MÚSICA

Bruno Mars tem um guitarrista brasileiro; conheça Mateus Asato

Divulgação

Grammy 2022

Conheça Mateus Asato, o guitarrista brasileiro de Bruno Mars

Instrumentista, que surgiu na cena emo nacional, toca com Mars desde 2019 e é integrante do Silk Sonic, atração de abertura do Grammy 2022

Marina Santa Clara
Marina Santa Clara

É noite de estreia do show do power duo Silk Sonic, de Anderson .Paak e Bruno Mars, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Celulares e câmeras fotográficas são recolhidos na entrada. Casa cheia, as cortinas do teatro Dolby Live se abrem e, do cenário aos figurinos, o clima anos 1970 que toma conta do espaço anuncia o início do espetáculo An Evening With Silk Sonic. Entre sucessos do álbum da dupla, com pegada R&B, lançado no ano passado, a noite avança com canções de Paak —Make It Better e Am I Wrong— e megahits de Mars —Treasure e That’s What I Like. A certa altura, Mars anuncia, em uma pronúncia meio desajeitada, o nome de seu guitarrista: “este é o Mateus!”. 

Mateus é o brasileiro Mateus Asato. Nascido em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, tem 29 anos e vive há nove em Los Angeles. Fez seus primeiros shows com Bruno Mars em 2019. Antes, vez ou outra o cantor já o elogiava em seus posts com vídeos tocando no Instagram (@mateusasato). Hoje, o guitarrista é músico fixo da banda que acompanha o projeto do havaiano com Paak em Las Vegas até o fim de maio e se prepara para tocar com a dupla na abertura do Grammy (em que estão indicados a quatro categorias) neste domingo, dia 3.

A turma do Silk Sonic em Las Vegas

Mateus Asato com a turma do Silk Sonic em Las Vegas

“Vai ser a primeira vez [tocando no Grammy], eu já tinha tocado nas outras grandes premiações, então estou muito empolgado. Estou até atrás de uns equipamentos para a gente fazer diferente, porque obviamente tem que ser alguma coisa diferenciada e especial”, conta. 

Antes de Bruno Mars, Tori Kelly e Jessie J

Antes de se tornar o guitarrista de um dos maiores astros pop do mundo, Mateus passou pelas bandas da cantora gospel Tori Kelly e da britânica Jessie J. Se para boa parte dos músicos brasileiros parece um sonho distante tocar no Grammy esbarrando no backstage com as maiores estrelas da música, Mateus diz que a fase do “deslumbramento”, para ele, já passou.

“Quando comecei a tocar com a Tori, em 2015, tudo foi ‘uau’. Mas já estou nesse cenário, vamos dizer assim, internacional, há sete anos. Não que nada me impressione, mas já estou mais situado. Só que ao mesmo tempo, toda vez que eu paro para pensar, olho para trás assim e vejo as minhas raízes, converso com a minha família, meus amigos de Campo Grande, eu faço esse tipo de reflexão. Eles me remetem muito a isso, tipo ‘olha onde você tá, velho!’.” 

Por olhar para trás e ver as próprias raízes, entenda-se relembrar os primeiros acordes, que aprendeu com a mãe. “Ela tocava na igreja, e meu background foi totalmente esse. Fui criado ali, ficava escutando e aquilo meio que me motivou, aí comecei a tocar lá também.” 

Raízes no emo

Em 2010, aos 15 anos, assim como uma legião de adolescentes que passava o dia vendo MTV, tornou-se fã de emo. Um cover do Fresno que postou nas redes sociais agradou à banda, que o divulgou no Twitter.

Gee Rocha, do NX Zero, também o viu tocando e mostrou a Rick Bonadio, que fez uma proposta: “Como eu era menor de idade, fui com meus pais para São Paulo. Ele conversou comigo e propôs de eu trabalhar no estúdio e tocar com a Manu Gavassi, porque na época ele estava produzindo o disco dela. Mas meus pais acharam que eu não devia ir e fiquei muito chateado. Achava que tinha perdido a chance da minha vida”, relembra. 

Já pensando em trocar a carreira na música pela medicina, resolveu se inscrever em um concurso para guitarristas. Venceu e recebeu o conselho que mudaria sua trajetória. “Eram uns 800 guitarristas. Lancei a minha inscrição no último dia meio que sem pretensão nenhuma e acabou que eu ganhei. Os idealizadores tinham estudado em uma faculdade aqui em Los Angeles e me ligaram falando que conseguiam enxergar um talento em mim. Eles recomendaram que, se eu pudesse estudar fora, pra eu tentar”, conta.

Três anos (e muito trabalho para convencer os pais) depois, mudou-se para Los Angeles. Graduou-se no Musicians Institute. E, ironia do destino, vivendo a milhares de quilômetros de Campo Grande, celeiro de sertanejos, recebeu sua primeira proposta profissional para trabalhar com um… sertanejo. “O Dudu Borges, produtor do Luan Santana, me chamou para gravar um DVD acústico com ele. E foi muito legal.” 

A trajetória na música norte-americana começou a ser trilhada quando o diretor da escola em que estudava o indicou para uma audição para a banda de Tori Kelly. “Acabei sendo selecionado. E aí meio que eu consegui entrar na bolha [risos].” De lá, um amigo o indicou para a banda de Jessie J.

Namorado de Maju Trindade

Surpreso mesmo ele ficou quando, durante uma turnê com a dona do hit Price Tag, em 2018, viu Bruno Mars. “Eu estava tocando com a Jessie em festivais na Europa e em três deles o Bruno também tocaria. Aí, em um desses, na Bélgica, ele chegou mais cedo e assistiu ao show da Jessie. Quando acabou o nosso show, no camarim, o Bruno estava ali de boa, tranquilão. Eu estava com meu celular na mão, nunca tinha visto o cara, queria mostrar para a Maju, minha namorada [a influencer Maju Trindade], que ele estava ali. Só que ele estava me encarando, e eu pensei ‘deixa pra lá’.” 

E se começou o dia achando que faria um vídeo escondido, terminou ganhando elogios. Não sem antes achar que levaria uma bronca. “Ele veio com dois seguranças andando na minha direção. Aí eu falei ‘mano, ferrou’. Provavelmente esse cara vai falar ‘eu vi você hoje mais cedo, vi que você tava querendo filmar, deleta tudo’. Sei lá, alguma coisa assim. Só que ele chegou, bateu no meu ombro e falou ‘cara, vi o show de vocês, muito legal, acompanho também suas paradas lá no Instagram, os meninos mandam vídeo. Parabéns! Acho você tocando muito legal.” 

Um ano depois, foi chamado para a banda de Bruno Mars. Hoje, entre ensaios e mais ensaios, exigência do chefe perfeccionista, comemora a oportunidade. “Pouco antes de ser confirmado na turnê, eu estava lendo sobre a carreira dele. É muito consistente. São 10 anos com muitos sucessos. Quando comecei a trabalhar com o Bruno, eu tinha a certeza de que seria uma carga horária de trabalho muito intensa, mas ao mesmo tempo é muito legal, é muito inspiradora essa dedicação, a disciplina. Eu sou muito disciplinado, perfeccionista. Então, para mim, casou muito bem. E depois a gente olha o show e dá para entender o por quê.”

Mateus celebra também a chance de integrar um projeto como o Silk Sonic “porque acredito que não vai ser permanente. É algo temporário, então sei que ele é muito especial”. 

Disco solo nos planos

Com o fim da residência, em maio, ele parte para uma outra empreitada nobre: uma masterclass e seu primeiro disco solo. “Tô escrevendo em parceria com outras pessoas para depois a gente gravar tudo de uma vez, escolher as músicas. Eu pretendo fazer um mix com instrumental, que é o que a galera conhece do meu projeto, com músicas cantadas. E aí convidar pessoas pra cantar. Tipo o que o Carlos Santana faz. Eu respeito muito a carreira dele, você escuta a guitarrinha, você sabe que é o Santana. Quero muito atribuir isso para o meu trabalho.” 

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Marina Santa Clara

Marina Santa Clara

Marina Santa Clara é jornalista. Já trabalhou em jornal popular, site de notícias e fez assessoria de imprensa musical. Gosta de rap mas só consegue se atualizar sobre as novidades da música ouvindo as playlists do filho Martin, de 10 anos, no caminho da escola.

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