Montagem/Tangerina
No aniversário de 20 anos do primeiro remake da franquia de terror de sobrevivência, entenda como Resident Evil andou para que Resident Evil 4 pudesse correr —e influenciar todos os jogos de ação que vieram depois
Lançado há 20 anos, o remake do primeiro Resident Evil é tecnicamente impecável, além de ser considerado por crítica e público como uma das experiências mais assustadoras dos videogames. No game, o jogador controla Jill Valentine ou Chris Redfield, dois agentes especiais que devem reencontrar os demais integrantes de sua equipe enquanto tentam sobreviver em uma mansão tomada por mortos-vivos e outras criaturas.
Apesar do sucesso, o aclamado remake do game de terror de sobrevivência não vendeu tão bem quanto seus criadores projetaram. Devido ao fracasso comercial inesperado, os desenvolvedores resolveram reinventar a franquia, e três anos depois, lançaram um jogo que dividiu a comunidade de fãs e que, ao mesmo tempo, revolucionou a indústria dos games: Resident Evil 4.
E é com esta curiosa história que a Tangerina celebra os 20 anos do lançamento do remake de Resident Evil, nesta terça-feira (22).
Além de Jill, outros personagens complementares como Barry (à dir.) aparecem no game
Reprodução/Capcom
Resident Evil Remake marca a primeira vez que a franquia de terror de sobrevivência desenvolvida pela Capcom ganhou uma reimaginação, desta vez encabeçada pelo criador da série, Shinji Mikami, que retornou ao posto depois de se tornar o produtor principal e supervisionar as sequências do título original.
O remake do primeiro Resident Evil foi desenvolvido dentro do período de um ano e dois meses, um tempo considerado muito curto para um projeto desse escopo. Ainda assim, por conta do envolvimento direto de Mikami, muito do que ele gostaria de ter feito no jogo original de 1996 foi incluído nesta nova versão.
Mikami acreditava que o primeiro Resident Evil não havia envelhecido bem, e por isso, aproveitou-se das capacidades do Nintendo GameCube para dar vida ao jogo de terror de sobrevivência que o diretor sempre quis.
Resident Evil: Comparação gráfica
Vídeo de fã compara, lado a lado, a versão original com o remake remasterizado
As bases, portanto, são as mesmas: os personagens construídos a partir de modelos 3D ficam sobrepostos em fundos pré-renderizados e se movimentam em um tipo de jogabilidade conhecida como tank. A diferença é que a qualidade gráfica foi aprimorada graças aos avanços da tecnologia na época, além de terem sido acrescentadas áreas a serem exploradas, inimigos inéditos, novas mecânicas de jogo e o roteiro foi revisado —ganhando uma subtrama que tinha sido cortada do jogo original.
Não deu outra: o remake de Resident Evil foi um sucesso enorme, refrescando o gênero de terror de sobrevivência que ele mesmo havia popularizado anos antes. Mas, ainda que a experiência seja uma das melhores e mais assustadoras dos videogames, as vendas do jogo foram abaixo do esperado, e muito disso deve-se ao fato de que o título era exclusivo do console da Nintendo.
Preso ao GameCube devido a um famigerado acordo de exclusividade, Resident Evil Remake vendeu apenas 1,2 milhões de unidades em seu primeiro ano. Para Mikami, porém, isso significava que os fãs não queriam mais jogos pautados em medo e sustos. E foi através deste pensamento que a franquia foi completamente reestruturada, deixando para trás suas raízes de terror e abraçando de vez a ação.
Zumbis, plantas mutantes, aranhas gigantes e cães infectados são alguns dos inimigos do jogo
Reprodução/Capcom
O gênero de terror de sobrevivência se tornou a principal marca da franquia Resident Evil, logo após o lançamento do jogo original em 1996 e, ainda que tenha flertado com a ação em títulos como Resident Evil 3: Nemesis (1999), a série nunca havia ido muito além de cenas animadas inspiradas em filmes de John Woo, como aconteceu em Resident Evil -Code: Veronica- (2000).
“O remake de Resident Evil é na verdade um dos meus favoritos da série também. Mas não vendeu muito bem”, revela Mikami em uma entrevista ao IGN. “Por causa da recepção ao remake de Resident Evil, decidi trabalhar em mais ação em Resident Evil 4. RE4 poderia ter sido um jogo mais assustador e focado no terror se o remake tivesse vendido bem.”
“Com Resident Evil 1, 2, 3, e todo o resto da série antes de Resident Evil 4, eu sempre dizia para a equipe: ‘Assustar o jogador é nossa prioridade’”, complementa o diretor. “Pela primeira vez, em Resident Evil 4, eu disse à equipe que uma jogabilidade divertida era a coisa mais importante.”
A câmera sobre o ombro mudou a forma como os videogames eram feitos
Reprodução/Capcom
Resident Evil 4 foi lançado em 2005 e mudou tudo. O jogo era pautado na ação beirando ao frenético em alguns segmentos, e trazia um novo ângulo de visão sobre os ombros, abandonando de vez a câmera posicionada de maneira fixa nos corredores claustrofóbicos dos títulos anteriores.
A câmera sobre os ombros de RE4 mudou a indústria a partir desse momento, com inúmeros games de diferentes gêneros adotando esse recurso, uma vez que esse ângulo permitia uma movimentação mais livre e uma melhor percepção do ambiente —Gears of War, Dead Space e até o mais recente God of War (2018) são alguns exemplos de jogos que adotaram esse tipo de visão.
RE4 também inovou com uma ambientação menos fechada e isolada e mais populosa, com direito a segmentos em plena luz do dia; além de expandir a mecânica de inventário de itens e trazer a opção de comprar e melhorar armas, dentre outras novidades.
Com tantos ingredientes frescos misturados ao tempero da ação, RE4 se consagrou como um dos maiores sucessos da Capcom, ganhando inúmeros relançamentos para diferentes plataformas ao longo dos próximos anos. Até junho de 2021, o título vendeu 11.2 milhões de cópias, somando todas as suas versões.
Leon S. Kennedy (à esq.) retorna como protagonista a precisa resgatar a filha do presidente, Ashley (à dir.) em RE4
Reprodução/Capcom
Apesar da história curiosa e dos desdobramentos inesperados, o remake do primeiro Resident Evil teve um final feliz. Infelizmente Mikami não está mais na Capcom, é verdade, mas seu jogo de terror definitivo foi relançado para outras plataformas, libertando-se da maldição do GameCube.
Em 2008, o remake recebeu um port para Nintendo Wii e, a partir de 2014, ganhou uma remasterização em HD que foi lançada para PC (via Steam), Xbox 360, PlayStation 3, Xbox One, PlayStation 4 e, mais recentemente, para Nintendo Switch.
Graças a isso, as vendas do título game aumentaram, o que pode ter aberto os olhos dos produtores na Capcom novamente para o gênero. Afinal, curiosamente, a franquia retornou para o terror de sobrevivência em 2017, com Resident Evil 7: Biohazard.
Resident Evil 7: Biohazard traz a franquia para o terror de sobrevivência novamente
Reprodução/Capcom
Ainda que tenha começado seu desenvolvimento no final de 2014, o sétimo jogo numerado retorna às suas raízes, desta vez com uma câmera em primeira pessoa e inúmeras homenagens a subgêneros de filmes de terror, dentre outras particularidades.
Jessica Pinheiro
Repórter da Tangerina, Jessica Pinheiro já cobriu games e tecnologia em veículos coo IGN Brasil, Loading TV e The Enemy. É streamer nas horas vagas e nasceu no Ceará, mas infelizmente não tem sotaque. Ama karaokê e também assina a Koluna Pop, onde traz todas as novidades do universo do k-pop.
Ver mais conteúdos de Jessica PinheiroTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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