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A coluna Fresquinhas! indica os lançamentos sobre os quais você precisa ter uma opinião esta semana. Tem ainda Normani, Karol Conká, Gayle e Barões da Pisadinha
Bom dia pra quem mal acordou e já colocou o novo da Rosalía em altíssimo volume, pensando na carteira de moto que vai ter que tirar em breve. Aliás, hoje é um ótimo dia para dois públicos: gays e fãs de veículos. Com MOTOMAMI (álbum da Rosalía, focado em motocicletas) e Crash (álbum da Charli XCX, focado em carros), parece que o assunto está em alta entre os lançamentos —o que eu considero bastante insensível da parte das artistas, considerando o preço da gasolina.
Temos também lançamentos de artistas sumidos, como Normani e Arcade Fire; artistas que foram forçados a sumir, como Karol Conká, e artistas que não descansam nunca, como Luísa Sonza. Hoje é um dia daqueles, que a lista de lançamentos contempla todo tipo de gosto.
Nessa selva de novidades, segue a seleção dos álbuns e singles que você precisará ter uma opinião sobre:
Tem que dar a César o que é de César —nesse mundinho, não há ninguém como Rosalía. A artista, que tem um alcance muito maior do que na época do lançamento do seu último álbum, parece pouco afetada pela fama excessiva. Aliás, Rosalía segue profundamente autêntica, como se ainda fizesse música sem pressão alguma de hitar.
MOTOMAMI é, para todos os efeitos, torto e caótico —um exemplo é a linda, delicada faixa cuja letra é até meio explícita e o nome é HENTAI. É pra poucos. Na verdade, o disco é uma prova do quanto Rosalía consegue passear por estilos e formatos sem perder identidade, ritmo e refinamento; durante todo o tempo, a única coisa que você consegue pensar é “Madre mia, Rosalía”. Mesmo a bachata-quase-brega de La Fama (que eu adoro, na verdade, mas tinha medo de destoar do resto) fica repentinamente descolada no meio do flamenco, rap, reggaeton e salsa por onde a artista transita. Ao contrário da obra prima El Mal Querer, que girava em torno do flamenco, em MOTOMAMI, a artista manda avisar que ela faz o gênero musical que der vontade —e o faz com maestria.
A essa europeia, eu dou o passe de latina quando ela quiser. Aliás, Rosalía, entre na minha casa e coma…
Lá vem ela: a artista que pode até tentar, mas não consegue ser genérica. Depois de um álbum mais “bateção de panela”, Charli lança Crash, seu disco de retorno pro pop dançante, menos experimental, de mais fácil absorção. O álbum brinca com influências de todos os cantos: sample anos 1990, synths oitentões, influência disco e até uma interpolação de um hit do Summer Eletrohits —literalmente. É uma obra de quem é verdadeiramente apaixonada por todas as formas do pop, homenageando-o com seu olhar contemporâneo.
Em Crash, você é menos um ouvinte e mais um aprendiz: cuidadosamente, Charli te leva por uma curadoria do que ela acha que vale a pena ouvir e dançar. O disco quase tem uma arrogância —–de quem quer mostrar que sabe fazer pop pop, e só não o fazia porque tinha outras preferências—, mas não faz mal. Tem lá suas músicas não-tão-boas, mas quando ela acerta, acerta. Sim, tô falando de Baby, Used to Know Me, Good Ones, Constant Repeat. A gata sabe o que faz.
Nos poucos momentos em que a gravadora deixa Normani lançar alguma coisa, somos forçados a sofrer o luto de tudo que a artista poderia ser. Convenhamos: com uma boa administração de carreira, essa aqui seria um dos maiores nomes do pop e R&B.
Mas tá bom, demos sorte de ouvir mais uma música sem ter que esperar dois anos. Fair é uma balada R&B que ecoa nos ouvidos, com autotune bem colocado ao fundo. Os vocais de Normani são gostosos, precisos. É ótimo conhecer esse lado da cantora, mas não é nenhum acontecimento como Wild Side e Motivation. Só uma lembrança rápida de que até eu cuidaria melhor da carreira dela do que a RCA.
Antes de avaliar essa faixa, alguns esclarecimentos. Essa versão, com Luisa Sonza, é um remix de Sentadona (Ai Calica) —não confundir com a faixa chamada apenas Ai Calica, nem com Ai Calica, Ai Caralho. Ah, claro, não confundir com Socadona —ou “Sou Cagona”.
Uma vez esclarecidas as confusões, vamos lá: neste remix, Sonza dá uma nova cara, flow (e bom humor) para a música, garantindo oficialmente que será um hit. Remix tem dessas, né. Apesar de ser uma estratégia pra bombar, o negócio às vezes dá muito errado e só te dá vontade de ouvir a original, antes do “estrago”. Não é o caso de SentaDONA; nela, a participação de Luísa Sonza faz com que você não queira mais ouvir a original, na verdade. Aos meus ouvidos, essa é a única versão possível.
A essa altura, no ano passado, ouvir, comentar e rir com Karol Conká pareciam coisas impensáveis —mas ainda bem que o tempo passa e as coisas dão uma acalmada. Depois de tudo o que rolou, na verdade, tirar sarro de si mesma é uma ótima opção. E é o que a mamacita faz com tranquilidade em Paredawn, acompanhada de ninguém menos que RDD, mais um dos lançamentos de sua fase pós-BBB.
Afinal, não gostou, coloca no paredawn que ela tem uma carreira linda lá fora. Tinha. E tá voltando a ter.
Eu me perco na linha do tempo de Arcade Fire: tem gente que amava os primeiros álbuns e largou mão há um tempo, tem gente que nunca amou, tem gente que nunca deixou de amar. Da minha parte, eu gosto até do Everything Now, que na minha cabeça configura um dos discos mais xingados da história.
Os lançamentos da vez, The Lightning I, II —faixa de 5min30s, dividida em seu clímax em duas partes— dá um respiro para todos os fãs, ex-fãs e novos-fãs. É uma música (ou duas) criativa, genuína, naquele clima absurdamente trilha-sonora-de-filme-independente como só a época The Suburbs garantia. Mas não é um repeteco: é ainda mais ousada que muitas obras do grupo, crescendo, subindo e acelerando a batida do seu coração só para evaporar no fim. E claro, te deixar com gostinho de quero mais.
descobrindo mais letras no alfabeto além de A, B, C, D, E, F e U, GAYLE prova que é boa em fazer música adolescente.
essa combinação de nomes já nasce com milhões de streams, né?
deliciosa, saborosa, frescor, sensação de que não há nada de errado no mundo.
dessa vez não rolou, mas quem sabe da próxima?
adorei descobrir como a Remi Wolf soa quando não está sob efeito de cogumelos!
E com essa me despeço, em uma semana coroada com lançamentos fresquíssimos. Deve ter algo nos astros: quase todos os lançamentos de hoje tinham um sabor diferenciado, prometendo um futuro musical delicioso. Afinal, vem aí o nascimento do filho da Rihanna em solo nacional, o que nos garantirá contínuos investimentos mundiais e ascensão econômica, sem sombra de dúvida.
Um brinde a isso.
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Dora Guerra
Dora Guerra é pesquisadora musical e pensa mais sobre o tema do que deveria. Na Tangerina, publica a coluna Fresquinhas!, sobre lançamentos musicais. Suas posses incluem: a newsletter Semibreve, o podcast Queijo Quente, uma vira-lata caramelo, alguns vinis e uma vitrola estragada.
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