Divulgação/Netflix
Série sobre o serial killer virou fenômeno justamente no momento em que o produtor Ryan Murphy discute renovação de contrato
Emplacar uma série de sucesso, em um mercado que lança mais de 500 produções todos os anos, é a missão de qualquer player. Mas a Netflix encara uma faca de dois gumes com o fenômeno Dahmer: Um Canibal Americano. A atração sobre o serial se tornou o terceiro produto mais visto na história da plataforma no pior momento possível: quando o contrato bilionário do streaming com Ryan Murphy está prestes a vencer.
Em 2018, o criador assinou um acordo de cinco anos para desenvolver séries, minisséries e filmes para a Netflix com exclusividade. O valor? US$ 300 milhões, ou mais de R$ 1,5 bilhão, na cotação atual. Atualmente, é um valor impensável para a plataforma, que perdeu assinantes pela primeira vez em mais de uma década e precisa cortar custos.
Até o início de setembro deste ano, seria fácil para o streaming abrir mão do acordo de exclusividade com Murphy ou negociar uma renovação por um valor bem menor. Afinal, o produtor passava longe de conseguir um sucesso incontestável, como já havia feito com Nip/Tuck (2003-2010), Glee (2009-2015) e American Horror Story. E não foi por falta de produtividade!
Só na Netflix, Ryan Murphy produziu as séries The Politician (2019-2020) e Ratched, as minisséries Hollywood (2020) e Halston (2021), os filmes Os Rapazes da Banda (2020) e Festa de Formatura (2020) e os documentários Atrás da Estante (2019), Secreto e Proibido (2020) e Pray Away (2021). Em boa parte deles, o executivo ainda dirigiu e roteirizou. Ou seja, ninguém pode acusá-lo de fazer pouco. Mas os projetos não repercutiram como todos desejavam.
Ryan Murphy fechou acordo de US$ 300 milhões com a Netflix
Reprodução/Television Academy
Em 21 de setembro deste ano, porém, a maré virou a favor do produtor. Dahmer teve uma estreia explosiva na plataforma, acumulando 196 milhões de horas assistidas nos primeiros cinco dias e fechando as quatro semanas iniciais no catálogo com 856 milhões de horas –fica atrás apenas de Round 6 (1,6 bilhão) e da quarta temporada de Stranger Things (1,3 bilhão).
Quer mais? Depois de passar três semanas no topo da lista de séries mais vistas, Dahmer foi desbancada pela minissérie Bem-Vindos à Vizinhança, outra produção de Ryan Murphy. E, uma semana antes, o cineasta já tinha emplacado outro de seus projetos, O Telefone do Sr. Harrigan, como o segundo filme mais visto da plataforma –o longa acumulou 61 milhões de horas nas três semanas que passou no ranking.
Com seu contrato de cinco anos vencendo em 2023, Murphy entra na sala de negociação com muitas cartas na manga que ele não tinha há apenas dois meses. Mas, em um momento em que a Netflix está demitindo funcionários para cortar custos e tomando medidas pouco populares, como a inclusão de propagandas no meio de seu conteúdo ou a cobrança de um extra para quem divide a assinatura com outra pessoa, vale a pena pagar US$ 300 milhões (ou mais) para contar com uma pessoa em seu banco de talentos?
Há dois meses, a resposta seria um “não” bastante óbvio. Agora, os chefões da plataforma vão ter que pensar melhor.
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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