Divulgação/I Hate Flash
Em abril de 2012, o Lollapalooza chegava ao Brasil. De lá para cá, muita coisa mudou, do estilo dos line-ups à estrutura. Relembre como era o evento e o que esperar do retorno neste fim de semana
O Lollapalooza, que volta ao Autódromo de Interlagos a partir da próxima sexta-feira (25), chegou ao Brasil há dez anos. A data exata é 7 de abril de 2012, dia em que o festival, então realizado no Jockey Club paulistano, teve o Foo Fighters como primeiro headliner. Curiosamente —ou não—, Dave Grohl e companhia foram escalados para fechar a edição de 2022, no domingo.
A vida de todos nós mudou um bocado de lá para cá, e com o Lollapalooza Brasil não seria diferente. Marcado por perrengues e superlotação em sua estreia, o festival se mudou para o Autódromo —mais espaçoso, porém mais afastado do Centro de São Paulo—em 2014, onde permanece desde então. Naquele ano, também, o festival, criado em 1991 nos Estados Unidos pelo cantor Perry Farrell, passou a ser organizado na América do Sul pela Time for Fun, gigante do entretenimento brasileira.
As mudanças impactaram na estrutura do Lollapalooza, mas também nas escalações das atrações e na capacidade de público, que cresceu de 75 mil para 100 mil pessoas por noite. Para refrescar sua memória e seguir o aquecimento da próxima edição, a Tangerina faz um balanço do que mudou de 2012 para 2022.
Ter uma popstar como Miley Cyrus no topo do cartaz do Lollapalooza parecia um tanto improvável em 2012. Naquele ano, Foo Fighters e Arctic Monkeys foram as principais atrações do line-up, que praticamente ignorou o pop. A exceção foi o eletrônico do DJ Calvin Harris. Em 2013, o rock e o indie seguiram reinando: Pearl Jam, The Killers e The Black Keys (!) encabeçaram o cartaz, que ainda teve Queens of the Stone Age e Franz Ferdinand.
No ano seguinte, já sob a batuta da T4F e instalado no Autódromo, o festival permitiu algumas aberturas. Lorde, por exemplo, estreou no festival, assim como Ellie Goulding e Imagine Dragons, enquanto as atrações principais foram Muse e Arcade Fire. Já o de 2015, por sua vez, permitiu uma ousadia: o produtor e cantor Pharrell Williams trazia o megahit Happy para o Lollapalooza. Teve quem chiou, claro, mas isso não intimidou a organização. Em 2016, o festival teria seu primeiro rapper como headliner: Eminem, que dividia as atenções com Mumford and Sons, Tame Impala, Florence + The Machine e Snoop Dogg.
A porteira estava aberta, então a mistura seguiu em 2017. Metallica dividia público com The XX e Tove Lo; no outro dia, The Strokes e The Weeknd. É disso que o pop gosta!
Se 2018 não chegou a surpreender, o ano seguinte contou com Tribalistas como atração principal do primeiro dia, junto com o indie Arctic Monkeys e o pop Sam Smith. Foi a primeira vez que um artista brasileiro ocupou a primeira linha do festival. Aquela edição, a última que vivemos antes da pandemia, também teve Kendrick Lamar, Post Malone e Twenty One Pilots.
Assim chegamos a 2022, o ano em que teremos Miley Cyrus fechando o sábado, o dia mais badalado do festival.
As verdadeiras mudanças na estrutura do festival ocorreram após a mudança para o Autódromo de Interlagos
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A estreia do Lollapalooza Brasil não rendeu lá tão boas lembranças. A primeira edição do festival foi realizada no Jockey Club, em São Paulo. A chuva da madrugada e a que caiu durante o festival não deixaram o local tão atraente: quem compareceu ao evento teve que desviar dos lugares tomados pela lama e esterco de cavalo. Foram formadas poças enormes de lama que bloquearam a passagem do palco principal para o palco secundário. Quem foi desavisado, sem tênis ou capas de chuva, passou um perrengue enorme. A segunda edição do festival foi realizada no mesmo local, porém, teve essas questões menos escancaradas ao público. A partir de 2014, a organização anunciou a mudança de local: o Autódromo de Interlagos.
Na primeira edição no novo lugar, contudo, a superlotação somada à falta de estrutura impediram o público de se espalhar com conforto. Com mais de 150 mil pessoas no local, a distância entre os palcos foi a grande inimiga da edição. Para quem foi, era mais fácil escolher um palco para ficar e se contentar com as atrações dispostas ali. No segundo dia, porém, o problema foi razoavelmente contido. A distância entre os palcos da época não sofreram alterações, mas o percurso entre um e outro ficou muito mais rápido. Devido à quantidade de pessoas, as saídas pensadas pela organização também não facilitaram a volta para casa do público.
Na mesma edição, em 2014, um outro fator inusitado: embora ele tenha sido patrocinado por uma empresa de sistemas de pagamento, no início da tarde, a tecnologia parou de funcionar e foi difícil para o público encontrar um caixa com mais de uma máquina de cartão funcionando.
Em 2015, o fantasma da lama voltou a assombrar os fãs, porém, com um fator desagradável a mais. Com uma intensa chuva, o esgoto que corria ao ar livre na descida do Lolla Lounge, espaço VIP do festival, ultrapassou as estruturas do evento. Com isso, o odor ficou insuportável para qualquer um que passasse.
Em 2019, a chuva também atrapalhou a celebração, mas de um jeito mais abrupto. O festival precisou ser interrompido por mais de duas horas, diante de uma tempestade de raios, chuvas e ventos que impactava Interlagos. A organização também pediu para que o público se afastasse das estruturas metálicas, presentes praticamente no festival inteiro. Muita gente chegou a ir embora com medo da festa ser cancelada ou dos riscos serem maiores. Depois desse período inativo, as atividades retornaram com alguns atrasos e cancelamentos, mas o evento seguiu até o fim.
O Lolla Lounge reúne a gastronomia de diferentes lugares do mundo
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Perrengues à parte, a edição de 2014 do Lollapalooza acabou sendo marcante para os fãs pela inauguração de um novo espaço para as refeições, o Chef Stage. O galpão deu oportunidade ao público experimentar uma variedade de refeições feita por chefs renomados de São Paulo. O espaço comportava stands com cardápios variados, inspirados na culinária de diferentes nacionalidades.
Depois da loucura da estreia em Interlagos, no ano seguinte, o evento se mostrou muito mais organizado, com menos filas e mais comodidade para o público. O Chef Stage também passou por uma reforma na estrutura e teve o espaço aumentado, tendo assim mais opções de alimentação.
Outro ponto que marcou a história do festival,em 2015, foi a criação de uma moeda própria para ser utilizada no evento, os famosos Lolla Mangos. Cada um, contudo, valia R $2,50. O valor acabou confundindo um pouco a cabeça do público, que até comparou a invenção com o dólar (na cotação da época, a moeda norte-americana valia R$ 2,65).
Antes daquela edição, a organização disponibilizou uma cota de mangos para serem vendidos pelo site oficial. Assim, as filas enormes poderiam ser evitadas no dia do evento. Porém, a moeda fictícia não ter o valor equiparado ao do real não deixou os fãs muito confortáveis, porque eles precisavam fazer a conversão e, na correria do festival, isso causava confusão. Se a intenção era ajudar, acabou atrapalhando. Em 2016, o valor dos Lolla Mangos foi reajustado para o mesmo preço do real, o que tornou a compra do público muito mais fácil.
A verdadeira revolução da moeda do Lolla, contudo, veio com a pulseira Cashless, que chegou em 2017. Na época, o serviço utilizado para identificar, rastrear e gerenciar os produtos consumidos no festival e os dados de identificação de cada indivíduo presente ao festival. Além da pulseira ser indispensável para consumir qualquer coisa no Autódromo, ela também virou o passe de entrada. Naquele ano, a inovação substituiu o ingresso físico e a utilização de qualquer tipo de dinheiro no evento —e a tecnologia segue implantada no Lolla até hoje.
Para quem não se importa de pagar a mais para curtir um universo paralelo ao Lollapalooza, o Lolla Lounge de 2014 foi um destaque por ganhar mais atividades exclusivas. Quem comprou o passe mais caro teve redes de descanso e serviços de manicure e pedicure. Na hora da alimentação, o público tinha acesso a um buffet exclusivo preparado pelo chef Alex Atala. Patrocinada por uma marca a cada ano, o Lolla Lounge se consagrou como uma área VIP com open bar e food, after party, vista exclusiva para dois dos quatro palcos presentes no festival, e um telão enorme com transmissão do Multishow para acompanhar o festival. Em 2016, essa área contou com um estúdio de tatuagem e piscina de bolinhas, além de banheiros privados e guarda-volumes.
Até hoje, esse espaço é muito valorizado, mas, agora é majoritariamente reservado para atender famosos, influenciadores e convidados de marcas. A cada ano, a “regalia” do VIP só cresceu e é uma vantagem de serviços para quem consegue pagar valores exorbitantes.
O palco Perry passou por uma grande transformação com o passar das edições do Lollapalooza
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O Lollapalooza 2014 marca o início do comando da Time For Fun (TF4) como idealizadora oficial do evento. Com esse feito, o festival aumentou de cacife —e tamanho. O evento cresceu de 120 mil metros quadrados, em 2013, para 600 mil metros quadrados. Com isso, contudo, a distância entre os palcos ficou ainda maior: era necessário percorrer até 2,5 km de uma estrutura a outra —sem contar as subidas e descidas dos morros. Essa disposição prejudicou o fluxo do público, que tinha que subir e descer as pistas do autódromo guiados pelas vias estreitas definidas pela organização.
No ano seguinte, a situação melhorou. A organização criou um “corta caminho” com grades e pneus. Isso até facilitou o fluxo de pessoas, mas os palcos permaneceram distantes uns dos outros. Além dos palcos principais, o espaço de música eletrônica parece não ter sido planejado com tanta atenção. A partir de 2018, houve uma nova melhora. O Lollapalooza dedicou uma estrutura exclusiva para os fãs de música eletrônica, um upgrade gigantesco quando comparado às primeiras edições do evento.
Sendo assim, com o passar dos anos, pareceu mais fácil o festival funcionar mais harmonicamente no Autódromo de Interlagos. Internamente, a estrutura dos caixas, bares e de comidas funciona bem —diferentemente dos banheiros, que dificilmente têm manutenção ou limpeza apropriada.
A questão da entrada e saída do festival também se desenvolveu melhor. As vias externas ao Autódromo, em 2019, estavam bem sinalizadas, o que e facilitou o acesso ao público que foi ao festival de transporte público e até de táxi e aplicativos de viagem.
Mas o escoamento da saída continua sendo um ponto problemático, por conta da quantidade de pessoas que vão ao festival. A esperança é que, após dois anos sem Lollapalooza, haja um aprimoramento na estrutura e na organização. Assim, a experiência do público pode melhorar ainda mais. A conferir.
Nicolle Cabral
Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.
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