NO PALCO

Giulia Nadruz é a protagonista de Funny Girl

Divulgação/Caio Gallucci

DE BARBRA A LEA

Giulia Nadruz encara papel icônico em Funny Girl: ‘Não fujo de buchas’

Fã de Barbra Streisand, atriz dá vida a Fanny Brice em montagem brasileira do espetáculo que levou Lea Michele de volta à Broadway

Luciano Guaraldo

Um dos musicais mais icônicos do teatro norte-americano, Funny Girl foi encenado pela primeira vez na Broadway em 1964 e protagonizado por ninguém menos do que Barbra Streisand. A atriz e cantora se saiu tão bem que nenhum produtor se arriscou a fazer outra montagem do espetáculo –até o ano passado, quando Beanie Feldstein topou o desafio de viver Fanny Brice. Criticada, ela foi substituída por Lea Michele –que já tinha cantado vários números da peça enquanto estrelava Glee (2009-2015).

No Brasil, Funny Girl abriu suas cortinas no último dia 18 com Giulia Nadruz no papel principal. A atriz estava ciente do peso do musical e da personagem, mas não se deixou intimidar. “Fiquei nervosa? Fiquei (risos). Mas eu sou uma atriz que ama desafios, não fujo de buchas. E olha que eu já peguei umas belas buchas na minha carreira”, brinca a artista em conversa exclusiva com a Tangerina.

“Claro que a Fanny Brice é uma responsa daquelas, por vários aspectos. Apenas a diva Barbra Streisand criou o papel no teatro, eternizou no cinema, é uma personagem muito associada à figura da Barbra, uma pessoa que eu admiro demais, claro. Uma atuação tão icônica que Funny Girl ficou esses anos todos sem nenhuma remontagem, agora temos a Lea Michele, que já vem com uma legião de fãs por causa de Glee… Certamente pensaram: ‘Vamos fazer no Brasil? Precisa ser alguém que encare essa bucha… Chama a Giulia!’ (risos)”, diverte-se.

Os desafios vão além das performances de Barbra e Lea. “A própria Fanny Brice foi uma das maiores estrelas de sua geração. Ela era genial de fato, em mil aspectos, então é uma honra poder contar a história dela, que por si só revolucionou o show business, a Broadway, todos nós vivemos sob o seu legado”, valoriza a atriz, que decidiu construir sua própria versão da personagem para tentar evitar as comparações –inevitáveis, ela sabe.

“Foi delicioso construir a minha Fanny Brice, bebendo de muitas fontes, com muitas referências. Faço um pouco de homenagem a Fanny, a Barbra, a Lea, mas quis fazer uma versão muito minha também. Eu não acredito em cópias, acho que toda cópia é ruim porque não leva em consideração o seu material artístico e o seu material humano, acima de tudo. É ali que você consegue trazer verdade à personagem, convencer o público de que ela existe, é humana, porque você usa sua humanidade ali. Deu um medinho, mas agora a gente estreou, a resposta está sendo positiva, as pessoas saem muito empolgadas.”

No seu processo para Funny Girl, Giulia resolveu ir beber direto na fonte. “A primeira coisa que eu fiz foi correr atrás da biografia dela, da filmografia da própria Fanny. Como ela de fato existiu, temos uma responsabilidade a mais. Ainda mais se tratando de uma grande estrela. Por mais que o público brasileiro não tenha tanta referência da Fanny em si, ela é uma figura que fez história, que revolucionou muita coisa. É uma responsabilidade muito grande fazer jus a quem ela foi. Eu fiz questão de conhecer tudo sobre ela. Já conhecia o que estudei de teatro musical, da história da Broadway. Mas fui saber como era a vida dela, como ela pensava, agia, isso foi a base da minha construção. Eu li a biografia dela em inglês, porque não tem em português. E quis vê-la interpretando também como ela era como artista em cena. Porque tem o metateatro no espetáculo. Tem a Fanny pessoa física e a pessoa jurídica.”

Depois da pesquisa, vieram os ensaios –e uma nova série de desafios para Giulia. “A personagem ainda demanda uma preparação técnica enorme. Foram milhões de aulas de canto, dança, sapateado. Eu já peguei umas buchas na minha carreira, mas essa é a mais difícil que eu já fiz. Porque explora a comédia, o drama, tem romance, a parte vocal é absurdamente desafiadora na técnica… E a Fanny canta a peça inteira, tem números dificílimos, agudíssimos, beltadíssimos. É tudo no superlativo, precisa de muita resistência vocal pra dar conta do show inteiro sem morrer (risos).”

“Tem cena de patins, de sapateado, o Alonso [Barros, diretor de movimento] ainda estava na dúvida se ia me inserir no sapateado, que é o maior número do musical. Falei: ‘Pô, Alonso, estou há meses treinando, me bota sim que eu quero fazer!’. Então eu procuro essas dores de cabeça para mim também (risos)”, diverte-se Giulia, que passa a maior parte de Funny Girl no palco. “Eu tenho uma cena que dá tempo de ir para o camarim, no dueto da senhora Brice [Stella Miranda] com o Eddie [André Luiz Odin], todo o resto eu fico correndo igual a uma doida. É muito cansativo, mas nem dá tempo de ficar nervosa! Então acaba passando num piscar de olhos.”

Funny Girl fica em cartaz até 8 de outubro no Teatro Porto (Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo). As sessões acontecem todas as sextas, às 20h; aos sábados, às 16h30 e 20h; e aos domingos, às 15h30 e 19h. Os ingressos custam a partir de R$ 25 e estão à venda na plataforma Sympla.

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QUEM FEZ

Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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