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Com Mr. Morale & the Big Steppers, novo álbum que chega ao streaming nesta sexta-feira, cantor que venceu o Pulitzer volta a ser assunto cinco anos depois de lançar o aclamado DAMN.
“Kendrick Lamar é o maior rapper do momento”. Dita pelo próprio cantor, a frase pode parecer arrogante, no entanto, para quem foi premiado com 14 Grammys (39 indicações, ao todo) e um Pulitzer, a coisa muda de cenário. Mas a estrela do hip-hop deixa todo o lado “valentão” nas letras e difere bastante dos seus colegas: nada de barulho nas redes sociais, polêmicas na vida pessoal ou ostentação fora do normal.
Kendrick Lamar é um homem pacato e deixa sua obra falar por si. Um exemplo é o seu prêmio Pulitzer na categoria de música, conquistado em 2018, pelo álbum DAMN. Segundo a Universidade de Columbia, que administra a premiação, o trabalho é “uma virtuosa coleção musical, que une sua autenticidade vernacular e seu dinamismo rítmico, oferecendo trilhas comoventes e que capturam a complexidade da vida moderna do afro-americano”. O Pulitzer de Kendrick foi o primeiro na categoria música para um trabalho fora do eixo música clássica ou ópera.
Assista ao Kendrick em HUMBLE
A música é uma das mais aclamadas do disco DAMN., assim como o clipe
Com Mr. Morale & the Big Steppers, seu novo álbum que chega ao streaming nesta sexta-feira (13), o cantor volta às discussões após cinco anos desde o lançamento do super aclamado DAMN. Mas também não é como se o cantor tivesse passado esse tempo todo parado, tivemos alguns trabalhos como, por exemplo, a soundtrack do filme Pantera Negra (2018) e algumas participações especiais, como na música Momma I Hit A Lick, do rapper 2 Chainz.
É estranho falar de um dos maiores rappers de todos os tempos, que alcançou seu auge na era das redes sociais, mas que vive completamente fora delas. É raro achar momentos em que o cantor fale sobre sua vida pessoal, principalmente no Instagram, onde acumula mais de 10 milhões de seguidores —mas só posta fotos de trabalho.
Esta falta de interação deixa muitos dos fãs ávidos por qualquer informação ou postagem do rapper. Para se ter uma ideia, no dia 18 de abril, Kendrick anunciou o lançamento do seu novo álbum, com direito a uma piadinha no Twitter. No dia seguinte, ele ganhou 30 mil novos seguidores.
Porém, Kendrick não quer se ver preso aos algoritmos e likes. Em entrevista pouco após o lançamento do disco Good Kid, M.A.A.D City (2012), o cantor falou sobre sua relação com o Twitter.
“Eu só quero me manter informado. Não quero que minha vida seja consumida pelas redes. Eu faço muito esforço para me conectar, eu quero ser uma pessoa real, não só o que as pessoas veem na TV”.
Até por conta desse jeito mais low profile, é raro ver o nome de Kendrick Lamar em sites de fofoca ou ligado a polêmicas da vida pessoal.
É bom deixar claro que, nas letras, o rapper não costuma se poupar de temas polêmicos. Alright, um dos seus maiores sucessos, virou o hino do movimento Black Lives Matter contra a violência policial nos EUA. Inclusive, dentro do movimento hip-hop, ele também costuma não arregar e, na canção Control, chegou a listar diversos nomes de rappers que ele considera inferiores.
Assista ao clipe de Alright
A canção é um hino para os ativistas do movimento negro
Sim, nada comparado aos anos 1990, quando rolava até episódios de tirar sarro com a mãe de outro artista, ou as incontáveis músicas de Eminem falando mal desde atriz famosa até jogador de futebol americano. Mas, para Kendrick, que é conhecido quase como um monge, qualquer fagulha é um fogaréu.
E, além de música, o que Kendrick gosta? De ajudar os seus. Cria de Compton, na Califórnia, cidade conhecida pela violência nos anos 1980 e 1990 e de onde saiu Eazy-E e Dr. Dre (sim, a cidade do Straight Outta Compton, do NWA), ele conviveu com muita violência na sua infância, mas também com muita arte. O rapper chegou a comentar que uma das suas principais memórias do passado foi acompanhar a gravação do videoclipe da música California Love, de 2Pac com Dr. Dre.
Para muito além da música, são vários os relatos de pessoas da comunidade ajudadas pelo cantor. Em 2015, ele doou US$ 50 mil para um projeto escolar de música.
Em entrevista à Rolling Stone, ele falou sobre seu lado mais introvertido e a paixão por ajudar o lugar de onde veio. “Cada um tem um lazer diferente, o meu não é beber, por exemplo. Eu bebo ocasionalmente. Eu gosto de ajudar meu povo, alguém que acabou de sair da cadeia e ver a cara dele quando vai para Nova York ou para fora do país. Isso é lazer para mim”.
Assista à entrevista de Kendrick Lamar
O registro faz parte de uma série documental gravada por Andy Capper
Foram cinco anos de espera por um novo trabalho e Kendrick Lamar foi cirúrgico no seu trabalho de esquenta pré-lançamento. Contando até com um pouco de sorte —ou coincidência.
Em agosto do ano passado, o cantor publicou uma carta dizendo que passava os dias “escrevendo”, “ouvindo” e que passava “meses sem telefone”. O cantor também anunciou que este seria seu último trabalho na Top Dawg Entertainment, gravadora com quem ele tem parceria desde 2005.
Em 2022, o cantor foi uma das estrelas do show do intervalo do Super Bowl. O evento, realizado na Califórnia, contou também com a apresentação de Dr. Dre, Snoop Dogg, 50 Cent, Mary J Blige e levantou suspeitas sobre o que Kendrick estava aprontando.
Via Instagram, ele postou uma carta (no melhor estilo Michael Jordan) anunciando a data e o nome do seu novo álbum.
No dia 3 de maio, chegaram mais spoilers: via site oficial, Kendrick publicou uma foto sentado, segurando um livro, onde é possível ler na capa o nome do álbum e, sobre o livro, surgem dois CDs, dando a indicação que seu próximo trabalho pode ser um álbum duplo.
E, para deixar o mundo ainda mais ansioso, Kendrick lançou o single The Heart Part. 5, investindo numa produção com a sua cara, misturando elementos de jazz com hip-hop, e seu flow marcante. O videoclipe também deixou muita gente de boca aberta, com o cantor se transformando em personalidades negras, como O.J. Simpson e Will Smith, através da tecnologia deep fake.
Assista ao clipe de The Heart Part 5
Trey Parker e Matt Stone, criadores de South Park, receberam agradecimentos especiais nos créditos da produção
Sobre produtores envolvidos e participações, vamos ter que esperar até sexta-feira (13). Mas, para quem já esperou cinco anos, até que o tempo deve passar rápido.
Guilherme Rocha
Guilherme Rocha é jornalista e escreve sobre cultura e música. Seu passatempo é contar histórias - em qualquer lugar, a qualquer hora.
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