Reprodução/Apple TV+
O k-drama da Apple TV+ acerta ao dosar acontecimentos históricos, as adversidades da imigração e relações familiares com sutileza e impacto na medida certa
As máquinas de Pachinko, facilmente encontradas em fliperamas no Japão, são classificadas ao mesmo tempo como entretenimento e jogos de azar. Pode parecer contraditório, já que esta última atividade é uma prática ilegal, mas esse dispositivo que mescla pinball e caça-níquel é uma exceção. Além disso, estima-se que 80% dos estabelecimentos de pachinko no país nipônico sejam de propriedade dos coreanos (via Japan Times).
É daí que vem o título Pachinko, novo k-drama exclusivo da Apple TV+. Por sua vez, a série de época é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Min Jin Lee, publicado em 2017. A obra se tornou um best seller nos Estados Unidos e até mesmo o ex-presidente Barack Obama o indicou.
A direção é assinada pelos cineastas Kogonada e Justin Chon, enquanto a premiada autora E.J. Koh divide o roteiro com Soo Hugh, principal responsável pela adaptação de Pachinko e roteirista que colaborou em séries elogiadas como The Terror (2018) e The Killing (2011). A produção nipo-coreana-estadunidense é ainda ambientada em diferentes cidades e épocas.
Trailer de Pachinko
Vídeo oficial com cenas do k-drama
Já o diversificado elenco reúne desde uma vencedora do Oscar, passando por modelos e estreantes, até um dos principais galãs da dramaland sul-coreana. O resultado dos investimentos feitos em diferentes elementos da produção não poderia ser outro senão o sucesso, consagrando Pachinko dentre um dos melhores k-dramas —e por que não dizer séries— de 2022.
Pachinko gira em torno de Sunja e as gerações conseguintes de sua família. Primeiro, a conhecemos ainda criança em 1915 (interpretada por Jeon Yu-na), vivendo a brutal época em que a Coreia unificada está sob ocupação japonesa. Filha de um casal que gerencia uma estalagem na antiga Busan, em sua adolescência (vivida pela estreante Kim Min-ha) ela conhece e se apaixona pelo galante e severo Koh Hansu (o astro Lee Min-ho), o novo supervisor do mercado de peixes.
O relacionamento termina de forma nada amigável e Sunja e sua mãe acabam salvando a vida do pastor Baek Isak (Steve Sang-hyun Noh). Em troca, ele oferece uma oportunidade para a protagonista em Osaka, e os dois se casam e partem para a cidade em questão em 1933.
Kim Min-ha é estreante e não deixa a desejar em sua atuação
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E enquanto o livro de Pachinko se divide em três partes e conta de forma cronológica os acontecimentos, a trama do k-drama mistura as épocas ao longo de seu desenvolvimento. Para isso, mostra em paralelo as dificuldades do casal coreano em território japonês no período pré-Segunda Guerra Mundial, e o impacto das mudanças geopolíticas e questões nacionalistas que ecoam até terceiro núcleo, situado na Yokohama de 1989 —auge da bolha financeira e imobiliária do Japão.
Esse grupo também mostra Sunja, em plena terceira idade (interpretada por Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Minari: Em Busca da Felicidade), orbitando na conturbada relação entre o filho Mozasu (Soji Arai) e o neto Solomon (Jin Ha), que procura um propósito para além do trabalho enquanto lida com um acordo imobiliário que pode mudar sua vida para sempre.
Por último, mas não menos importante: Pachinko reserva ainda um episódio inteiro dedicado a outro acontecimento chocante da história do Japão, mas seria um crime estragar esse momento, retratado da forma implacável a que tem direito. A dica não poderia ser outra: assista.
Lee Min-ho e Kim Min-ha contracenando em Pachinko
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Mesclar esses eventos históricos com o drama familiar é uma das maiores qualidades de Pachinko, já que o k-drama sempre equilibra esses temas com a sutileza e o impacto que merece —sem deixar de lado as adversidades da imigração coreana, ou as tragédias que marcaram o Japão. Toda essa abordagem acaba culminando em uma história de época sobre a sobrevivência de uma família e a grande questão que os cerca: sorte ou destino?
A sorte e o destino são temas trabalhados de forma indireta em Pachinko e representados por momentos simbólicos e itens distintos —como as próprias máquinas de pachinko e tudo o que representam, ou ainda através do relógio de bolso dourado. Os sacrifícios dos pais de Sunja refletem nela e em seus descendentes, quase como um ciclo que se repete. Mas o objetivo da protagonista é sempre a sobrevivência, dela e dos seus.
O k-drama emociona ao trabalhar muito bem essa temática, dosando a força de uma mulher e imigrante, e também seus sentimentos. E a série não demora a mostrar as consequências de suas escolhas e ações quando vai e vem entre cenas de diferentes épocas. Isso porque muitas vezes não é a chegada que importa, mas sim a jornada.
Um dos destaques do elenco de Pachinko é a veterana Youn Yuh-Jung, que inclusive já ganhou um Oscar
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Além disso, as passagens entre passado e presente também se espelham de maneira magistral, mantendo o espectador intrigado com a cíclica trama. Somando estes elementos a uma trilha sonora emocionante digna de uma série de época e às atuações a altura de um elenco estelar, a produção como um todo entrega uma das melhores experiências deste início de 2022.
E para além de uma execução técnica excelente, Pachinko reforça que existem contornos para diferentes caminhos, e que a esperança reside em recomeços, especialmente ao celebrar e emocionar com histórias que se refletem na árdua jornada de Sunja: uma filha, mãe e avó coreana, imigrante e sobrevivente.
A adaptação de Pachinko para a Apple TV+ cobre boa parte do material original em oito episódios de cerca de 55 minutos cada. Os três capítulos iniciais da jornada de Sunja e sua família estreiam nesta sexta-feira (25) com opção de dublagem em português, e os demais chegam ao serviço de streaming da maçã semanalmente. A exibição do último está marcada para 29 de abril.
Jessica Pinheiro
Repórter da Tangerina, Jessica Pinheiro já cobriu games e tecnologia em veículos coo IGN Brasil, Loading TV e The Enemy. É streamer nas horas vagas e nasceu no Ceará, mas infelizmente não tem sotaque. Ama karaokê e também assina a Koluna Pop, onde traz todas as novidades do universo do k-pop.
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