Divulgação/Joan Marcus
Espetáculo Take Me Out chamou a atenção na internet por cena de Jesse Williams no chuveiro, mas história é necessária e chocante
A peça Take Me Out, em cartaz na Broadway, ganhou os noticiários após o vazamento de vídeos gravados ilegalmente e que mostravam o ator Jesse Williams, o Jackson Avery de Grey’s Anatomy, em uma cena de nu frontal. Mas o espetáculo é muito mais do que corpos nus –não à toa, ganhou cinco prêmios Tony com suas duas montagens em Nova York. A Tangerina assistiu e te conta tudo!
Escrita por Richard Greenberg e encenada pela primeira vez em 2002, Take Me Out conta a história de Darren Lemming (Williams), um dos melhores jogadores de beisebol da liga norte-americana. Considerado imbatível e uma espécie de deus do esporte, o astro choca imprensa e colegas da equipe Empires ao assumir sua homossexualidade.
Vinte anos depois da primeira montagem da peça, a situação narrada na ficção continua extremamente rara na vida real: o primeiro profissional da MLB na ativa a sair do armário foi Bryan Ruby, e isso ocorreu apenas em 2021. Até então, os poucos jogadores de beisebol que tinham revelado sua orientação sexual esperaram a aposentadoria dos campos para abrirem o jogo.
A montagem de Take Me Out também ganha força se for considerado o atual momento do esporte, que tenta ser mais inclusivo e abraçar a diversidade ao mesmo tempo em que protestos a favor da comunidade LGBTQIA+ têm sido censurados pela Fifa no Catar. Dá para entender por que alguns jogadores esperam o pendurar das chuteiras para finalmente viverem sua verdade.
De volta à narrativa de Darren, sua homossexualidade começa a criar problemas com o time quando seus colegas ficam desconfortáveis ao dividirem os chuveiros com ele –algo que ocorria normalmente antes de sua revelação. Mas o astro não se importa –afinal, Lemming sabe que é um dos melhores do esporte, os outros é que precisam se adaptar a ele.
A equipe, porém, começa a perder todos os jogos, e os diretores decidem contratar um reforço: Shane Mungitt (Michael Oberholtzer), um arremessador talentoso, mas de poucas palavras e que chega ao vestiário repleto de mistérios –e de um passado traumático sobre o qual ele se recusa a falar.
O novato leva os Empires a uma sequência impressionantes de vitórias, atrai a atenção da imprensa e, em uma entrevista coletiva, dispara uma sequência de ofensas –não só a Darren, mas aos jogadores estrangeiros (há latinos e um japonês na equipe). É a gota d’água para Darren, que começa a rever sua suposta invulnerabilidade e os preconceitos que ele se recusava a enxergar por sempre ter levado uma vida privilegiada.
Contar mais do que isso seria estragar a experiência de ver Take Me Out se desenrolar na sua frente, mas a situação fica cada vez mais intensa –mesmo com o alívio cômico que é Mason Marzac (Jesse Tyler Ferguson, de Modern Family), contratado para administrar o dinheiro de Darren e que se torna uma espécie de confidente gay do jogador.
As cenas de nu frontal da peça acontecem no contexto do vestiário, onde o time se reúne depois de cada partida. E, apesar de certamente terem se tornado um atrativo para o público, elas nunca são gratuitas. A sequência que vazou na internet e traz Jesse Williams e Michael Oberholtzer juntos no chuveiro passa longe de ser sexy –é um momento pesado, em que os dois personagens tomam atitudes questionáveis e que culminam no clímax trágico da história.
Os dois atores, aliás, estão muito bem em seus papéis. Williams mostra a maturidade que ganhou em muitas temporadas de Grey’s Anatomy para carregar um personagem extremamente convencido, mas que vê sua fortaleza de autoestima ruir aos poucos quando é confrontado pelo mundo real.
Já Oberholtzer começa calado, mas dá um show em sua última cena –Shane despeja um discurso que é um misto de verdades e ofensas horríveis. Impossível não ser atingido de alguma forma ao que é dito. Não foi por acaso que os dois receberam indicações ao Tony deste ano. O prêmio acabou com Jesse Tyler Ferguson, que não tem tantas cenas intensas, mas também é fundamental para o desenrolar da história.
Take Me Out fica em cartaz na Broadway até 5 de fevereiro do ano que vem. Se você for visitar Nova York e quiser conferir o espetáculo, os ingressos podem ser adquiridos pela internet.
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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