seguia uma regra que estabelecia que compositores deveriam contribuir com ao menos 33% de um álbum, para serem considerados a uma indicação. Mudanças recentes eliminaram essa regra. Justamente por isso, mesmo sem querer, The Weeknd está indiretamente indicado ao Grammy 2022. Por sua colaboração em Donda, de Kanye West, e Planet Her (Deluxe), de Doja Cat, o canadense é duplamente citado em álbum do ano, uma das principais categorias da festa.
Seu nome de batismo, Abel Tesfaye, aparece junto ao de dezenas de outros profissionais que participaram dos discos. O mesmo aconteceu na categoria melhor performance de rap melódico, na qual The Weeknd surge, contra sua vontade, pela parceria com Kanye West, na faixa Hurricane.
O rapper Drake foi um dos artistas a apoiar The Weeknd, após o ocorrido na edição de 2021. Nas redes sociais, ele comparou a situação a “um parente que você sempre tenta consertar, mas simplesmente não muda de comportamento”. Para Drake, The Weeknd era uma escolha certa para álbum e canção do ano (Blinding Lights), entre outras categorias.
“Acho que devemos parar de nos permitir ficar chocados todos os anos com a desconexão entre músicas impactantes e esses prêmios, e apenas aceitar que o que antes era a forma mais alta de reconhecimento pode não importar mais para o artista que existe agora e os que virão depois”, desabafou.
Em 2019, Drake teve seu microfone desligado durante o discurso pelo prêmio de melhor canção de rap, por God’s Plan. Ele afirmou que o prêmio não tinha valor e que jogava um “esporte” baseado em opiniões e não em fatos. “Você já venceu se tiver pessoas cantando suas músicas palavra por palavra, se estiverem cantando em sua cidade natal. Você já está ganhando, você não precisa disso aqui”, disse o cantor.
No ano anterior, Drake já havia se recusado a submeter o álbum More Life para consideração à lista de indicados. Por isso, não concorreu à edição de 2018.
Drake no momento em que percebe que seu microfone foi desligado no Grammy 2019
Reprodução/YouTube/ET Canadá
Apesar disso, não ficou claro ainda o que teria motivado o artista a pedir a retirada de suas indicações à edição de 2022. Afinal, se não quisesse concorrer, bastaria não enviar seu trabalho, como fez em 2018. Especula-se que a decisão possa estar relacionada à tragédia que tirou a vida de dez pessoas durante o show do também rapper Travis Scott no festival Astroworld, em Houston, Texas (EUA), em novembro de 2021. Drake participava dos shows e é citado em ações judiciais ainda em andamento.
Igualmente “esquecidos” pela Academia em 2022, destacam-se nomes femininos. Miley Cyrus mostrou sua versatilidade em Plastic Hearts, álbum que não se limita ao pop e apresenta, também, elementos do rock. O disco estreou na segunda posição da Billboard 200 e traz colaborações com nomes históricos, como Stevie Nicks, Joan Jett e Billy Idol.
Lana Del Rey se afasta aos poucos do mainstream com os álbuns Chemtrails Over The Country Club e Blue Banisters. Apesar de elogiados pela crítica, os discos lançados no ano passado foram ignorados na premiação. Simultaneamente, Normani não recebeu indicações pelo hit Wild Side, uma grande decepção para os fãs.
Veja performance de Joan Jett e Miley Cyrus
Artistas se apresentaram num evento pré-Super Bowl 2021
Entre os esnobados históricos —aqueles que até foram indicados, mas nunca venceram—, estão Brian McKnight, com 17 citações, Snoop Dogg, com 16, Björk, com 15, a cantora country Martina McBride, com 14, Dierks Bentley, também com 14, e Katy Perry, com 13.
Nesse ínterim, a lendária banda Queen recebeu apenas quatro indicações ao Grammy, não tendo vencido nenhuma delas. Com vasta carreira solo, o polêmico, mas indiscutivelmente talentoso Morrissey recebeu uma única indicação. A célebre banda sueca ABBA somente este ano conseguiu sua primeira indicação, após mais de 50 anos de carreira.
E a lista continua. Afinal de contas, é até difícil acreditar que a legendária Diana Ross, indicada quase todos os anos entre 1970 e 1982, nunca venceu nenhuma de suas 12 indicações. Por outro lado, ela venceu em 2012, mas pelo conjunto da obra —o Lifetime Achievement Award. E não está sozinha. Jimi Hendrix, Sammy Davis Jr. e a banda The Beach Boys são outros nomes a receberem somente o prêmio honorário.
Laysa Leal
Laysa Leal é comunicadora com especialização em audiovisual. Música, cinema e fotografia são suas grandes paixões. Mineira em São Paulo, foi conquistada pelos shows e festivais da capital paulista.
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