FILMES E SÉRIES

Kristen Bell e Noah Adam Brody em Ninguém Quer

(Foto: Divulgação/Netflix)

Análise

Ninguém Quer perdeu a graça porque ignorou regra principal de Fleabag

No fim, a Netflix mostra como é difícil manter vivo um amor de série quando falta algo para mover a história adiante

Victor Cierro
Victor Cierro

A segunda temporada de Ninguém Quer chegou com expectativas altas depois do sucesso inicial, mas a recepção foi bem mais morna desta vez. A comédia romântica da Netflix apostava no charme e na química imediata do casal protagonista, algo que funcionou muito bem no primeiro ano. Só que, ao avançar a história, a série acabou esbarrando em um desafio clássico do gênero: manter um relacionamento ficcional interessante sem cair no tédio ou na repetição.

Em romances para TV, é preciso equilíbrio. Se o casal fica junto cedo demais, a trama pode perder força. Se surgem obstáculos demais, o público para de torcer por eles. Ninguém Quer optou por repetir conflitos já vistos, esticando a relação de Joanne (Kristen Bell) e Noah (Adam Brody) sem apresentar novas camadas emocionais. O resultado foi uma segunda temporada que parecia rodar em círculos, tentando recriar a mesma magia do começo.

O problema fica evidente no final da temporada, que praticamente repete a conclusão do primeiro ano. Os personagens chegam aos mesmos dilemas, com as mesmas dúvidas, tomando quase as mesmas decisões. Em vez de aprofundar o romance ou mostrar novos desdobramentos, a série da Netflix pareceu presa a um modelo que já tinha esgotado seu potencial.

Andrew Scott e Phoebe Waller-Bridge em cena de Fleabag

Andrew Scott e Phoebe Waller-Bridge em cena de Fleabag

(Foto: Divulgação/Prime Video)

Ninguém Quer pisou na bola

E aí entra Fleabag como um contraste perfeito. A série britânica, ao desenvolver a relação entre Fleabag (Phoebe Waller-Bridge) e o Padre (Andrew Scott), mostrou que a força de um romance pode estar justamente na tensão do que não acontece. Em vez de apostar na estabilidade precoce, a história constrói desejo, expectativa e silêncio – elementos que tornam cada olhar e cada palavra mais carregados de significado.

O relacionamento em Fleabag nunca precisou de duas temporadas para funcionar. Ele nasce, cresce e se resolve dentro de um arco concentrado, no qual o obstáculo central é claro: ele é um padre, alguém que, por definição, não deveria se envolver. Isso torna cada interação intensa, quase proibida, elevando o impacto emocional sem precisar prolongar o enredo artificialmente.

Essa diferença explica muito do desgaste de Ninguém Quer. A série tentou sustentar um romance já “resolvido”, sem criar novas tensões ou novas perspectivas para o casal. Já Fleabag entendeu que nem todo romance precisa durar para ser inesquecível. Às vezes, o poder está justamente em saber quando encerrar.

No fim, Ninguém Quer mostra como é difícil manter vivo um amor de série quando falta algo para mover a história adiante. Enquanto isso, Fleabag permanece como exemplo de como a paixão, a espera e até a impossibilidade podem criar uma história muito mais marcante do que qualquer final feliz prolongado.

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QUEM FEZ
Victor Cierro

Victor Cierro

Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.

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